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Thursday, September 15, 2016

BIANCHON - Hamilton Alves




                                   Bianchon é um personagem de Balzac, que se destaca em algumas de suas narrativas (integra uma das mais importantes conhecidas, “O pai Goriot” - Bianchon frequentava a pensão da sra.Vauquer; a esse tempo, era estudante de medicina).
                                  
                                   É conhecido o fato de que, quando estava morrendo, Balzac mandou chamar, não um médico famoso de Paris, mas o seu personagem Bianchon, tal era a confiança que lhe depositava. Ou como se Balzac tivesse inventado criaturas nas quais tivesse insuflado vida. Na verdade, suas personagens dão, muitas vezes, a impressão de pessoas de carne e osso.
                                   Oscar Wilde, a respeito de “As ilusões perdidas”, declarou que, quando Lucien de Rubempré morreu, pareceu-lhe ter perdido um ente muito querido, tanto o fato lhe causara grande consternação.
                                   Há, assim, personagens que da mera ficção passam à realidade e convivem conosco no dia a dia.
                                   Certa vez, sonhei com Madame Bovary, com quem me dirigi a um restaurante, despertando admiração dos comensais. Tivemos que sair rapidamente do local, dado o extremo constrangimento de Emma de ser surpreendida pelo marido, Carlos Bovary.
                                    Citei esse episódio num conto em meu livro “Três cisnes de vidro”.
                                    Quando penso nela não o faço como uma personalidade de novela ou romance, mas como se fora vivente, que pode perfeitamente, súbito, atravessar a mesma rua que os humanos.
                                    Acho que esse era mais ou menos o tipo de obsessão de Balzac com seu grande personagem, Bianchon, ao chamá-lo para o atender na última hora, confiado em sua perícia profissional mais do que poderia crer na capacidade de outro médico.
                                   No caso de Emma, aqui relatado, qual a relação que pode ter o sonho e a realidade, sendo que não raras vezes o sonho permeia a realidade ou esta àquela. O que é, afinal, a realidade senão um sonho? Ou um sonho que não tenha sua aparência de coisa real? Em que, na verdade, se distinguem?
                                   Lembro-me de um sonho que se retratou tão fielmente na vida real que fui levado a formular essa pergunta: “que tem a ver o sonho com a realidade?”
                                   Entre o real e o ficcional (ou o sonhado) há uma linha tão difusa ou tão pouco distinta que difícil é estabelecer a diferença entre uma e outra.
                                  Assim, era a confiança que Balzac depositava em Bianchon, a criatura ficcional, que, para ele, existia na realidade. – e era o único que, na hora mais decisiva, poderia lhe conceder o remédio salvador. Ou resgatá-lo das garras da morte.
                                  E, para a literatura, evidentemente, isso é mais um ganho.
                                   Precisamos dela, como dizia André Maurois (biografia de Charles Dickens), como um universo de socorro. A vida que se colhe na ficção tantas vezes serve-nos como guia ou suporte. Para citar o exemplo máximo, “Don Quixote, o cavaleiro da triste figura”, salta de uma história de cavalaria como sendo a maior figura moral do ocidente. Foi com base nele que o ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil, Santiago Dantas, ditou o princípio de que “a doação de si mesmo resolve o problema do destino”.
                                   Don Quixote, Bianchon, Madame Bovary de criaturas de ficção passam à existência comum das pessoas reais.
                                  
 




                                                                                                                                



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