Posso
dizer, finalmente, que sou um homem ajustado a seu tempo. Não tão ajustado que
não deva aprofundar minha inserção nesse mundo em que vivemos de alta
tecnologia. Ainda me falta muito para chegar lá. Mas para quem supunha ter
inteira ojeriza pelo computador (nunca julguei que um dia capitularia a tantos
apelos feitos por filhos e amigos), até que estou me saindo razoavelmente bem.
Nos primeiros momentos (é como quem começa a aprender a dirigir automóvel)
dizia-me:
-
Nunca vou aprender a lidar com esse troço.
A
princípio, atendendo a conselhos dos que já tinham avançado bastante nos
mistérios da computação, aceitei contratar uma professora. Uma senhora até
muito simpática, bem falante. Além do mais, paciente com as minhas mancadas
iniciais. Certo dia, na terceira ou quarta aula, fui-lhe sincero:
-
Acho que a senhora está perdendo tempo comigo. Não vou aprender jamais a lidar
com essa máquina.
Foi
quando amavelmente replicou:
-
Todos dizem a mesma coisa. Outros alunos meus, que hoje são feras, me
confessaram no início que teriam a mesma dificuldade. E no entanto...
Mas
fui fundo em minha descrença:
-
Mas comigo é diferente. A senhora está tratando com alguém que, de velha data,
tem especial ojeriza por máquina seja de que tipo for. Nem sei como aprendi a datilografar
as máquinas comuns.
Mas
ela não se convenceu com meus argumentos e declarou, alto e bom som, que eu
levava jeito. E não apenas isso, mas que em pouco tempo, com mais algumas
aulinhas, aprenderia o necessário.
Continuei
cético.
O
problema todo é que jamais me imaginaria fazendo aquelas diabruras que fazia no
teclado ou nas referências inúmeras do computador. Coloquei-lhe tal questão.
Mas sempre animada disse:
- Tem gente
que aprende sozinha sem auxílio de professor de tão fácil e simples é o manejo
do computador.
-
Mas aí trata-se de um caso de genialidade e não me tenho na conta de gênio.
Ela
deu uma ampla risada.
Os
dias se passaram. Como me pareceu invencível aprender a lidar com o tal
aparelho, expliquei para a professora que ia dar um tempo para fazer uma
avaliação, que me desculpasse, etc.
Parece
ter se conformado com minhas alegações. Prometi-lhe que, se voltasse atrás na
minha decisão e quisesse reiniciar um novo período de aulas, contratá-la-ia de
novo.
Não
sou o que se pode chamar de um craque. Longe disso. Mas aprendi o que, para
mim, é o essencial: mandar recados, abrir a página do e-mail. Isso passou a
constituir uma atração. Já digito meus textos e os remeto. Parece-me o
suficiente. Para que ir mais adiante?
Para
quem temia não conseguir nada, acredito que avancei bastante.
O
pior de tudo é que me tornei um dependente da computação. Esse é o grande mal
que aguarda a cada um dos que se propuserem a descobrir os pequenos e grandes
mistérios dessa tralha.
Woody
Allen afirmou outro dia que continua fiel a sua máquina de escrever
convencional, com a qual redige seus roteiros. Antonio Callado foi outro que
recuou depois de algumas tentativas frustradas de lidar com computador. Outros
agiram da mesma maneira.
Por
que traí esses companheiros no repúdio a essa máquina?
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