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Tuesday, July 5, 2016

50 ANOS DE TÉRCIO DA GAMA - Hamilton Alves


                                   Para começo de conversa, não sou crítico de arte. Sou colecionador há iguais 50 anos durante os quais Tércio vem se dedicando à pintura. Tudo que vou dizer sobre sua exposição, quase 20 dias depois que foi lançada no museu do CIC (Centro Integrado de Cultura), com um texto de apresentação cheio de parangolés e lantejoulas, será na base da simples observação de um homem acostumado a ver e apreciar obras primas e a conviver com os grandes nomes da pintura mundial.   
                                   Acho que Tércio alcançou o pico de sua carreira de pintor com esses quadros ora expostos, assinalando meio século de dedicação continuada e permanente à arte visual.
                                   Evidentemente que Tércio lançou sua obra no lugar errado. Não temos nem críticos nem público para uma obra portentosa como a que vem de mostrar. Somos de um modo geral um povo que nãos sabe consagrar um grande artista. Falta-nos  o elemento essencial que se descobre em outros espaços culturais, em que se alardeia ou se cultua a produção de obras de arte.
                                   Aqui, a rotina traduz-se em que, no dia seguinte, o público comparecente à exposição esqueceu o que viu e não sabe bem avaliar um artista do nível de Tércio, no momento em que sua obra alcança uma maturidade digna de figurar (sem favor algum) nos melhores museus do mundo. Basta dizer que Basquiat é um artista muitas vezes inferior a Tércio. Teve não obstante duas mostras consagradoras no MoMA, de Nova York, e sua obra (parte dela) foi reproduzida em edições tão conhecidas e famosas como as da editora Tachen. Basquiat era um borrador de paredes. Quando se consagrou como tal começou a surgir nos museus (e não foi um apenas que o exibiu, mas vários outros conhecidos internacionalmente). Olho para as telas de Tércio e me pergunto: “qual será seu destino?” Não posso prever. Se Tércio não conseguir lançá-las noutros espaços mais promissores ou que possam lhe dar o devido tributo ou valor, é bem provável que essa exposição será marcada com o mesmo destino que tiveram tantas outras. Um grande e abissal silêncio descerá sobre ela.
                                   Não será apenas a tradicional                     do silêncio, tão comum na província ou entre provincianos. Mas certamente será o silêncio da indiferença, tão nosso igualmente característico.
                                   A obra de Tércio, essa que acabo de ver de certo modo deslumbrado, tem que voar para fora de nossos horizontes, visitar outras gentes e outras cidades ou países para colher a opinião mais abalizada de quem sabe bem avaliar o trabalho artesanal de um artista que está por merecer o premio da consagração.
                                   Eli Heil é o exemplo típico da artista que foi buscar lá fora a glória. Se esperasse pelo reconhecimento de seus conterrâneos ou seus aplausos talvez fosse ainda uma ilustre desconhecida.
                                   Não é só o caso específico de Tércio que precisa de um tratamento melhor ou de uma difusão maior dessa obra monumental que acaba de exibir; há outros artistas entre nós merecedores de idêntica projeção. Citarei, só para dar um exemplo, Vecchietti, um tapeceiro que deveria figurar entre os grandes nomes desse gênero de arte. Osmar Pisani, certa vez, me mostrou em sua casa um tapete assinado por ele diante do qual me ajoelhei dominado por profunda admiração.
                                   Mas o que se sabe de Vecchietti? Ou que dimensão tem sua obra para além de nossas fronteiras?
                                   Tércio, voa.                            
                                  






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