A PRIMEIRA MISSA - Hamilton Alves
Fui
ver uma quarta vez a obra monumental de Vitor Meirelles “A Primeira Missa do Brasil”.
É dessas obras que não se cansa de ver.
Quem
a observa atentamente, nos menores detalhes, chega à clara conclusão que não há
muitas iguais no mundo em grandeza.
Mesmo
para quem não seja um especialista em arte essa dedução é natural. Ou se torna
fácil fazer-se.
Citei
como obras paralelas à de Vitor ‘Guernica” e “As Senhoritas d'Avignon”, de Picasso.
Há
quem possa alegar que faço comparação entre coisas desiguais ou de escolas
diametralmente opostas. Isso não impede de compará-las. Posso comparar, por
exemplo, uma banana com uma laranja e nem por isso estarei incorrendo num absurdo.
O que é que comparo? A beleza entre ambas. Qual a que passa maior expressão estética.
Claríssimo, torna-se difícil senão impossível dizê-lo. Tanto a banana quanto a
laranja esteticamente têm seus próprios valores.
Assim
com respeito às obras referidas de Picasso e Meirelles.
São
fundamentalmente diferentes por pertencerem a épocas e escolas distintas. Mas
no que se refere a sua qualidade como obra de arte, independentemente de
qualquer outro fator, pode-se compará-las. Ambas têm, sem dúvida, altíssimo
poder de expressão artística. São obras primas diante das quais tem-se a clara
percepção de sua grandiosidade. Estão acima de qualquer juízo de valor.
Mesmo
em se tratando de apuro técnico difícil é estabelecer qualquer distinção, embora
me pareça que, no caso da tela de Vitor, lhe tenha exigido maior empenho. Quanto
tempo levou para concluí-la?
Não
foi certamente em um dia, um mês ou mesmo um ano. Exigiu-se mais tempo.
Uma
proposta interessante seria de saber o que Picasso diria de “A Primeira Missa”
e o que Meirelles acharia de “Guernica”, tendo diferentes visões de arte ou pertencendo
a escolas distintas.
Creio
que Picasso faria grandes elogios à tela de Meirelles e este outro tanto diria
da de Picasso. Picasso deveria ser um artista que via a arte como um todo, não
apenas como representação de uma escola. Do mesmo passo, suponho que Meirelles
teria idêntica postura. Nada de limitações. O artista, em geral, tem um espírito
aberto à criação. Ou para o belo. Lembremo-nos que Picasso aplaudiu um quadro
de Modigliani, o retrato de sua mulher, Jeane Hébuterne, que, grávida, se matou
logo depois que ele morreu. Modigliani não pertencia a sua escola. Era figurativo,
muito próximo do expressionismo.
Picasso
e Meirelles, dois renomados artistas, que dividem igualmente o panteão dos gênios.
(maio/08)
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