Soube
através da imprensa do falecimento de dois amigos, com os quais privei em
diferentes épocas de minha vida. Trata-se de Márcio Collaço e de Sílvio Coelho dos
Santos. O primeiro advogado (não militante), mas professor de Direito Constitucional,
em certa época, da Faculdade de Direito da UFSC, e, depois, diretor do Tribunal
Regional Eleitoral, cargo que exerceu durante largo período. Minha aproximação
mais íntima de Márcio se deu no ginásio (Colégio Catarinense), onde éramos
alunos da mesma classe (3º. ano C), famosa série integrada por vários colegas
inesquecíveis, alguns dos quais, como dizia Machado de Assis, foram já conhecer
a geologia dos campos. Márcio era um aluno mediano como nós todos do 3º. C, que
era composto, diga-se de passagem, de uma turma marcadamente virada da breca.
Márcio era dotado de um tipo meio irrequieto quando adolescente. Mas quando
chegou à maturidade operou-se nele uma profunda transformação. Passou a
mostrar-se uma pessoa recolhida e sisuda. Éramos adversários no campeonato da Linguinha.
Ele era capitão de um time com o nome de Corinthians, enquanto eu o era do
Universal, de cujos integrantes sou capaz de citar um por um, destacando-se na
becaria Léo Xavier, meu dileto amigo e médico. Num dos últimos anos em que
estive no Catarinense, em que o certame de futebol foi disputado por ambas
essas equipes, sagramo-nos campeões. Era corriqueiro receber-se uma medalha por
isso. Nem me lembro de que matéria era feita. Creio que era de cobre. Não a
recebi porque fui reprovado. Claro, não havia como estabelecer relação entre
uma coisa e outra, mas assim era a regra. Mudá-la, àquela época, como tantas
outras, de que jeito?
Márcio
era bom de bola. Digo-o para encerrar, sobre ele, esse breve necrológio.
Sílvio
foi outro amigo que sempre admirei mais à distância. Nunca chegamos a ser muito
próximos, mas em várias ocasiões, uma das quais em sua casa, quando me recebeu
afavelmente (nem me lembro o motivo dessa visita), trocamos algumas idéias sobre
vários temas. Era antropólogo e, por via desse ofício, ligado às venturas e
desventuras de nossos índios, a cujo estudo se dedicou sempre com muito
interesse.
Deu-me
de presente o último livro que editou sob o título “Ensaios Oportunos”, Editora
Nova Letra, com uma bela dedicatória: “Ao Hamilton, companheiro de vida e de
esperanças, com o abraço amigo de Sílvio Coelho dos Santos, Fpolis., 21/02/08”.
Curioso
que, hoje, de manhã, ao acabar de ler um dos ensaios desse livro, procurei o
telefone do Sílvio para lhe cumprimentar. Não o achei. Fui ao auxílio da companhia
telefônica, mas recebi a informação que, com a mudança de meu telefone há pouco
feita, a empresa que prestava esse serviço me informou que por causa disso não
me podia mais prestá-lo.
Fiquei
meio pesaroso de não poder comunicar ao Sílvio a fortíssima impressão que esse
ensaio me causara, pois nele relata a desapiedada e nefanda matança de pequena
comunidade indígena pelos homens brancos colonizadores da área que habitavam, a
troco da exploração comercial de terras. Até crianças (conta Sílvio) não
escapavam de morrer sob facão ou mesmo com os disparos de tiros de winchester,
com às vezes calibre 38.
Sílvio
comparecia de quando em quando com belíssimos artigos na imprensa local, onde
revelava um estilo próprio e límpido, qualidade que marca essa obra de ensaios.
Era uma pessoa simples, sem alardear seu talento, sua competência, seu grande prestígio
dentro e fora do país por outros companheiros de profissão.
Ficamos
todos de luto com o passamento desses dois homens que, cada um a seu modo,
deram inegável contribuição cultural e de serviços prestados ao nosso Estado.
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