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Saturday, September 3, 2016

AS HORDAS - Hamilton Alves



                                               Lembro-me que dois escritores , como se fossem profetas, falavam da emergência das hordas no mundo, mas especialmente nos países do terceiro mundo ou não desenvolvidos, tipo Brasil, por exemplo. Esses dois escritores eram Lecomte du Nouy, célebre filósofo francês, e Paulo Francis, jornalista. Anteviam cada um a seu modo, pela característica da evolução do homem, no caso do primeiro, e pela irresponsabilidade da classe dirigente, no do segundo, que, mais cedo ou mais tarde, desencadear-se-iam movimentos hostis das massas deserdadas, despossuídas ou marginalizadas, como se queiram defini-las, pela sociedade de consumo.
                                               Neste momento, estamos vendo de certo modo estarrecidos como essas previsões estão se confirmando, mais cedo do que se julgava, pela erupção da guerrilha urbana num centro por excelência de exclusão social como São Paulo, em que o crescimento desordenado levou ao caos atual.
                                               As autoridades (?), neste momento, alarmadas, e mais do que isso, perplexas, diante do gigantismo ou das proporções que tomou a rebelião promovida pelo PCC (Primeiro Comando da Capital), buscam soluções de emergência, sem quase encontrar fórmulas eficazes de controlar a ação dos rebeldes.
                                               Os analistas apressados escamoteiam os verdadeiros motivos da revolta dos marginais ou buscam justificativas que, na maioria dos casos, não correspondem à verdadeira causa da origem dos motins.
                                               A pergunta que se formula é: o que teria dado origem à revolta? O diagnóstico parece simples, mas como o avestruz, que prefere enfiar a cabeça no chão, procura-se encontrar pelo em casca de ovo. Ou fugir do cerne da questão.
                                               A análise, porém, para quem quer ver o problema de frente, é simples: há muito tempo o sistema prisional brasileiro está falido e nunca houve o menor interesse do poder público em resolvê-lo. Para não dizer coisa pior, ou seja, essa sociedade está falida.
                                               Os Secretários de Segurança, junto com seus respectivos governantes ou chefes do poder executivo, fecham os olhos a tal realidade, sabendo-a grave.  Preferem o mais cômodo: refestelar-se em suas confortáveis poltronas, fazer demagogia, política barata e eleitoreira a tomar pé no problema e propor soluções sérias.
                                               É sabido que, por lotação excessiva nos presídios, os detentos matam-se entre si até por um ato de sobrevivência, pois o espaço não dá pra todos, o que, no mínimo, é um escândalo, que alarma o senso de escrúpulo e os sentimentos de humanidade das pessoas.
                                               Os presos sempre foram tratados como animais irracionais, sem qualquer respeito por sua dignidade. E isso, claro, é inaceitável. Quem fizer uma visita rápida aos nossos presídios poderá constatar o estado de penúria da população carcerária. Falta-lhes tudo: alimentação, roupas, cobertores para enfrentar as noites frias, condições mínimas de higiene e principalmente segurança. O espancamento e a tortura são práticas ainda adotadas em alguns presídios. Mas como não há corregedoria de presídios e como ninguém se importa com a causa do preso, a má administração e o péssimo tratamento à pessoa do detento continuam. Até que haja o que se vê agora: a rebelião dos marginalizados, deixando atônitos os responsáveis diretos pelo caos deflagrado.
                                               Vai-se tomar alguma providência, finalmente?
                                               Mas há quem tenha a opinião de que preso não é gente. É um marginal e, por isso, a sorte que melhor lhe cabe é a confinação nas masmorras.
                                               Será que há de aparecer alguém como uma idéia luminosa para por fim a tal calamidade, levado por um dever (não sentimento) de justiça? E de solidariedade humana?    
                                              


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