É
conhecidíssimo, entre nós, o fato de Darci Costa ser uma enciclopédia ambulante
de cinema. Afora o cinema que vem sendo feito de dez ou quinze anos para cá do
qual sabe muito pouco ou nada. Até porque, sob muitos aspectos, a decadência
foi tal que não se justifica o interesse que se tinha por ele. Fato relevante
disso é que um dos maiores críticos de cinema deste país, Moniz Vianna, que
tinha uma coluna de cinema permanente no extinto “Correio da Manhã”, de
conhecida trajetória na imprensa brasileira, tê-la abandonado há anos pela
mesma razão, ou seja, a coisa baixou de qualidade de tal modo que não tem mais
sentido a crítica. E, além do mais, a época dos grandes clássicos acabou.
Provavelmente, não se repetirá mais. Um renascimento do cinema é coisa vista
com muito pessimismo. Mas as perspectivas, de qualquer modo, nesse sentido, não
são nada alentadoras. A crise que afeta o cinema alcança todas as artes, sem
exceção. Vive-se das glórias do passado. A música popular brasileira deu um
salto qualitativo com a bossa nova. Mas no momento não se nota nenhum movimento
criativo.
Tentei
fazer uma entrevista com Darci sobre suas preferências. É sempre interessante
se conhecer quais são as escolhas de um crítico de cinema dos clássicos conhecidos,
que são bastante numerosos, se nos dermos ao trabalho de citar todos.
Darci
é muito cuidadoso com tais preferências.
Vacilou.
Gaguejou. E acabou não dizendo quais eram.
Simplesmente
respondeu, no seu jeito de ser:
-
Escolha de melhores é muito difícil
Eu
que não sou assim tão ponderado tenho minha lista dos doze filmes que me fizeram
a cabeça. Não vou mencioná-los porque não interessa ao leitor saber quais são.
Seria
capaz de citar pelo menos meia dúzia de filmes que o Darci incluiria, com toda a
certeza, no rol de doze.
Vou
tentar:
1) No tempo das diligências; 2) O
homem que matou o facínora; 3) Rastros de ódio (para ficarmos nos faroestes);
4) Um corpo que cai; 5) Casablanca; 6) Crepúsculo dos Deuses.
É meia dúzia, como se vê, da
pesada. Creio que Darci não a recusaria de modo algum.
Aliás, qualquer cinéfilo ou
crítico a assumiriam sem pestanejar. Sem dúvida, são seis clássicos
indiscutíveis do cinema.
Certa
vez, tivemos uma discussão acalorada sobre a qualidade de um filme, que pensei
que fosse dirigido por John Ford, mas acabei por saber que era de outro diretor,
Fred Zinnemann – “Matar ou Morrer”, em que estrelam Gary Cooper e Grace Kelly. Disse-lhe
que achara o filme chato e que o desempenho de Gary Cooper me parecia o de um
pateta, correndo de Herodes a Pilatos para encontrar quem o apoiasse para
enfrentar três bandidos que, quando aparecem em cena, mais se assemelham a três
espantalhos do que propriamente a bandidos perigosos, como eram encarados. Ficou
fulo.
-
O que?! - vociferou num tom de voz de se ouvir a cinco quarteirões, no seu modo
muito particular de reagir.
Mas
isso não foi tudo. Referi-me a “Um corpo que cai”.
- “Um corpo que cai” é uma droga.
Aí
ele virou-me as costas e mandou-me às favas, saindo num passo que parecia
deixar fumaça de tanta raiva que expelia de si.
Mas
somos grandes amigos até hoje.
(junho/08)
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