Eduardo
Dias foi inegavelmente um dos nossos maiores pintores e, na palavra de Marques
Rebelo, escritor carioca, um dos precursores do modernismo no Brasil. Isso ouvi
o próprio Marques Rebelo dizer numa palestra no MAMF (Museu de Arte Moderna de
Florianópolis), que ficava nos altos da Rua Tenente Silveira, num prédio antigo
muito bonito, que, claro, por isso mesmo, pôs-se abaixo. Diz-se que não se pode
opor resistência ao progresso, mas se pode opô-la à burrice.
Gilberto
Gerlach (embora muito pouco nos tenhamos dado a conhecer ou de pouquíssima
aproximação) lançou um livro há pouco que é um marco em matéria de bibliografia
sobre a história de São José (estou para adquirir um exemplar). Na capa, foi
estampado um quadro retratando São José daquela época, de Eduardo, conservando
quase o mesmo casario que ainda está intacto. Por falar nisso, soube que há dias
incendiou-se um daqueles belos prédios. Até que ponto vai a incúria da
administração pública, a mesma que levou o prédio do Mercado Publico a pegar
fogo. Não custa nada fazer-se uma vistoria nas instalações elétricas para ver
se tudo está em ordem. Mas
cadê boa vontade? Ou responsabilidade?
Desvio-me
do assunto desta crônica, que é Eduardo Dias.
Conheci-o
em seu atelier da Praça XV numa casa que resiste ainda a esses tempos de vandalismo,
em que se perde dia a dia mais contato com a memória da cidade, com a derrubada
de prédios de linha arquitetônica ligada à colonização açoriana. A esse tempo,
Eduardo era já um velhinho, com cabelos brancos grandes e amplos, típico de um
artista do pincel, às voltas com suas telas, espalhadas pelos quatro campos. Ouvia
dizer que Eduardo trocava algumas telas, pintadas em tocos de troncos de
árvores, por uma média de café com leite com pão com manteiga no antigo Café
Java, que depois se chamou Nacional e depois sumiu. Ali, hoje, é uma farmácia,
na esquina da Felipe Schmidt com Praça XV.
Nunca
trocamos uma palavra (eu era a bem dizer um gurizote). Olhava as telas.
Deveriam ser belíssimas, dado o fato reconhecido então de ser Eduardo já um
pintor admirado, não tão valorizado, certamente, devido ao atraso cultural da
época em que viveu. Para sobreviver pintava paredes.
O
quadro de Eduardo, que Gerlach me mandou uma cópia, retratando São José (em
forma de convite para o lançamento de seu livro), é bem a revelação de seu
enorme talento. Como pode usar diferentes nuances de cores para distinguir uma
qualidade de luz de outra? Os recursos, à época, quanto ao uso de tintas,
deviam ser muito difíceis.
Dizer
que Eduardo, com esse quadro (e outros famosos dele), lembra o famoso grupo
paulista, formado por Volpi, Rebolo, Tarsila, Anita Malfatti e outros, não é, a
meu ver, suficiente para dar uma precisa idéia de sua importância. Ele não só
se iguala como supera de certo modo esse grupo.
E
a dizer-se que dois escritores ilhéus, Chico Pereira e Amilcar Neves, tentaram
resgatar num livro a figura de Eduardo Dias e tudo que conseguiram foi uma
decisão judicial impedindo a obra de circular!
Bem,
apesar de tudo isso, Eduardo Dias tem tal grandeza que nada conseguirá apagá-la
e que só aumenta com o passar do tempo.
(abril/08)
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