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Tuesday, August 23, 2016

AH, AS PALAVRAS! - Hamilton Alves



A luz das estrelas
Por mais que brilhe
Não me é estimulante

Um trecho de Bach
Vale por todo o panorama
Desta tarde estival

Não vejo que instrumento
Musical possa substituir
O canto do sabiá

O marulho do mar
Faz-me bem
Mas o vento não me alcança

Por canoa entendo
Um pedaço de pau lançado
Ao mar para uma aventura

Tenho que falar
Com um pouco de cuidado
Desta sexta-feira

Tudo resulta vão
Se não se descobre
O rumor da madrugada.


(poema de Hamilton Alves escrito em janeiro de 2007 sob o pseudônimo de Otto Nul).




F. Monteiro, escritor, poeta e crítico de arte de Recife, PE, disse desse poema o seguinte:
“este poema é o melhor que v. enviou desde a remessa de “nem dei pela noite” – o qual permanecia insuperado dentre os novos, e agora jaz empatado com esse surpreendente “ah, as palavras!”. a deusa da poesia - com a mão de sistros suaves – sem dúvida passou sobre a sua cabeça, Alves, nessa madrugada. E lhe inspirou um poema irretocável (parabéns!) constituído com música de surpresa, observação de comum transcendência das coisas. Os cortes internos que ele apresenta me agradam muito. Poesia - da melhor – costuma ser assim, modernamente, e não alguma coisa que se desdobra  como um lençol manchado diante dos olhos do leitor que aspirava ver alvuras brancusianas com não mais que alguns traços travertinos do mármore disfarçando falhas. Sinto falta (eu, pelo menos) dos “escapes” inesperados nos poemas que não abrem as portas do inesperado como que escondidos entre as dobras da palavra – que saltam para nos lançar no cosmos desconhecido. sem isso, para mim, a poesia é (apenas) prosa.”


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