Total Pageviews

Monday, January 30, 2017

UM HOMEM EM DIA COM OS NOVOS TEMPOS – Hamilton Alves





                                               Posso dizer, finalmente, que sou um homem ajustado a seu tempo. Não tão ajustado que não deva aprofundar minha inserção nesse mundo em que vivemos de alta tecnologia. Ainda me falta muito para chegar lá. Mas para quem supunha ter inteira ojeriza pelo computador (nunca julguei que um dia capitularia a tantos apelos feitos por filhos e amigos), até que estou me saindo razoavelmente bem. Nos primeiros momentos (é como quem começa a aprender a dirigir automóvel) dizia-me:
                                               - Nunca vou aprender a lidar com esse troço.
                                               A princípio, atendendo a conselhos dos que já tinham avançado bastante nos mistérios da computação, aceitei contratar uma professora. Uma senhora até muito simpática, bem falante. Além do mais, paciente com as minhas mancadas iniciais. Certo dia, na terceira ou quarta aula, fui-lhe sincero:
                                               - Acho que a senhora está perdendo tempo comigo. Não vou aprender jamais a lidar com essa máquina.
                                               Foi quando amavelmente replicou:
                                               - Todos dizem a mesma coisa. Outros alunos meus, que hoje são feras, me confessaram no início que teriam a mesma dificuldade.  E no entanto...
                                               Mas fui fundo em minha descrença:
                                               - Mas comigo é diferente. A senhora está tratando com alguém que, de velha data, tem especial ojeriza por máquina seja de que tipo for. Nem sei como aprendi a datilografar as máquinas comuns.
                                               Mas ela não se convenceu com meus argumentos e declarou, alto e bom som, que eu levava jeito. E não apenas isso, mas que em pouco tempo, com mais algumas aulinhas, aprenderia o necessário.
                                               Continuei cético.
                                               O problema todo é que jamais me imaginaria fazendo aquelas diabruras que fazia no teclado ou nas referências inúmeras do computador. Coloquei-lhe tal questão. Mas sempre animada disse:
                                               - Tem gente que aprende sozinha sem auxílio de professor de tão fácil e simples é o manejo do computador.
                                               - Mas aí trata-se de um caso de genialidade e não me tenho na conta de gênio.
                                               Ela deu uma ampla risada.
                                               Os dias se passaram. Como me pareceu invencível aprender a lidar com o tal aparelho, expliquei para a professora que ia dar um tempo para fazer uma avaliação, que me desculpasse, etc.
                                               Parece ter se conformado com minhas alegações. Prometi-lhe que, se voltasse atrás na minha decisão e quisesse reiniciar um novo período de aulas, contratá-la-ia de novo.
                                               Não sou o que se pode chamar de um craque. Longe disso. Mas aprendi o que, para mim, é o essencial: mandar recados, abrir a página do e-mail. Isso passou a constituir uma atração. Já digito meus textos e os remeto. Parece-me o suficiente. Para que ir mais adiante?
                                               Para quem temia não conseguir nada, acredito que avancei bastante.  
                                               O pior de tudo é que me tornei um dependente da computação. Esse é o grande mal que aguarda a cada um dos que se propuserem a descobrir os pequenos e grandes mistérios dessa tralha.
                                               Woody Allen afirmou outro dia que continua fiel a sua máquina de escrever convencional, com a qual redige seus roteiros. Antonio Callado foi outro que recuou depois de algumas tentativas frustradas de lidar com computador. Outros agiram da mesma maneira.
                                               Por que traí esses companheiros no repúdio a essa máquina?                         


No comments:

Post a Comment