Não
conheço toda a poesia de Jorge Luis Borges, e, sim, alguns poemas em que me
pareceu ter sido muito bem sucedido. Embora a poesia não tenha sido seu forte.
Foi mais feliz escrevendo contos, no que foi um dos melhores do mundo, na linha
de Joyce, Tchecov, Hemingway, Kafka e outros desse estalão.
Creio
que de toda a poesia de Borges colhi num texto de prosa o seu melhor poema.
Claro, para o meu gosto. Segue:
“Buenos
Aires é
Na perdida noite
Uma certa esquina do Once
Na qual Macedônio Fernandes
Segue me explicando
A falácia da morte”.
Não me lembro onde recolhi esse poema em
prosa.
Macedônio Fernandes (todo mundo o sabe) era
o amigo dileto de Borges, com quem conversava, aos sábados, dia em que ambos reservavam
para esse encontro.
Além de contista, Borges foi também
ensaísta de escol. Em toda sua obra nesse gênero destaco “Sete Noites”, que se constitui
de sete temas de sua predileção sobre os quais versa ou aprofunda.
Esses temas integraram uma conferência que
deu numa universidade dos Estados Unidos, para a qual outros escritores foram
também convidados com a mesma finalidade. Ítalo Calvino foi um desses
palestrantes, que desfilou seis assuntos palpitantes (eram para ser sete;
Calvino deixou para escrevê-lo quando chegasse aos Estados Unidos e nunca o fez.
O que foi uma perda para a literatura. O sétimo devia versar sobre o personagem
“Bartleby”, de Melville, de sua novela,
“Bartebly, o escrivão”, que depois editou com o título de “Seis
propostas para o próximo milênio”. Devem
ambos (Calvino e Borges) ter produzido noites de gala nessa universidade,
tal a beleza da matéria abordada em suas conferências, retratadas nos livros
citados.
Não sei que julgamento Borges fazia de sua
condição de poeta. Li umas duas ou três entrevistas dadas por ele em que se
refere a seus poemas como tendo certo destaque em sua obra.
Particularmente (há quem possa opinar de
modo diferente), acho que, como poeta, fracassou.
Escapou esse poema acima transcrito, que
menciona seu grande amigo, conversador emérito e pensador puro, que foi
Macedônio, figura humana que, como descrita por Borges, deveria ser uma espécie
de guru intelectual. Ou coisa semelhante.
Não quero dizer que toda a poesia de Borges
tenha sido ruim ou que não tenha boa qualidade. De todo o conjunto de sua poética
sobram alguns poemas bem elaborados, mas que não chegam a atingir um alto nível
de qualidade.
Nem por isso, destacando-se na prosa, Borges
deixou de ser um poeta – e um poeta grandioso. O prosador magnífico que foi bem
o revela como tal.
(julho/08)
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