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Monday, November 7, 2016

DOIS CRONISTAS - Hamilton Alves



                                   Na década de 50, costumava frequentar o Rio. Devo ter ido lá uma meia dúzia de vezes. A esse tempo, despontava no jornalismo diário, com uma crônica, Paulo Mendes Campos, que sempre desejei encontrar ao acaso em  bares, por ele muito freqüentados ou fosse onde fosse. Mas nunca dei com ele em parte alguma.  Por isso, ficou essa perda de não o ter conhecido para uma mera troca de palavras. Nessa mesma época pululavam por lá outros nomes de igual estofo, como Rubem Braga, Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Antonio Maria (só José Carlos Oliveira veio bem depois e pontificou por alguns anos com uma crônica diária no JB).
                                   Também não tive a chance de conhecer Carlinhos, como era tratado por amigos íntimos. Era por último (ou seja, ao fim de sua trajetória por este mundo) freqüentador assíduo do Antonio’s, um bar em Copacabana, uma espécie de pequena república dos grandes nomes da música e das letras.
                                   Carlinhos tem uma crônica, publicada em seu livro “Os olhos dourados do ódio”, que é antológica, sobre uma baratinha, que o esperava no fim das noites ou madrugadas, quando vinha da boemia. Já falei dela em outro momento.
                                   No último dia de ocupação desse apartamento, Carlinhos conta que dolorosa foi a despedida da baratinha, a que deu o nome de Ivone. Não a encontrou nos lugares costumeiros para uma despedida mais calorosa, pelo que, ao fechar a porta, suas últimas palavras foram:
                                   - Adeus, Ivone!
                                   Já de Paulo Mendes Campos soube de seu dileto amigo Fernando Sabino que, certa vez, quando subia a serra de Petrópolis para dirigir-se a Belo Horizonte, entrou num bar para comprar cigarros (ou para outra coisa qualquer) e foi surpreendido de o encontrar ali solitário.
                                   Conta-se que, nos seus últimos dias de existência, Paulo transitava pelas ruas do Leblon curtindo seu fracasso.
                                   Enquanto assim se considerava, eu, que lia suas belas crônicas, ficava por estas bandas desejoso de um encontro casual com ele, tanto o admirava como cronista.
                                   Quando conheci Otto e Sabino, num encontro no Hotel Maria do Mar, aqui na Ilha, podia lhes perguntar por Paulo. Mas não o fiz.
                                   Paulo é autor de algumas crônicas que considero entre as melhores que li, uma das quais narra a guerra travada com um vizinho, ambos batendo seus textos em máquinas de escrever barulhentas, através do silêncio da noite, na busca de ganhar o pão de cada dia. Outra sobre que presenteou à filha com o livro de Lewis Carrol, “Alice no país das maravilhas”, cujo tratamento é dos mais felizes.
                                   Afora os outros referidos, que conheci pessoalmente, como a Antonio Maria, numa fila desorganizada no cinema Metro de Copacabana, para assistir a “O pecado mora ao lado”, com Marilyn Monroe, que, quando as portas se abriram, foi uma espécie de rolo compressor que nos levou para dentro do cinema. A cabeça de Maria boiava entre todas até que nos alojamos numa cadeira. Lembro-me que uma velhinha me pediu que a protegesse. Prometi-lhe que seria seu escudeiro. Qual nada! Fomos eu, o Maria e a pobre velhinha arrastados na multidão no atropelo que se desencadeou.
                                   Mas ainda hoje curto essa frustração de não ter travado um leve papo com Paulo Mendes Campos e Carlinhos Oliveira sobre qualquer banalidade que nos aflorasse num encontro eventual.


(junho/08)        

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