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Friday, November 18, 2016

DUDU - Hamilton Alves





                                               Dudu morreu. Dizer isso assim, com essa aparente frieza, parece dar a entender que morrer, mesmo que se trate de um cão, é coisa que temos de encarar com naturalidade ou como uma consumação inescapável da condição mesma de ser vivo.
                                               Mas há evidentemente mortes e mortes.
                                               No primeiro momento em que as pessoas que amavam Dudu ficaram em desespero, julgou-se tratar de envenenamento. Depois, com mais vagar, aceitando-se a realidade dura dos fatos, constatou-se que a morte poderia ter sido decorrente de outros fatores. Uma pessoa entendida em cães colocou a hipótese de um problema cardíaco.
- Isso ocorre frequentemente. – disse ele.
O motivo pelo qual Dudu morreu não nos aliviou a dor de
 perdê-lo.              
                                               Quando disse que há mortes e mortes quis dizer que uma coisa é morrer quando há uma causa que o determine, outra quando isso acontece inesperadamente, sem que haja essa causa que a todos põe de sobreaviso.
                                               Dudu era um cachorrinho guapeca (foi pegado numa ninhada de quatro, deixados por uma cadela desconhecida numa praia). Foi colhido por sua dona que o trouxe e o introduziu no meio da família, recebido alegremente por duas meninas, que passaram, desde então, a adorá-lo e a tratá-lo como se fora um cão de linhagem nobre, com grande pedigree. A origem de Dudu era a mais humilde, mas nem por isso deixou de ser considerado, desde que se integrou a essas pessoas, como um fidalgo, com direito a todas as mordomias: uma casinhola de madeira, que sempre recusou, amante da rua, ração especial, consultas a veterinários, etc.
                                               Dudu retribuía tudo isso com muitos afagos, notadamente quando as meninas chegavam ao fim das tardes da escola. Fazia-se uma arruaça entre eles. O cãozinho pulava, alegre, que dava gosto ver.
                                               Eu mesmo, que não lhe era muito chegado ou de modo algum o tratava com toda essa deferência, tinha um bom relacionamento com ele e, quando podia, o acariciava.
                                               Na última noite fria, quando a temperatura baixou muito, recomendei que fosse colocado dentro de casa. Talvez se ressentisse do excessivo frio e pudesse ter qualquer complicação pulmonar ou coisa parecida.
                                               Terá sido o frio a causa de sua morte?
                                               Ou foi envenenado?
                                               Não se sabe.
                                               O senhor, que comentou que poderia ser problema cardíaco, porque isso, em cachorro, é comum (no dizer dele) é que levantou um pouco a suspeita de ter sido envenenado.
                                               Para pânico geral, Dudu amanheceu morto.
                                               Houve muita tristeza.
                                               O cachorrinho era muito amado de todos.
                                               Enterramo-lo no quintal da casa.
                                               Desejamos que esteja no gozo da paz reservada a todos os cães. Dudu bem o merece por ter nos propiciado tantas horas felizes.   


(junho/08)


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