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Tuesday, November 15, 2016

DUCHAMP - Hamilton Alves




                                   A obra de Marcel Duchamp vem sendo polemizada desde seu surgimento na cena artística. Ainda há dias li uma resenha de jornal em que se punha em xeque o ready-made que ele descobriu ou inventou. Ou, como os franceses o chamam, “object trouvé”.
                                   Foi mais longe em sua iconoclastia: pintou um bigode no retrato da Monalisa, de Miguel Ângelo. Discute-se ou pergunta-se com que sentido teria feito isso. Ora, Duchamp dizia que a arte de cavalete estava encerrada e que o fator retiniano não poderia mais preponderar na arte. A obra se destina, mais que tudo, à reflexão e menos à contemplação ou ao gozo visual.
                                   Descobriu o óbvio, ou seja, que todas as coisas têm formas. Daí ter descoberto que o penico, que foi recusado numa mostra feita, em Paris, no salão dos independentes, acabasse sendo consagrado como obra de arte, ocupando um lugar numa das salas do Museu do Louvre, com a assinatura de R. Mutt.
                                   Um visitante do museu urinou no penico de Duchamp e pagou uma multa de 400 mil dólares por ter incorrido nesse atentado à sacralidade da obra. Em sua defesa, alegou que tinha seguido à risca a doutrina de Duchamp, mas isso não lhe valeu de nada.
                                   Outro fato foi que a roda de bicicleta, que também transformou em obra de arte, que está exposta no MASP (Museu de Arte de São Paulo), foi jogada no lixo (a primitiva, essa ora exposta no MASP é uma cópia ou é outra; qualquer roda de bicicleta pode substituir a primitiva; não há nada de original entre a primeira e as seguintes que lhe ocuparam o lugar em outros museus) por sua filha, quando a viu jogada num canto e, pior, enferrujada.
                                   Tem outros feitos mais arrojados ainda. Pôs numa cesta vários objetos de tudo quanto era espécie e apresentou-a como obra de arte numa exposição se não me engano em Nova York.
                                   O fato é que Duchamp queira-se ou não, abriu um novo episódio na história da arte. Ou simplesmente acabou com o conceito de arte. O que é predominante, em nosso tempo, é a anti-arte. Seguiu-se, como conseqüência natural, o fenômeno das instalações, que são o reflexo das teorias duchampianas.
                                   Duchamp deu alguma contribuição à arte?
                                   De certo modo sim. Ele abriu nova perspectiva ao fenômeno arte, libertando a arte da rigidez dos conceitos fechados ou das escolas todas que o aprisionavam numa fórmula que só valia para seus adeptos, como o impressionismo, fauvismo, expressionismo, cubismo, dadaísmo, surrealismo, etc. Cada uma delas tinha e tem um suporte teórico, que a limita.
                                   O “ready made”, tal como descoberto por Duchamp, revelou que a forma é arte ou arte é forma. Mas com isso criou-se um impasse: nada mais é arte e tudo é arte. Chega-se, assim, a uma contradição na própria definição do que seja arte.
                                   Com isso, mais que uma contradição, confinou-se o conceito de arte a um beco sem saida. Se tudo é arte e nada é arte, conclui-se que a arte foi pro brejo.
                                   Vivemos o clima ou o triunfo das teorias de Duchamp, com as instalações, que se apresentam umas diferentes de outras, mas dentro do mesmo espírito de concepção. A pergunta é: para onde caminhará a arte?

                                   Quem o saberá.

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