Da última vez que estive em Curitiba, fiquei hospedado num hotel barato, próximo
da rodoviária, tornando-se fácil me mover no dia seguinte para pegar o ônibus
de volta. Embora o protesto de familiares, alegando que poderia ficar num hotel
melhor, com mais conforto, fiquei naquele mesmo.
Os familiares voltaram de
carro enquanto retornaria de ônibus.
Já não me lembro porque isso aconteceu
assim.
Para ter com que passar o tempo (me instalei no hotel bem cedo, em torno
de umas nove horas, consultei se passava algum filme interessante nos cinemas
próximos, mas nenhuma referência houve nesse sentido, em razão de que achei
preferível me recolher à cama), dei início à leitura de jornais e revistas.
Mas bem depressa me dei conta que
nada do que continham os jornais e revistas me interessava, razão pela qual
fiquei olhando o quartinho exíguo que me fora destinado a passar aquela noite.
Ruminava alguns pensamentos que não me levavam à concentração em nenhum deles.
Apenas me lembrava o motivo porque ficara retido em Curitiba. Por que
não o resolvera naquele mesmo dia depois da chegada?
Antes de entrar no quarto, vi uma
faxineira arrecadando umas roupas. Um gato preto veio se enroscar as minhas
pernas quando enfiava a chave na fechadura da porta para abri-la.
- Um gato preto pode ser mau agouro!
– disse com os meus botões.
Mas não me liguei mais no gato
quando comecei a ler os jornais.
Quando me pus a olhar o vazio, a
reparar no encardido das paredes do quarto, no guarda-roupa velho, com dois ou
três cabides, cheirando a mofo, uma barata surgiu debaixo da porta e correu o
espaço do quarto em diagonal.
Logo imaginei que teria de
liquidá-la para minha tranqüilidade, caso contrário podia fazer suas
peraltices, a ponto de percorrer meu rosto enquanto estivesse dormindo.
Seguiu até a porta do banheiro. E
ali hesitou, como se não soubesse mais que destino tomar.
- Antes que ela entre no banheiro,
mato-a. – pensei.
Fiquei curioso de saber quais eram seus planos e a acompanhei em sua
trajetória.
Enfiou-se por baixo da porta do
banheiro.
Resolvi apagar a luz e dar o caso
por encerrado. Mas ficou-me a preocupação de a barata me molestar.
Abri a porta do banheiro. Vi-a
trepada à parede.
- É agora ou nunca. - disse-me.
Peguei a toalha e lhe dei uma
pancada, mas rapidamente escapou ao ataque. Travamos uma luta, eu a persegui-la,
ela a escapar-se.
Até que sumiu numa fresta, sob o
bacio, no que me dei por vencido.
Mas
essa história não termina aqui.
Tive um pesadelo terrível. Uma
barata enorme, tomando a forma humana, seguiu-me por uma rua deserta e escura,
com uma foice, disposta a tudo. Corri feito um louco por várias quadras,
tentando escapar a essa atroz perseguição. Entrei num pardieiro velho,
desabitado, crente que tinha lhe escapado. Subi várias escadas. No fim, quando
alcançava o topo do prédio, eis que me deparo com ela, olhando-me com
olhos em brasa, fumegantes.
- Agora não tenho mais saída. –
pensei.
Foi só então que, banhado em suor,
despertei. Abri a janela, olhei lá fora. Um cão solitário percorria a rua.
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