Não
vou pretender, nestas rápidas linhas, explicar a crise capitalista, que está,
certamente, na raiz mesma de suas históricas contradições, já tão fartamente
reveladas por Marx.
Conheço
precariamente as idéias do filósofo alemão. Essencialmente, para Marx, a sociedade
capitalista, tal qual se estrutura, chegará mais cedo ou mais tarde ao próprio
fim. Trata-se, segundo ele, de um processo, que tem seu limite, ou seja, seu
fim bem demarcado, que assinalará o começo de nova era histórica, com a necessária
e irremediável abolição do capitalismo como forma de organização da economia.
Não
vou muito menos desfilar aqui o quanto tem de nefasta a sociedade burguesa, sob
a qual se estrutura o capitalismo. É reconhecidamente um sistema desagregador e
instaura entre as pessoas a sociedade de classes, o que, por si mesmo, é algo
absolutamente absurdo, estabelecendo níveis de inserção social ou de oportunidades
para uns e para outros. Trava-se, silenciosamente, uma luta de foice no escuro
entre os agentes sociais, em que, no dizer popular, quem pode mais chora menos.
Tudo
bem. Reconheçamos tudo isso de nefasto no sistema capitalista.
Não
ouso defendê-lo em qualquer instância,
Mas
pergunto: a solução seria a adoção do comunismo, na pureza da teoria de Marx,
que equivaleria à abolição do Estado burguês?
Isso
não seria utópico?
Historicamente,
o Estado, como o entendemos cientificamente, em nosso tempo, está fadado, mais
dia, menos dia, a desaparecer até pela contingência mesmo do processo a que se
aludiu há pouco.
Mas
desaparecido, admitindo-se para argumentar, o Estado, seguindo-se a ditadura do
proletariado (como ocorreu de certo modo em período histórico conhecido na
URSS), isso equivaleria à emergência de uma sociedade uniforme, que não admite
contrafação ou por cuja cartilha todos têm que rezar, queiram ou não.
Trata-se
de uma sociedade fechada e dogmática, que não abre espaço à dissidência ou a
idéias antagônicas, que impõe o estabelecimento de verdades definitivas e
absolutas que todos têm que seguir e acatar.
Como
preconizava Marx em “O capital”: “de cada um segundo suas possibilidades, a
cada um segundo suas necessidades”.
Tudo
seria público, nada privado.
Teoricamente,
tudo isso é, sem dúvida, ao primeiro exame, o reino da racionalidade, superando-se
as contradições capitalistas, o processo burguês de produção e outros males de
tal regime.
Não
deu certo na URSS, que implodiu depois de 70 anos de adoção de tal regime (se
bem que não muito dentro dos moldes marxistas) nem em Cuba, onde até hoje a
sociedade se debate com os maiores problemas.
Cícero,
o grande mestre grego, tinha uma frase que poderia trazer consideráveis lições para
todos nós. Dizia ele: não há governos ideais.
Acho
que Cícero tem lá suas boas razões para dizer o que disse.
Está
para ser ainda criada uma doutrina que resolva satisfatoriamente a constituição
de uma sociedade impecavelmente organizada, em que, por fim, se alcance a meta
tão sonhada de estabelecer, entre os homens, o ideal da igualdade e da justiça.
Creio
que o mais sábio seria aceitar-se uma sociedade em termos relativos,
abandonando-se o sonho do absoluto. Até porque, neste mundo, não há absolutos.
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