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Thursday, October 13, 2016

CONVÍVIO CULTURAL - Hamilton Alves





                                   Toninho Vaz, que conheço de pouco, travei com ele pela primeira vez numa palestra que deu sobre Paulo Leminski, está de volta à Ilha, solicitado de novo a falar-nos em torno da obra ou da pessoa do poeta paranaense e de seu recente livro, lançado pela Editora Record, “O rei do cinema”, que versa sobre a vida de Luiz Severiano Ribeiro, que, nascido numa cidadezinha do Ceará , tornou-se o maior exibidor de cinema deste país, passando um dos descendentes do primeiro Luiz Severiano Ribeiro a ser produtor de cinema, com a extinta e histórica Atlântida, que foi praticamente produtora de todos os filmes de Oscarito, Grande Otelo, Cil Farney, Fada Santoro e outros artistas conhecidos à época.
                                   O que logo se destaca num contato rápido com Toninho é sua versatilidade cultural, revelando-se informado não apenas de cinema, mas especialmente de literatura, que é, afinal, o seu grande mote para empreender viagens a tantas cidades brasileiras para dar palestras.
                                   Dois temas foram lançados em nosso papo nesse primeiro contato de agora: “o espírito” do Fantasma Voador, que é imortal (com isso Toninho queria referir-se justamente ao fato da descendência dos Luiz Severiano Ribeiro, que se sucederam em três gerações, eliminando o “Jr.” ou “Filho” para negá-la, parecendo aos pouco informados que Luiz Severiano Ribeiro foi uma só personalidade, que criou sozinho a fama de exibidor e produtor de cinema). O outro foi sobre “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, que, na palestra que fez há pouco, em Tubarão, para universitários, lançou duas perguntas iniciais ao público presente para medir até onde ia seu conhecimento dos temas que se propunha abordar. Isso teria que ser feito necessariamente, sob pena de falar de abstrações que só provocariam tédio. Ou o ouviriam apenas por curiosidade, ignorando inteiramente o assunto ventilado.
                                   Disse-me que, quando se referiu à obra de Euclides da Cunha, o silêncio seguiu-se de forma preocupante. Ou seja, nenhum dos presentes jamais lhe ouvira sequer a menor referência, o que num primeiro momento poderia levá-lo ao pânico. Como falaria de um tema sobre o qual as pessoas nunca ouviram uma referência?
                                   O que o salvou foi que uma dessas pessoas disse que não tinha lido Euclides, mas lera Madame Bovary. Nessa altura, abria-se, para Toninho, uma brecha. Alguém sabia da existência de uma obra como a de Flaubert. E isso seria, no mínimo, uma boa provocação.
                                   Não sei se surpreendi Toninho quando lhe disse que fiz uma tentativa infrutífera de ler “Os Sertões”, derrubado nessa pretensão pelas 50 primeiras páginas, que derrotam qualquer um desavisado de que, além delas, abre-se um horizonte de beleza literária pouco comum em nossa literatura.
                                   Não me lembrava mais nada referente ao “espírito” imortal do Fantasma Voador (figura das mais famosas das histórias em quadrinhos) nem lera ainda “Os Sertões”, uma dívida que tenho com a literatura brasileira e com Euclides da Cunha, que versa sobre a saga de Canudos.
                                   No pouco contato com Toninho Vaz afloraram dois temas que, de imediato, colocavam em xeque minha cultura.  
                                   A questão inicial sobre detalhe essencial da história desse personagem fascinante, o Fantasma Voador, revelei desconhecer. E pior: ignorava o romance de Euclides da Cunha, que se notabilizou dentro e fora do país, como sendo um momento grandioso de nossas letras.
                                   O pouco contato com esse homem de letras (Toninho Vaz) revelava meus flancos abertos quanto a aspectos culturais importantes.
                                   O convívio com pessoas bem informadas é, de certo modo, o estímulo permanente ao trato com a cultura vista de um plano mais abrangente.



(set/08)

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