Total Pageviews

Thursday, November 3, 2016

DOIS AMIGOS - Hamilton Alves




                                               Soube através da imprensa do falecimento de dois amigos, com os quais privei em diferentes épocas de minha vida. Trata-se de Márcio Collaço e de Sílvio Coelho dos Santos. O primeiro advogado (não militante), mas professor de Direito Constitucional, em certa época, da Faculdade de Direito da UFSC, e, depois, diretor do Tribunal Regional Eleitoral, cargo que exerceu durante largo período. Minha aproximação mais íntima de Márcio se deu no ginásio (Colégio Catarinense), onde éramos alunos da mesma classe (3º. ano C), famosa série integrada por vários colegas inesquecíveis, alguns dos quais, como dizia Machado de Assis, foram já conhecer a geologia dos campos. Márcio era um aluno mediano como nós todos do 3º. C, que era composto, diga-se de passagem, de uma turma marcadamente virada da breca. Márcio era dotado de um tipo meio irrequieto quando adolescente. Mas quando chegou à maturidade operou-se nele uma profunda transformação. Passou a mostrar-se uma pessoa recolhida e sisuda. Éramos adversários no campeonato da Linguinha. Ele era capitão de um time com o nome de Corinthians, enquanto eu o era do Universal, de cujos integrantes sou capaz de citar um por um, destacando-se na becaria Léo Xavier, meu dileto amigo e médico. Num dos últimos anos em que estive no Catarinense, em que o certame de futebol foi disputado por ambas essas equipes, sagramo-nos campeões. Era corriqueiro receber-se uma medalha por isso. Nem me lembro de que matéria era feita. Creio que era de cobre. Não a recebi porque fui reprovado. Claro, não havia como estabelecer relação entre uma coisa e outra, mas assim era a regra. Mudá-la, àquela época, como tantas outras, de que jeito?
                                               Márcio era bom de bola. Digo-o para encerrar, sobre ele, esse breve necrológio.
                                               Sílvio foi outro amigo que sempre admirei mais à distância. Nunca chegamos a ser muito próximos, mas em várias ocasiões, uma das quais em sua casa, quando me recebeu afavelmente (nem me lembro o motivo dessa visita), trocamos algumas idéias sobre vários temas. Era antropólogo e, por via desse ofício, ligado às venturas e desventuras de nossos índios, a cujo estudo se dedicou sempre com muito interesse.
                                               Deu-me de presente o último livro que editou sob o título “Ensaios Oportunos”, Editora Nova Letra, com uma bela dedicatória: “Ao Hamilton, companheiro de vida e de esperanças, com o abraço amigo de Sílvio Coelho dos Santos, Fpolis., 21/02/08”.
                                               Curioso que, hoje, de manhã, ao acabar de ler um dos ensaios desse livro, procurei o telefone do Sílvio para lhe cumprimentar. Não o achei. Fui ao auxílio da companhia telefônica, mas recebi a informação que, com a mudança de meu telefone há pouco feita, a empresa que prestava esse serviço me informou que por causa disso não me podia mais prestá-lo.
                                               Fiquei meio pesaroso de não poder comunicar ao Sílvio a fortíssima impressão que esse ensaio me causara, pois nele relata a desapiedada e nefanda matança de pequena comunidade indígena pelos homens brancos colonizadores da área que habitavam, a troco da exploração comercial de terras. Até crianças (conta Sílvio) não escapavam de morrer sob facão ou mesmo com os disparos de tiros de winchester, com às vezes calibre 38.
                                               Sílvio comparecia de quando em quando com belíssimos artigos na imprensa local, onde revelava um estilo próprio e límpido, qualidade que marca essa obra de ensaios. Era uma pessoa simples, sem alardear seu talento, sua competência, seu grande prestígio dentro e fora do país por outros companheiros de profissão.
                                               Ficamos todos de luto com o passamento desses dois homens que, cada um a seu modo, deram inegável contribuição cultural e de serviços prestados ao nosso Estado.

                                                           

No comments:

Post a Comment