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Tuesday, September 20, 2016

CALVERO - Hamilton Alves

  
                                              
                                        Quando assistiu ao filme de Chaplin, Luzes da Ribalta, Carlos Drummond de Andrade contou a amigos (ou narrou numa crônica) que do cinema Metro, em Copacabana, até sua casa, na Rua Conselheiro Lafayette, distante seis quilômetros do cinema, fez toda essa caminhada para refletir sobre o tema desse grande filme, um dos maiores do cinema e destaque na filmografia do grande ator e cineasta.
                                       A história se resume no fato de certo dia, quando se recolhe bêbado, como de rotina, a sua modesta pensão, cujos degraus sobe com dificuldade, num quartinho pequeno e despojado, eis que vê uma fumacinha sair debaixo da porta do quarto vizinho. Empurrou-a, derrubou-a e o que constatou foi que, com isso, uma jovem queria por fim à vida. Depois revelou que essa era sua intenção porque estava privada de sua arte, a dança clássica (ballet).
                                        A partir de então, Calvero, que era um artista que passa por uma má fase, sem contratos com produtores de espetáculos, vivendo de coleta pública com outros artistas de rua, passou a se interessar pelo problema da moça, a incutir-lhe na cabeça que o que ela estava fazendo era incompreensível. A vida não sugeria que deve se lhe por fim, era um dom de Deus, e, fosse o que fosse, deveria ser preservada
                                       Paralelamente a essa ajuda prestada à jovem, Calvero acaba se apaixonando que, em relação a ele, tinha idade para ser sua filha. Nunca revelou essa paixão. A moça é que manifestou sentir por rele. Tentou dissuadi-la de tal absurdo sentimento. Ela insistia por convencê-lo que essa paixão não era fruto de gratidão de ter-lhe salvo a vida, mas, sim, de algo verdadeiro, nascido espontaneamente em seu coração.
                                       Calvero volta a tentar exibir-se em pequenos teatros, mas fracassa. Não é o mesmo artista aplaudido de outros tempos. Vê que não tem mais condições de revelar-se o grande Calvero de outros tempos. O desânimo o alcança. A moça agora, revertendo-se os papéis, procura encorajá-lo. Mas parece que Calvero se sente irremediavelmente liquidado. Entrementes, ensaia passos com a jovem no quarto em que mora. Até que um dia têm uma forte discussão. Ela esquece-se, por momentos, de que tem um problema de imobilidade, dá passos em sua direção, pelo que se aproveita para comprovar-lhe que tudo de que padece é uma inibição psíquica, que pode dominar e voltar a dançar.
                                         Os dois voltam juntos, no fim, a um espetáculo teatral. Em certo momento ela dirige-se a Calvero atrás do palco para lhe agradecer por tudo, por seu êxito, por voltar à dança, quando nova crise de paralisia lhe acomete. Ela inibe-se de voltar ao palco. Ele responde à crise aplicando-lhe um tapa no rosto, pelo que retoma seus passos de dançarina. Calvero segue no espetáculo com seu número, no que é delirantemente aplaudido, retomando seus grandes dias de glória. Mas por um acidente ocorrido no palco, vem a cair dentro de uma bacia, e ali fica entalado e vem a morrer à vista da jovem.
                                          O filme resume-se, mais ou menos, a esses dados.
                                          Também eu, a exemplo de Drummond, quando vi esse filme, não digo que, como ele, percorresse um trajeto de seis quilômetros, mas realizei, afortunadamente, uma viagem de carro de Tubarão, onde morava então, até a Ilha, ruminando os lances desse grande e inesquecível filme de Charles Chaplin, que passou à história do cinema como um dos seus maiores momentos.


(Nov/08)                                                                                           

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