Dudu
morreu. Dizer isso assim, com essa aparente frieza, parece dar a entender que
morrer, mesmo que se trate de um cão, é coisa que temos de encarar com
naturalidade ou como uma consumação inescapável da condição mesma de ser vivo.
Mas
há evidentemente mortes e mortes.
No
primeiro momento em que as pessoas que amavam Dudu ficaram em desespero,
julgou-se tratar de envenenamento. Depois, com mais vagar, aceitando-se a
realidade dura dos fatos, constatou-se que a morte poderia ter sido decorrente
de outros fatores. Uma pessoa entendida em cães colocou a hipótese de um problema
cardíaco.
- Isso ocorre frequentemente. – disse ele.
O motivo pelo qual Dudu morreu não nos aliviou a dor de
perdê-lo.
Quando
disse que há mortes e mortes quis dizer que uma coisa é morrer quando há uma
causa que o determine, outra quando isso acontece inesperadamente, sem que haja
essa causa que a todos põe de sobreaviso.
Dudu
era um cachorrinho guapeca (foi pegado numa ninhada de quatro, deixados por uma
cadela desconhecida numa praia). Foi colhido por sua dona que o trouxe e o
introduziu no meio da família, recebido alegremente por duas meninas, que
passaram, desde então, a adorá-lo e a tratá-lo como se fora um cão de linhagem nobre,
com grande pedigree. A origem de Dudu era a mais humilde, mas nem por isso
deixou de ser considerado, desde que se integrou a essas pessoas, como um
fidalgo, com direito a todas as mordomias: uma casinhola de madeira, que sempre
recusou, amante da rua, ração especial, consultas a veterinários, etc.
Dudu
retribuía tudo isso com muitos afagos, notadamente quando as meninas chegavam ao
fim das tardes da escola. Fazia-se uma arruaça entre eles. O cãozinho pulava,
alegre, que dava gosto ver.
Eu
mesmo, que não lhe era muito chegado ou de modo algum o tratava com toda essa
deferência, tinha um bom relacionamento com ele e, quando podia, o acariciava.
Na
última noite fria, quando a temperatura baixou muito, recomendei que fosse
colocado dentro de casa. Talvez se ressentisse do excessivo frio e pudesse ter
qualquer complicação pulmonar ou coisa parecida.
Terá
sido o frio a causa de sua morte?
Ou
foi envenenado?
Não
se sabe.
O
senhor, que comentou que poderia ser problema cardíaco, porque isso, em
cachorro, é comum (no dizer dele) é que levantou um pouco a suspeita de ter
sido envenenado.
Para
pânico geral, Dudu amanheceu morto.
Houve
muita tristeza.
O
cachorrinho era muito amado de todos.
Enterramo-lo
no quintal da casa.
Desejamos
que esteja no gozo da paz reservada a todos os cães. Dudu bem o merece por ter
nos propiciado tantas horas felizes.
(junho/08)
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