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Monday, December 26, 2016

O BÊBADO AZUL DO DESTERRO (livro de Ilmar Carvalho, misto de crônicas e contos, concretiza o sonho do escritor/melômano de ver-se, finalmente, editado). (por Hamilton Alves)*


            Depois de trilhar uma longa caminhada no jornalismo (exerceu-o desde a adolescência), como cronista, contista e crítico musical, na condição do que pontifica com artigos no Jornal do Comércio, do Rio, Ilmar Carvalho vê, por fim, realizado o grande sonho de editar um livro, “O Bêbado Azul do Desterro”, que, como ele me disse há pouco, num papo telefônico, reúne suas melhores crônicas e os poucos contos que escreveu durante seus quase oitenta anos. O forte de sua produção literária são seus artigos sobre música, desde a popular até a erudita, no que se tornou um dos poucos especialistas. Agora mesmo brindou esta folha com um trabalho sobre o violoncelista Antonio meneses, que, além de outras execuções famosas, vem de gravar as seis suítes de Bach, no que foi tão bem sucedido (segundo Ilmar) quanto Pablo Casals, o maior violoncelista conhecido até hoje no mundo e reconhecidamente o que conseguiu a melhor execução da obra referida.
            Poucos cronistas têm ou escreveram uma crônica referencial. Ou aquela que todo mundo cita porque de alguma forma entrou até no folclore popular. Apesar de não ser muito prolífero na qualidade de cronista, perpetrou uma sobre a qual, em conversas literárias, vem sempre à baila: “Da vantagem de ser jovem no Estreito”, que foi um marco na obra de Ilmar. A outra não precisa nem mencionar, pertence a Rubem Braga, “Eu e bebú na hora neutra da madrugada”, que, igual à de Ilmar, todo mundo conhece, cita e é capaz de conhecer trechos de cor, como foi o meu caso, há algum tempo, quando os dizia para amigos.
O volume, que deverá ser lançado no próximo dia 21, em Joinville (terra natal de Ilmar e onde viveu, como não poderia deixar de ser, os momentos culminantes ou marcantes de sua existência quase octogenária), tem oitenta páginas e foi editado pela editora “Letradágua”, de Joinville. Quem a dirige é Joel Gehlen, que não faz muito editou o “Anexo”, encarte cultural do jornal “A Notícia”, que teve, com ele, sem dúvida, seu melhor período. Amigo de Ilmar, quando soube que este reunia as crônicas e contos para uma futura publicação, propôs-se a fazê-lo, com o que Ilmar concordou. Mas até que a obra fosse concluída decorreram alguns anos. Nos contatos com Ilmar lhe cobrava a edição de seu livro. Vinha com a mesma lenga-lenga de que tinha entregue os originais para o Gehlen e o Alemão (apelido de Gehlen) não dera ainda o ar de sua graça, de tal modo que nem mesmo ele saberia dizer quando se dariam por editados.
Soube de amigos íntimos de Ilmar sua pouca ligação com projetos de divulgação do que faz. A editora da UFSC, em certo período, colocou-se à disposição para editar o livro que ora será lançado. Ou até o que havia escrito em jornais sobre música. Tem uma vastíssima produção sobre esse tema. E das mais preciosas, como o reconhecem pessoas que privam de sua amizade, inclusive Salim Miguel, que conhece mais de perto o problema do Ilmar de editar ou não ser editado, de tomar ou não a iniciativa para a levar a bom termo a publicação do que escreve. Não obstante receber aprovação, por antecipação, da edição desse material, Ilmar nunca o enviou à editora da UFSC. Por que? Ninguém sabe. É de seu temperamento. É um escritor que produz com até relativa facilidade. Mas é complicado chegar ao livro impresso. Há quem tenha um convívio mais próximo de Ilmar (como é o caso citado de Salim Miguel, que com ele conviveu no Rio durante a temporada em que lá morou) e o que comenta, entre amigos, é essa inclinação do Ilmar, não muito bem explicada, para não comer o bolo qunado lhe foi dado de mão beijada.
O primeiro a receber (também prefaciou-o) “O Bêbado Azul do Desterro” foi seu velho amigo Salim. Em seguida, mandou-lhe o recado de que as crônicas e os contos lhe tinham impressionado favoravelmente. Não era a crítica do amigo, mas o comentário do crítico.
Dos trabalhos editados, conheço apenas dois, o já mencionado “Da vantagem de ser jovem no Estreito”, que é inegavelmente uma página e meia antológica, e outro, publicado no “Anexo”, de também duas páginas, que tenho guardado em arquivo, que já quis publicar com sua antologia de contos, com a autorização prévia do Ilmar (consultado antes de qualquer outro dos integrantes dessa eventual antologia), “Joinville dos 40”, que se refere a reminiscências do escritor da época de ouro em que viveu em Joinville, ali cresceu e conheceu as primeiras experiências da vida.
Falei com ele há dias sobre o livro. Brincalhonamente, disse-lhe:
- Até que por fim o pariste?
- Vou lançá-lo em Joinville, mas farei, sem data ainda marcada, lançamentos em Florianópolis e Rio.
- Quantos exemplares são?
- Mil.
Deu-me detralhes gráficos do livro. A ilustração de capa foi feita por Luis Gustavo Meneghin. Ilmar considerou-a muito boa. A capa é em branco com a ilustração em azul tomando 2/3 dela. Fez-me lembrar a primeira edição de Ulisses, de Joyce, que tinha as mesmas cores (referência de Sylvia Beach, em seu livro, há pouco editado pela “Casa da Palavra”, “Shakespeare & Companhia – uma livraria na Paris do entreguerras”.
Houve um momento que Ilmar mostrou-se desanimado quanto às possibilidades de edição do livro. O Alemão não lhe dava notícias da edição. Passou um bom tempo sem a menor informação do andamento ou a fase em que se encontrava. Até que há pouco surpreendeu-o com a notícia de que a fase final estava concluída, recebendo quatro exemplares, um dos quais presenteou ao Salim, o que foi facilitado pela presença desse escritor no Rio, onde foi participar da Bienal do Livro e para outros fins.
Cobrei o meu.
- O teu tens que esperar um pouco, pois os quatro que o Alemão me mandou sumiram. Só fiquei com um.
Não é preciso dizer que, ainda que não possua o livro, nem possa por isso ainda julgá-lo, “O Bêbado Azul do Desterro”, título de uma das crônicas, vem chancelado com a reconhecida qualidade do texto de Ilmar. Tanto na sua obra literária quanto na crítica musical, a marca do Ilmar é a do esmerado tratamento de seu trabalho (ainda agora tivemos oportunidade de verificar isso no artigo sobre Antonio Meneses, que é rigorosamente bem realizado).
O título do livro dispensa comentário e revela também seu bom gosto.
A estréia de Ilmar (e ele o faz um pouco tarde, quando, como dito, vai beirando a casa dos oitenta) deve ser, por tudo isso, muito bem acolhida e acredito no êxito antecipado do lançamento do livro nas praças referidas (Joinville, Florianópolis e Rio), onde, não fosse pelo bom nível das crônicas e contos, já conhecidas algumas delas, seria pelo fato de que tem uma legião de amigos, que certamente vão prestigiá-lo em todos esses eventos (palavra que, diga-se “en passant”, ele detesta).

  

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