Na
década de 50, costumava frequentar o Rio. Devo ter ido lá uma meia dúzia de
vezes. A esse tempo, despontava no jornalismo diário, com uma crônica, Paulo
Mendes Campos, que sempre desejei encontrar ao acaso em bares, por ele muito freqüentados ou fosse
onde fosse. Mas nunca dei com ele em parte alguma. Por isso, ficou essa perda de não o ter conhecido
para uma mera troca de palavras. Nessa mesma época pululavam por lá outros
nomes de igual estofo, como Rubem Braga, Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Antonio
Maria (só José Carlos Oliveira veio bem depois e pontificou por alguns anos com
uma crônica diária no JB).
Também
não tive a chance de conhecer Carlinhos, como era tratado por amigos íntimos. Era
por último (ou seja, ao fim de sua trajetória por este mundo) freqüentador
assíduo do Antonio’s, um bar em Copacabana, uma espécie de pequena república
dos grandes nomes da música e das letras.
Carlinhos
tem uma crônica, publicada em seu livro “Os olhos dourados do ódio”, que é
antológica, sobre uma baratinha, que o esperava no fim das noites ou
madrugadas, quando vinha da boemia. Já falei dela em outro momento.
No
último dia de ocupação desse apartamento, Carlinhos conta que dolorosa foi a
despedida da baratinha, a que deu o nome de Ivone. Não a encontrou nos lugares
costumeiros para uma despedida mais calorosa, pelo que, ao fechar a porta, suas
últimas palavras foram:
-
Adeus, Ivone!
Já
de Paulo Mendes Campos soube de seu dileto amigo Fernando Sabino que, certa
vez, quando subia a serra de Petrópolis para dirigir-se a Belo Horizonte,
entrou num bar para comprar cigarros (ou para outra coisa qualquer) e foi
surpreendido de o encontrar ali solitário.
Conta-se
que, nos seus últimos dias de existência, Paulo transitava pelas ruas do Leblon
curtindo seu fracasso.
Enquanto
assim se considerava, eu, que lia suas belas crônicas, ficava por estas bandas
desejoso de um encontro casual com ele, tanto o admirava como cronista.
Quando
conheci Otto e Sabino, num encontro no Hotel Maria do Mar, aqui na Ilha, podia
lhes perguntar por Paulo. Mas não o fiz.
Paulo
é autor de algumas crônicas que considero entre as melhores que li, uma das quais
narra a guerra travada com um vizinho, ambos batendo seus textos em máquinas de
escrever barulhentas, através do silêncio da noite, na busca de ganhar o pão de
cada dia. Outra sobre que presenteou à filha com o livro de Lewis Carrol, “Alice
no país das maravilhas”, cujo tratamento é dos mais felizes.
Afora
os outros referidos, que conheci pessoalmente, como a Antonio Maria, numa fila
desorganizada no cinema Metro de Copacabana, para assistir a “O pecado mora ao lado”,
com Marilyn Monroe, que, quando as portas se abriram, foi uma espécie de rolo
compressor que nos levou para dentro do cinema. A cabeça de Maria boiava entre
todas até que nos alojamos numa cadeira. Lembro-me que uma velhinha me pediu que
a protegesse. Prometi-lhe que seria seu escudeiro. Qual nada! Fomos eu, o Maria
e a pobre velhinha arrastados na multidão no atropelo que se desencadeou.
Mas
ainda hoje curto essa frustração de não ter travado um leve papo com Paulo
Mendes Campos e Carlinhos Oliveira sobre qualquer banalidade que nos aflorasse
num encontro eventual.
(junho/08)
No comments:
Post a Comment