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Monday, August 1, 2016

A FLOR E A FORMIGA - Hamilton Alves


A flor se abriu
À vida e à luz

Mas que coisa
Triste uma formiga

Bem no topo dela
Indiferente à beleza;

Cheirou-a, é verdade,
Com as antenas ligadas,

E, solenemente,
Seguiu caminho;

Nem se deu conta
Do branco e do amarelo

Nem do cálice
Nem do caule

De formosura
Sem par;

Atravessou-a
Soberanamente alheia;

Lá vai ela
Na dobra da pétala

Com intimorata
Soberbia.


(poema de Hamilton Alves escrito em dezembro de 2006 sob o pseudônimo de Otto Nul)



Comentário de Fernando Monteiro, crítico de arte e escritor, de Recife, PE: “a flor e a formiga” é desses poemas que logram captar uma pequena coisa daquelas que não parecem ter qualquer “importância”, embora possam concentrar uma enorme carga de significado (ou demandar a consequência mais inesperada – como na física fractal). Para surpreendê-las, talvez só a poesia possa oferecer  não só o instrumento adequado, mas a capacidade, rara, de lavar o olhar que torne o mundo novo de novo”. 

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