A flor se abriu
À vida e à luz
Mas que coisa
Triste uma formiga
Bem no topo dela
Indiferente à beleza;
Cheirou-a, é verdade,
Com as antenas ligadas,
E, solenemente,
Seguiu caminho;
Nem se deu conta
Do branco e do amarelo
Nem do cálice
Nem do caule
De formosura
Sem par;
Atravessou-a
Soberanamente alheia;
Lá vai ela
Na dobra da pétala
Com intimorata
Soberbia.
(poema de Hamilton Alves escrito em dezembro de 2006 sob o pseudônimo de Otto Nul)
Comentário de Fernando Monteiro, crítico de arte e escritor,
de Recife, PE: “a flor e a formiga” é desses poemas que logram captar uma
pequena coisa daquelas que não parecem ter qualquer “importância”, embora
possam concentrar uma enorme carga de significado (ou demandar a consequência
mais inesperada – como na física fractal). Para surpreendê-las, talvez só a
poesia possa oferecer não só o
instrumento adequado, mas a capacidade, rara, de lavar o olhar que torne o
mundo novo de novo”.
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