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Sunday, September 18, 2016

BORGES - Hamilton Alves



                                   Não conheço toda a poesia de Jorge Luis Borges, e, sim, alguns poemas em que me pareceu ter sido muito bem sucedido. Embora a poesia não tenha sido seu forte. Foi mais feliz escrevendo contos, no que foi um dos melhores do mundo, na linha de Joyce, Tchecov, Hemingway, Kafka e outros desse estalão.
                                   Creio que de toda a poesia de Borges colhi num texto de prosa o seu melhor poema. Claro, para o meu gosto. Segue:
                                  
                                   “Buenos Aires é
                                     Na perdida noite
                                     Uma certa esquina do Once
                                     Na qual Macedônio Fernandes
                                     Segue me explicando
                                     A falácia da morte”.              

                                      Não me lembro onde recolhi esse poema em prosa.
                                      Macedônio Fernandes (todo mundo o sabe) era o amigo dileto de Borges, com quem conversava, aos sábados, dia em que ambos reservavam para esse encontro.
                                       Além de contista, Borges foi também ensaísta de escol. Em toda sua obra nesse gênero destaco “Sete Noites”, que se constitui de sete temas de sua predileção sobre os quais versa ou aprofunda.
                                      Esses temas integraram uma conferência que deu numa universidade dos Estados Unidos, para a qual outros escritores foram também convidados com a mesma finalidade. Ítalo Calvino foi um desses palestrantes, que desfilou seis assuntos palpitantes (eram para ser sete; Calvino deixou para escrevê-lo quando chegasse aos Estados Unidos e nunca o fez. O que foi uma perda para a literatura. O sétimo devia versar sobre o personagem “Bartleby”, de Melville, de sua  novela, “Bartebly, o escrivão”,   que depois editou com o título de “Seis propostas para o próximo milênio”. Devem  ambos (Calvino e Borges) ter produzido noites de gala nessa universidade, tal a beleza da matéria abordada em suas conferências, retratadas nos livros citados.
                                       Não sei que julgamento Borges fazia de sua condição de poeta. Li umas duas ou três entrevistas dadas por ele em que se refere a seus poemas como tendo certo destaque em sua obra.
                                       Particularmente (há quem possa opinar de modo diferente), acho que, como poeta, fracassou.
                                       Escapou esse poema acima transcrito, que menciona seu grande amigo, conversador emérito e pensador puro, que foi Macedônio, figura humana que, como descrita por Borges, deveria ser uma espécie de guru intelectual. Ou coisa semelhante.
                                        Não quero dizer que toda a poesia de Borges tenha sido ruim ou que não tenha boa qualidade. De todo o conjunto de sua poética sobram alguns poemas bem elaborados, mas que não chegam a atingir um alto nível de qualidade.
                                        Nem por isso, destacando-se na prosa, Borges deixou de ser um poeta – e um poeta grandioso. O prosador magnífico que foi bem o revela como tal.



(julho/08)                                                                                

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