Para
começo de conversa, não sou crítico de arte. Sou colecionador há iguais 50 anos
durante os quais Tércio vem se dedicando à pintura. Tudo que vou dizer sobre
sua exposição, quase 20 dias depois que foi lançada no museu do CIC (Centro Integrado
de Cultura), com um texto de apresentação cheio de parangolés e lantejoulas, será
na base da simples observação de um homem acostumado a ver e apreciar obras primas
e a conviver com os grandes nomes da pintura mundial.
Acho
que Tércio alcançou o pico de sua carreira de pintor com esses quadros ora
expostos, assinalando meio século de dedicação continuada e permanente à arte
visual.
Evidentemente
que Tércio lançou sua obra no lugar errado. Não temos nem críticos nem público para
uma obra portentosa como a que vem de mostrar. Somos de um modo geral um povo
que nãos sabe consagrar um grande artista. Falta-nos o elemento essencial que se descobre em outros
espaços culturais, em que se alardeia ou se cultua a produção de obras de arte.
Aqui,
a rotina traduz-se em que, no dia seguinte, o público comparecente à exposição esqueceu
o que viu e não sabe bem avaliar um artista do nível de Tércio, no momento em
que sua obra alcança uma maturidade digna de figurar (sem favor algum) nos melhores
museus do mundo. Basta dizer que Basquiat é um artista muitas vezes inferior a
Tércio. Teve não obstante duas mostras consagradoras no MoMA, de Nova York, e sua
obra (parte dela) foi reproduzida em edições tão conhecidas e famosas como as da
editora Tachen. Basquiat era um borrador de paredes. Quando se consagrou como
tal começou a surgir nos museus (e não foi um apenas que o exibiu, mas vários
outros conhecidos internacionalmente). Olho para as telas de Tércio e me
pergunto: “qual será seu destino?” Não posso prever. Se Tércio não conseguir
lançá-las noutros espaços mais promissores ou que possam lhe dar o devido
tributo ou valor, é bem provável que essa exposição será marcada com o mesmo
destino que tiveram tantas outras. Um grande e abissal silêncio descerá sobre
ela.
Não
será apenas a tradicional
do silêncio, tão comum na província ou entre provincianos. Mas
certamente será o silêncio da indiferença, tão nosso igualmente característico.
A
obra de Tércio, essa que acabo de ver de certo modo deslumbrado, tem que voar
para fora de nossos horizontes, visitar outras gentes e outras cidades ou
países para colher a opinião mais abalizada de quem sabe bem avaliar o trabalho
artesanal de um artista que está por merecer o premio da consagração.
Eli
Heil é o exemplo típico da artista que foi buscar lá fora a glória. Se
esperasse pelo reconhecimento de seus conterrâneos ou seus aplausos talvez
fosse ainda uma ilustre desconhecida.
Não
é só o caso específico de Tércio que precisa de um tratamento melhor ou de uma
difusão maior dessa obra monumental que acaba de exibir; há outros artistas
entre nós merecedores de idêntica projeção. Citarei, só para dar um exemplo,
Vecchietti, um tapeceiro que deveria figurar entre os grandes nomes desse
gênero de arte. Osmar Pisani, certa vez, me mostrou em sua casa um tapete assinado
por ele diante do qual me ajoelhei dominado por profunda admiração.
Mas
o que se sabe de Vecchietti? Ou que dimensão tem sua obra para além de nossas
fronteiras?
Tércio,
voa.
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