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Monday, September 12, 2016

BANDEIRA - Hamilton Alves




                                   Manuel Bandeira foi inegavelmente um dos nossos maiores poetas. Entre ele e Drummond há uma disputa acirrada entre quem detém a coroa de melhor. Ambos viviam se atribuindo a grandeza de ser o titular da poesia brasileira. É muito difícil saber quem leva a palma. Mas isso tem pouca ou nenhuma importância pelo reconhecimento de que têm momentos de grande poesia.
                                   Elizabeth Bishop disse certa vez que os poetas brasileiros, que conheceu durante sua permanência no Brasil, e até os traduziu, eram muito provincianos.
                                   Acho que Elizabeth, que muito aprecio, não foi justa em sua crítica. Nossos poetas (alguns) ganharam plena maturidade e podem se equivaler aos melhores conhecidos mundialmente.
                                   Mas não é bem isso que me proponho a abordar nestas mal traçadas linhas. Quero me ater a alguns aspectos ou pormenores da vida de Bandeira.
                                   Em outra ocasião, disse que Bandeira, segundo contado por ele, estava num determinado local e, súbito, lhe aflorou um poema inteiro à mente. Procurou afanosamente um lápis e um pedaço de papel; não os encontrou – e quando isso se deu, o poema esvaneceu-se como bolha de sabão. Ficou muito triste de perdê-lo.
                                   Seria um grande poema ou não valeria a pena tanto esforço para conseguir lápis e papel para compô-lo?
                                   Quem poderá dizer?
                                   Outra história atribuída a Bandeira é que dizia sempre que se sentia às vezes com espírito infantil. Adorava ser fotografado e dar entrevista.
                                   - Pode ser criancice – dizia ele – mas gosto disso.
                                   Qual o melhor poema de Bandeira?
                                   Desde muito cedo vim a conhecer sua antologia poética, publicada pela editora do Autor, que tenho comigo até hoje. Para os meus filhos recitava (e o interpretava), quando nos recolhíamos em família, o poema belíssimo “Trem de Ferro”, que é um dos grandes momentos de Bandeira. Parece que se está vendo o trenzinho percorrendo a trilha dos canaviais, tão característico da região pernambucana, onde Bandeira viveu e nasceu.
                                   Mas há um outro, que sei de cor, e vivo dizendo para amigos ou para mim mesmo, nas horas que preciso me propiciar um pouco de beleza poética. Trata-se do “Poema tirado de uma noticia de jornal”, que transcrevo para encerrar esta crônica:
                                  
                                   “ João Gostoso era carregador de feira livre
                                      E morava no Morro da Babilônia
                                      Num barracão sem número
                                      Uma noite, foi ao bar Vinte de Novembro
                                      Bebeu,
                                      Comeu,
                                      Dançou,
                                      E depois se atirou na Lagoa Rodrigues de Freitas
                                      E morreu afogado”.
                                     
                                      Considero esse poema um dos mais fortes da poesia brasileira ou de língua portuguesa. Ou de qualquer parte do mundo.        O que considero de valor nele é a tragédia descrita em tão poucas palavras. Ou a forma livre e bela como foi construído.
                                      Bandeira tem outros poemas tão bonitos quanto esse. Citá-los aqui seria um nunca acabar.

(junho/08).



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