O CÃO NOTURNO
Hamilton Alves
No fundo da noite
à distância ladra
um cão que desperta
outros cães próximos.
Súbito, ouvem-se três
ou quatro a ladrar
por toda a vizinhança
num festival sem fim.
A noite vai longe já
e os cães noturnos
como que enlouquecidos
não param de ladrar.
No silêncio da casa
fico a ouvir esse
descosido rumor que
vem das distâncias.
O uivo dos cães à noite
soa-me como uma espécie
de estrépito ensandecido
e no entanto bem-vindo.
Ainda se ouve algum latido
de um cão mais renitente
mas de repente o silêncio
a todas as coisas permeia.
Com um livro à mão
dou-me conta com vaga
tristeza: só o silêncio
ladra como um cão noturno.
No comments:
Post a Comment