Manuel
Bandeira foi inegavelmente um dos nossos maiores poetas. Entre ele e Drummond
há uma disputa acirrada entre quem detém a coroa de melhor. Ambos viviam se
atribuindo a grandeza de ser o titular da poesia brasileira. É muito difícil
saber quem leva a palma. Mas isso tem pouca ou nenhuma importância pelo reconhecimento
de que têm momentos de grande poesia.
Elizabeth
Bishop disse certa vez que os poetas brasileiros, que conheceu durante sua permanência
no Brasil, e até os traduziu, eram muito provincianos.
Acho
que Elizabeth, que muito aprecio, não foi justa em sua crítica. Nossos poetas
(alguns) ganharam plena maturidade e podem se equivaler aos melhores conhecidos
mundialmente.
Mas
não é bem isso que me proponho a abordar nestas mal traçadas linhas. Quero me
ater a alguns aspectos ou pormenores da vida de Bandeira.
Em
outra ocasião, disse que Bandeira, segundo contado por ele, estava num
determinado local e, súbito, lhe aflorou um poema inteiro à mente. Procurou
afanosamente um lápis e um pedaço de papel; não os encontrou – e quando isso se
deu, o poema esvaneceu-se como bolha de sabão. Ficou muito triste de perdê-lo.
Seria
um grande poema ou não valeria a pena tanto esforço para conseguir lápis e
papel para compô-lo?
Quem
poderá dizer?
Outra
história atribuída a Bandeira é que dizia sempre que se sentia às vezes com
espírito infantil. Adorava ser fotografado e dar entrevista.
-
Pode ser criancice – dizia ele – mas gosto disso.
Qual
o melhor poema de Bandeira?
Desde
muito cedo vim a conhecer sua antologia poética, publicada pela editora do
Autor, que tenho comigo até hoje. Para os meus filhos recitava (e o
interpretava), quando nos recolhíamos em família, o poema belíssimo “Trem de
Ferro”, que é um dos grandes momentos de Bandeira. Parece que se está vendo o trenzinho
percorrendo a trilha dos canaviais, tão característico da região pernambucana,
onde Bandeira viveu e nasceu.
Mas
há um outro, que sei de cor, e vivo dizendo para amigos ou para mim mesmo, nas
horas que preciso me propiciar um pouco de beleza poética. Trata-se do “Poema
tirado de uma noticia de jornal”, que transcrevo para encerrar esta crônica:
“
João Gostoso era carregador de feira livre
E morava no Morro da Babilônia
Num barracão sem número
Uma noite, foi ao bar Vinte de Novembro
Bebeu,
Comeu,
Dançou,
E depois se atirou na Lagoa Rodrigues de
Freitas
E morreu afogado”.
Considero
esse poema um dos mais fortes da poesia brasileira ou de língua portuguesa. Ou
de qualquer parte do mundo. O que
considero de valor nele é a tragédia descrita em tão poucas palavras. Ou a
forma livre e bela como foi construído.
Bandeira tem outros poemas tão bonitos
quanto esse. Citá-los aqui seria um nunca acabar.
(junho/08).
No comments:
Post a Comment