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Thursday, May 30, 2013

A ARANHA - Hamilton Alves






                                                           Uma aranha pequenina, minha velha conhecida desde os tempos da infância, invadiu, nessa tarde, minha privacidade. Não vou descrevê-la porque todo mundo a conhece, de tão comum e rotineira que é sua presença por toda parte. É uma peralta. Quando tentei pegá-la (ou colocar meu dedo na sua travessia para trazê-la sem risco para um local mais seguro), quem disse que o agarraria? Evitava-o sempre, como se imaginasse que, se o fizesse, estaria em maus lençóis.
                                                           Insisti com outras estratégias, que não lograram sucesso. Pelo que resolvi abandonar meu intento de pegá-la.
                                                           Começou a dar pequenos saltos (que me lembraram o Homem Aranha), mudando de um lugar para outro, sem achar rumo certo.
                                                           Enquanto esperava uma ligação telefônica, me distrai observando-a. Houve um momento em que sumiu completamente. Devia ter se enfiado em algum lugar. Tinha até me ocupado com outras coisas. Afinal, que importância teria uma aranhazinha de nada?
                                                           Abri uma gaveta onde estavam uns textos, que precisava revisar.
                                                           Depois de concluído esse trabalho, que não me tomou muito tempo, eis que reaparece agora num plano reto, não mais numa vertical, como se exibira pouco antes, desafiando a lei da gravidade. Bem, para aranha não existe o fenômeno da gravidade. Ou de planos.
                                                           Reparava nos seus detalhes. Sempre simpatizei com esse tipo de aranhazinha. Tem uma cabecinha do tamanho de uma de alfinete, talvez até menor, seis perninhas. Tem uma mobilidade incrível, além do dom de saltar (saltos pequenos, bem verdade, não exatamente como o Homem Aranha, que, nesse item, é bem mais arrojado). 
                                                           Comecei a pensar que o autor do Homem Aranha (ou que o inventou) deve provavelmente ter se inspirado nessa diminuta aranha. Ela é uma espécie de Homem Aranha em miniatura. Tem praticamente todas as suas principais características.
                                                           Quando reapareceu a minha frente, recomecei uma perseguição, quis novamente encontrar uma solução para sair do beco sem saída em que se meteu. Fugira outra vez com uma facilidade espantosa.
                                                           Em cima de livros, entre papéis, procurara se alojar. A empregada podia sem querer lhe dar um golpe que lhe poderia ser fatal.
                                                           Redobrei meus esforços para dominá-la. Em vão. Tinha sempre um modo de escapar ou esconder-se. Coloquei as mãos em concha para não lhe permitir a menor chance de fugir. Deu um salto mortal por sobre a muralha erguida, ganhando a liberdade e se metendo onde não percebi.
                                                           Olhei o relógio. O tempo voava. Que se danasse (pensei). Tranquei a porta e saí.

(junho/10)

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