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Thursday, October 20, 2016

DARCI COSTA - Hamilton Alves




                                   É conhecidíssimo, entre nós, o fato de Darci Costa ser uma enciclopédia ambulante de cinema. Afora o cinema que vem sendo feito de dez ou quinze anos para cá do qual sabe muito pouco ou nada. Até porque, sob muitos aspectos, a decadência foi tal que não se justifica o interesse que se tinha por ele. Fato relevante disso é que um dos maiores críticos de cinema deste país, Moniz Vianna, que tinha uma coluna de cinema permanente no extinto “Correio da Manhã”, de conhecida trajetória na imprensa brasileira, tê-la abandonado há anos pela mesma razão, ou seja, a coisa baixou de qualidade de tal modo que não tem mais sentido a crítica. E, além do mais, a época dos grandes clássicos acabou. Provavelmente, não se repetirá mais. Um renascimento do cinema é coisa vista com muito pessimismo. Mas as perspectivas, de qualquer modo, nesse sentido, não são nada alentadoras. A crise que afeta o cinema alcança todas as artes, sem exceção. Vive-se das glórias do passado. A música popular brasileira deu um salto qualitativo com a bossa nova. Mas no momento não se nota nenhum movimento criativo.
                                   Tentei fazer uma entrevista com Darci sobre suas preferências. É sempre interessante se conhecer quais são as escolhas de um crítico de cinema dos clássicos conhecidos, que são bastante numerosos, se nos dermos ao trabalho de citar todos.
                                   Darci é muito cuidadoso com tais preferências.
                                   Vacilou. Gaguejou. E acabou não dizendo quais eram.
                                   Simplesmente respondeu, no seu jeito de ser:
                                   - Escolha de melhores é muito difícil
                                   Eu que não sou assim tão ponderado tenho minha lista dos doze filmes que me fizeram a cabeça. Não vou mencioná-los porque não interessa ao leitor saber quais são.
                                   Seria capaz de citar pelo menos meia dúzia de filmes que o Darci incluiria, com toda a certeza, no rol de doze.
                                   Vou tentar:
1) No tempo das diligências; 2) O homem que matou o facínora; 3) Rastros de ódio (para ficarmos nos faroestes); 4) Um corpo que cai; 5) Casablanca; 6) Crepúsculo dos Deuses.
É meia dúzia, como se vê, da pesada. Creio que Darci não a recusaria de modo algum.
Aliás, qualquer cinéfilo ou crítico a assumiriam sem pestanejar. Sem dúvida, são seis clássicos indiscutíveis do cinema.
                                   Certa vez, tivemos uma discussão acalorada sobre a qualidade de um filme, que pensei que fosse dirigido por John Ford, mas acabei por saber que era de outro diretor, Fred Zinnemann – “Matar ou Morrer”, em que estrelam Gary Cooper e Grace Kelly. Disse-lhe que achara o filme chato e que o desempenho de Gary Cooper me parecia o de um pateta, correndo de Herodes a Pilatos para encontrar quem o apoiasse para enfrentar três bandidos que, quando aparecem em cena, mais se assemelham a três espantalhos do que propriamente a bandidos perigosos, como eram encarados. Ficou fulo.
                                   - O que?! - vociferou num tom de voz de se ouvir a cinco quarteirões, no seu modo muito particular de reagir.
                                   Mas isso não foi tudo. Referi-me a “Um corpo que cai”.
- “Um corpo que cai” é uma droga.
                                   Aí ele virou-me as costas e mandou-me às favas, saindo num passo que parecia deixar fumaça de tanta raiva que expelia de si.
                                   Mas somos grandes amigos até hoje.

(junho/08)




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