Toninho
Vaz, que conheço de pouco, travei com ele pela primeira vez numa palestra que
deu sobre Paulo Leminski, está de volta à Ilha, solicitado de novo a falar-nos em
torno da obra ou da pessoa do poeta paranaense e de seu recente livro, lançado
pela Editora Record, “O rei do cinema”, que versa sobre a vida de Luiz
Severiano Ribeiro, que, nascido numa cidadezinha do Ceará , tornou-se o maior
exibidor de cinema deste país, passando um dos descendentes do primeiro Luiz
Severiano Ribeiro a ser produtor de cinema, com a extinta e histórica Atlântida,
que foi praticamente produtora de todos os filmes de Oscarito, Grande Otelo, Cil
Farney, Fada Santoro e outros artistas conhecidos à época.
O
que logo se destaca num contato rápido com Toninho é sua versatilidade cultural,
revelando-se informado não apenas de cinema, mas especialmente de literatura,
que é, afinal, o seu grande mote para empreender viagens a tantas cidades
brasileiras para dar palestras.
Dois
temas foram lançados em nosso papo nesse primeiro contato de agora: “o espírito”
do Fantasma Voador, que é imortal (com isso Toninho queria referir-se
justamente ao fato da descendência dos Luiz Severiano Ribeiro, que se sucederam
em três gerações, eliminando o “Jr.” ou “Filho” para negá-la, parecendo aos
pouco informados que Luiz Severiano Ribeiro foi uma só personalidade, que criou
sozinho a fama de exibidor e produtor de cinema). O outro foi sobre “Os Sertões”,
de Euclides da Cunha, que, na palestra que fez há pouco, em Tubarão, para
universitários, lançou duas perguntas iniciais ao público presente para medir
até onde ia seu conhecimento dos temas que se propunha abordar. Isso teria que
ser feito necessariamente, sob pena de falar de abstrações que só provocariam
tédio. Ou o ouviriam apenas por curiosidade, ignorando inteiramente o assunto
ventilado.
Disse-me
que, quando se referiu à obra de Euclides da Cunha, o silêncio seguiu-se de
forma preocupante. Ou seja, nenhum dos presentes jamais lhe ouvira sequer a
menor referência, o que num primeiro momento poderia levá-lo ao pânico. Como
falaria de um tema sobre o qual as pessoas nunca ouviram uma referência?
O
que o salvou foi que uma dessas pessoas disse que não tinha lido Euclides, mas
lera Madame Bovary. Nessa altura, abria-se, para Toninho, uma brecha. Alguém sabia
da existência de uma obra como a de Flaubert. E isso seria, no mínimo, uma boa
provocação.
Não
sei se surpreendi Toninho quando lhe disse que fiz uma tentativa infrutífera de
ler “Os Sertões”, derrubado nessa pretensão pelas 50 primeiras páginas, que
derrotam qualquer um desavisado de que, além delas, abre-se um horizonte de
beleza literária pouco comum em nossa literatura.
Não
me lembrava mais nada referente ao “espírito” imortal do Fantasma Voador
(figura das mais famosas das histórias em quadrinhos) nem lera ainda “Os Sertões”,
uma dívida que tenho com a literatura brasileira e com Euclides da Cunha, que
versa sobre a saga de Canudos.
No
pouco contato com Toninho Vaz afloraram dois temas que, de imediato, colocavam
em xeque minha cultura.
A
questão inicial sobre detalhe essencial da história desse personagem
fascinante, o Fantasma Voador,
revelei desconhecer. E pior: ignorava o romance de Euclides da Cunha, que se
notabilizou dentro e fora do país, como sendo um momento grandioso de nossas
letras.
O
pouco contato com esse homem de letras (Toninho Vaz) revelava meus flancos
abertos quanto a aspectos culturais importantes.
O
convívio com pessoas bem informadas é, de certo modo, o estímulo permanente ao
trato com a cultura vista de um plano mais abrangente.
(set/08)
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