Uma
aranha pequenina, minha velha conhecida desde os tempos da infância, invadiu,
nessa tarde, minha privacidade. Não vou descrevê-la porque todo mundo a conhece,
de tão comum e rotineira que é sua presença por toda parte. É uma peralta.
Quando tentei pegá-la (ou colocar meu dedo na sua travessia para trazê-la sem
risco para um local mais seguro), quem disse que o agarraria? Evitava-o sempre,
como se imaginasse que, se o fizesse, estaria em maus lençóis.
Insisti
com outras estratégias, que não lograram sucesso. Pelo que resolvi abandonar
meu intento de pegá-la.
Começou
a dar pequenos saltos (que me lembraram o Homem Aranha), mudando de um lugar
para outro, sem achar rumo certo.
Enquanto esperava uma ligação telefônica,
me distrai observando-a. Houve um momento em que sumiu completamente. Devia ter
se enfiado em algum lugar. Tinha até me ocupado com outras coisas. Afinal, que
importância teria uma aranhazinha de nada?
Abri
uma gaveta onde estavam uns textos, que precisava revisar.
Depois
de concluído esse trabalho, que não me tomou muito tempo, eis que reaparece
agora num plano reto, não mais numa vertical, como se exibira pouco antes,
desafiando a lei da gravidade. Bem, para aranha não existe o fenômeno da gravidade.
Ou de planos.
Reparava
nos seus detalhes. Sempre simpatizei com esse tipo de aranhazinha. Tem uma
cabecinha do tamanho de uma de alfinete, talvez até menor, seis perninhas. Tem
uma mobilidade incrível, além do dom de saltar (saltos pequenos, bem verdade,
não exatamente como o Homem Aranha, que, nesse item, é bem mais arrojado).
Comecei
a pensar que o autor do Homem Aranha (ou que o inventou) deve provavelmente ter
se inspirado nessa diminuta aranha. Ela é uma espécie de Homem Aranha em miniatura. Tem
praticamente todas as suas principais características.
Quando reapareceu a
minha frente, recomecei uma perseguição, quis novamente encontrar uma solução
para sair do beco sem saída em que se meteu. Fugira outra vez com uma facilidade
espantosa.
Em cima de
livros, entre papéis, procurara se alojar. A empregada podia sem querer lhe dar
um golpe que lhe poderia ser fatal.
Redobrei
meus esforços para dominá-la. Em
vão. Tinha sempre um modo de escapar ou esconder-se. Coloquei
as mãos em concha para não lhe permitir a menor chance de fugir. Deu um salto
mortal por sobre a muralha erguida, ganhando a liberdade e se metendo onde não
percebi.
Olhei
o relógio. O tempo voava. Que se danasse (pensei). Tranquei a porta e saí.
(junho/10)
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