A luz das estrelas
Por mais que brilhe
Não me é estimulante
Um trecho de Bach
Vale por todo o panorama
Desta tarde estival
Não vejo que instrumento
Musical possa substituir
O canto do sabiá
O marulho do mar
Faz-me bem
Mas o vento não me alcança
Por canoa entendo
Um pedaço de pau lançado
Ao mar para uma aventura
Tenho que falar
Com um pouco de cuidado
Desta sexta-feira
Tudo resulta vão
Se não se descobre
O rumor da madrugada.
(poema de Hamilton Alves escrito em janeiro de 2007 sob o pseudônimo de Otto Nul).
F. Monteiro, escritor, poeta e crítico de arte de Recife,
PE, disse desse poema o seguinte:
“este poema é o melhor que v. enviou desde a remessa de “nem
dei pela noite” – o qual permanecia insuperado dentre os novos, e agora jaz
empatado com esse surpreendente “ah, as palavras!”. a deusa da poesia - com a
mão de sistros suaves – sem dúvida passou sobre a sua cabeça, Alves, nessa madrugada.
E lhe inspirou um poema irretocável (parabéns!) constituído com música de
surpresa, observação de comum transcendência das coisas. Os cortes internos que
ele apresenta me agradam muito. Poesia - da melhor – costuma ser assim, modernamente,
e não alguma coisa que se desdobra como
um lençol manchado diante dos olhos do leitor que aspirava ver alvuras
brancusianas com não mais que alguns traços travertinos do mármore disfarçando
falhas. Sinto falta (eu, pelo menos) dos “escapes” inesperados nos poemas que
não abrem as portas do inesperado como que escondidos entre as dobras da palavra
– que saltam para nos lançar no cosmos desconhecido. sem isso, para mim, a poesia
é (apenas) prosa.”
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