Voltando ao centenário
de Beckett, em toda
a parte (e aqui
mesmo no Brasil) suas
peças (Rio e São
Paulo e numa ou noutra capital ) voltarão
ao palco . Seus
livros , com
as peças e novelas
conhecidíssimas, Malone Morre, Murphy, O Inominável
e outras estão sendo lançadas pela Cosac
Naify. Malone Morre foi traduzida pelo poeta Paulo Leminsky, que
se apaixonou por esse
texto , escrevendo-lhe um belíssimo posfácio .
Atribui-se a essa paixão o fato de ter escrito “Catatau ”,
que segue na mesma
linha de Malone Morre. Pelo
menos , o espírito
é o mesmo : um
texto descontínuo ,
improvisado, sem enredo
definido .
Esperando Godot foi encenado no
Brasil por Cacilda Becker e Walmor Chagas , em 1968, com
direção primorosa de Flávio Rangel. Num dos espetáculos , Cacilda foi acometida de um aneurisma, em
plena ação ,
vindo a falecer .
Conta-se a respeito
de Beckett que era
um homem
de trato difícil ,
pouco aberto
ao papo e muito
menos a dar explicações sobre
sua obra
literária .
Conheceu Joyce em
Paris. As más línguas referem que foi secretário
de Joyce, o que ouvia com certa irritação , pois por essa época vagabundeava
por Paris, sem
plano determinado
de vida , a não
ser que a qualquer custo
pretendia ser escritor .
A trilogia
famosa de novelas ,
Malone Morre, Molloy e Murphy guardam o mesmo
estilo . Histórias
sem enredo , sem sequência, sem
começo , sem
meio e sem
fim . Um
texto aberto dentro dos padrões
do “nouveau roman”, mas de outra linha conceptual . Beckett primava por
não ser
parecido com ninguém .
A esse respeito ,
escreveu um texto ,
logo no início
da carreira , que ,
comentando-o para amigos, disse: “Fede demais a Joyce”.
A influência
sofrida do conterrâneo ilustre foi grande
no início , da qual
pouco a pouco
procurou se livrar . Tinha
o secreto desejo
de suplantá-lo, mas quando
muito pode rivalizar
com ele .
Com a diferença
de que o texto
de Beckett é acessível a qualquer pessoa , o mesmo não
ocorrendo com Joyce, que exige certa
erudição para
ser bem assimilado.
A peça
“Esperando Godot” foi (e assim é até hoje
considerada) seu carro-chefe. Também é considerada a obra
que lhe
abriu as portas da Academia
da Suécia, que lhe
deu a láurea do Prêmio
Nobel de literatura .
Beckett teve uma mãe rígida , que lhe
inculcou a fé protestante. Diferente de Joyce, que
enxovalhava a psicanálise , Beckett para desvencilhar-se de um
complexo de Édipo qualquer ,
recorreu, em Paris, a psicanalistas . Leu muito
os teóricos de psicanálise ,
com Freud e Jung à frente .
No fundo ,
Beckett era , como
a maioria dos seres
humanos , atormentado pela ideia de Deus , ainda que não cresse em Sua existência explicitamente.
O teatro
de Beckett é considerado de vanguarda ,
no que rivaliza com
outro monstro sagrado ,
Eugène Ionesco, que , com a peça “A Cantora
Careca ”, alcançou grande
sucesso mundial, mantendo-se em cartaz , só em Paris, por trintas anos
ininterruptos , num pequeno
teatro em
Montmartre.
“Esperando Godot” talvez seja a peça
mais simples
no tocante ao cenário :
uma árvore desfolhada de fundo , um palco vazio e nada mais .
Há dois outros dramaturgos
que tentaram (ou
tentam) disputar com
Beckett e Ionesco a primazia do “podium”
de melhor dramaturgo
do século XX. São
Harold Pinter, na Inglaterra, e Edward Albee, autor
de “Quem tem medo
de Virgínia Wolff” (americano ).
Pinter e Albee vêm depois , muito
de perto .
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