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Monday, May 20, 2013

A ARTE DE SER HOMEM - Hamilton Alves




                                                                      
                                                           Estava lendo num fim de noite desses um livro de crônicas de Paulo Mendes Campos sobre tantos temas interessantes, sobre os bares que conheceu pelo mundo a fora, contando que na cidade alemã de Gottingen chegou ao hotel, perguntou ao gerente onde àquela hora adiantada da noite podia encontrar um bar para se tomar um trago.
                                                           O gerente lhe disse que em Gottingen (em que Paulo chegara com um amigo brasileiro e outro alemão), de uma comunidade composta de estudantes universitários, àquela hora, não podia ter, evidentemente, nenhum lugar aberto a pessoas que desejassem beber.
                                                           Do alto de sua experiência de velho bebedor, Paulo lhe retrucou que em qualquer lugar do mundo se encontram duas pessoas que, em algum boteco ou espaço, estarão bebendo.
                                                           Em companhia dos dois amigos se propôs a provar esse princípio. Numa rua meio sombria, em que aparecia um cubo iluminado, mais parecendo placa de barbearia de cidade do interior do Brasil, descobriu, atrás de uma porta de carvalho (presumivelmente desse nobre madeiro), um cheiro etílico e risos e música – e comprovou a verdade de sua teoria. Várias pessoas jovens se entretinham bebendo e dançando.                        
                                                           Fala de bebedores célebres, Hemingway, Humphrey Bogart, que dizia que “todo homem sempre está três doses abaixo do normal” - e Hemingway que “só os barmen e os jockeys são gente polida”.
                                                           Mas a pergunta que desejo formular neste pequeno espaço de uma crônica é: que é ser homem?
                                                           Algumas pessoas são apenas meros projetos de homens. Nunca chegam a ser verdadeiramente homens. Conheci, nas minhas andanças por este mundo, alguns homens verdadeiros (não gosto da palavra autênticos).
                                                           Que é, afinal, um homem verdadeiro?
                                                           Acho que posso definir tal homem como uma espécie ao mesmo tempo de mágico e santo. Que saiba das coisas, pouco importa que seja um artista, um bêbado, um louco ou coisa equivalente.
                                                           Que esteja sempre pronto a confraternizar, a perdoar, a amar, a dizer tolices, a inventar ou a contar histórias idas e vividas, que não seja amargo nem tedioso, que seja em tudo uma boa praça, tenha uma boa conversa, pregue umas mentiras bem pregadas, saiba de uma receita de um bom prato, tenha andado extraviado em alguma grande e bela cidade do mundo, hospedando-se em espeluncas por todos os lugares em que andou, amou e sofreu, que saiba tocar violão ou qualquer instrumento de ouvido, que seja capaz de improvisar oralmente um belo poema, que saiba consolar um amigo ou uma mulher em qualquer momento de crise.
                                                           A lista vai longe já. Mas o homem verdadeiro é sempre um projeto incompleto. Deus não fez nada perfeito neste mundo.

(abr/10)
                                                          

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