Imagino
como reagiriam neste momento de turbulência econômica internacional dois dos
nossos escritores mais conhecidos já mortos – Rubem Braga e Paulo Francis.
Este, segundo suponho, se limitaria a deitar falação inócua, posando de
entendido, como sempre o fez, das coisas da economia, mas, invariavelmente,
nessa matéria, revelando pouco ou nenhum conhecimento. Ou sequer capacidade de
análise. Mas estava na sua função de jornalista, que mete o bedelho em qualquer
tema, ainda que o faça de maneira competente. Francis sempre primou pelo destempero
em momentos como esse, acertando no varejo e errando no atacado.
Já
Rubem Braga, que era conhecido homem de esquerda (embora nunca posasse
oficialmente como tal), o que diria? Mais ou menos, se não erro, o seguinte:
-
Crise? Que crise?
E
tanto não a reconheceria (ou passaria por alto em sua crônica de estilo
inimitável) que, em vez de abordá-la, como esperado, certamente, por algum
leitor (ou leitores), falaria de uma borboleta amarela, que perseguira em seu
passeio pelas ruas do Rio em determinada tarde. Até que, por fim, acabasse
encoberta entre dois prédios ou em algum arbusto frondoso, deixando-o de olhos suspensos
no ar.
Eis
aí a diferença essencial entre esses dois escritores, um dando todo o trato à crise
ou querendo explicá-la ou bancar o profeta, anunciando sua duração ou sua
próxima superação. O outro, cronista de levezas e de coisas pouco sérias ou,
digamos, mais amenas, nem se importaria se havia crise aqui e ali, sabedor que
tudo neste mundo é episódico. Que mais cedo ou mais tarde, assim como veio,
essa crise vai embora – e tudo retomará o curso normal.
Preferível
falar de borboleta numa hora dessas do que pretender analisar o que se passa –
esse reboliço ou, como dizem os mais informados, essa turbulência que parece
levar de roldão a economia dos países por ela assolados.
O
leitor, de certo, ficaria preso à trajetória desenvolvida pela borboleta do
Braga.
Não
faltaria quem telefonasse ou (hoje, com os recursos da cibernética) passasse um
recado ao cronista para saber, afinal, que destino coubera à borboleta. Ou se
reapareceria numa próxima crônica. Ou se a descobrira em algum outro lugar depois que a perdeu de vista.
Não
sei se algum leitor se interessaria de mandar uma mensagem ao Paulo Francis,
querendo saber de como as finanças mundiais se comportarão daqui por diante.
Se se vai ou não, por bem ou por mal, sair do atoleiro. O que se prepara com a
perspectiva da vitória de Obama, que, a essa altura, parece favas contadas.
Mas
entre o tema de um e outro é indiscutível que mais vale saber o destino tomado
por uma borboleta amarela, em certa tarde subitamente aparecida numa rua do
Rio, acompanhada em suas evoluções pelos olhos muito atentos do maior cronista
brasileiro.
(out/08).
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