Chovia
a cântaros. As valetas transbordantes inundavam as ruas. Era já um pouco tarde
da noite. O jovem resolveu dirigir-se a um rendez-vous nas proximidades por
onde, àquela hora, circulava. Ficava no fim de uma avenida, numa casa baixa,
amarela, descaiada, com um portão de madeira à entrada.
Foi
a medo que ali entrou.
Deparou-se
com um recinto pequeno, sob a luz tênue de um abajur de teto e, em torno de uma
sala redonda, com cadeiras e sofás, sentavam-se à espera de clientes algumas
mulheres.
A
proprietária era uma velhota magra, que procurava arrumar uns copos e garrafas
numa prateleira.
-
Margarida, - dirigia-se a uma jovem que devia ter menos de vinte anos, - venha
cá me ajudar.
A
garota ergueu-se de sua poltrona, segurou copos e pequenas garrafas à mão,
enquanto a mulher abria o guarda louça para ali enfiá-los.
Dois
senhores bebiam e esperavam noutro canto.
No
mais, reinava o silêncio.
O
jovem dirigiu-se a um balcão e pediu uma bebida, na tentativa de adaptar-se ao
local ou de mostrar que estava à vontade.
Observava
Margarida, magrinha, baixa, cabelos pretos compridos (ou assim lhe pareciam
naquela luminosidade que pouco fazia distinguir as coisas). Tinha um rosto
simpático, um corpo bem modelado. Ela o olhou em certo momento. O olhar de
ambos se encontrou.
Dirigiu-se
a uma poltrona.
Uma
música lenta, vinda de uma eletrola roufenha, inundava o espaço.
A
moça aproximou-se dele.
-
Vamos dançar?
Saíram
os dois para a pequena sala.
-
Não o conheço; é a primeira vez que vem aqui?
-
Sim, é a primeira vez.
-
Você está de visita à cidade?
-
Não, sou natural daqui mesmo.
Houve
um silêncio.
-
Aquela senhora que pediu tua ajuda, quem é ela?
-
É minha mãe.
-
Bem que desconfiei, quando te chamou para ajudá-la. São parecidas.
Depois,
os dois recolheram-se cada qual a seu lugar. O moço voltou à poltrona. E a
jovem foi novamente solicitada pela mãe e, dessa vez, chamou-a à parte em outra
peça.
Ele
ficou ruminando no que estariam conversando. Ou se a conversa poderia de algum
modo envolvê-lo.
A
moça voltou a alojar-se numa cadeira perto dele.
A
mãe aproximou-se de ambos e disse à filha:
-
Vai com o moço, filha. Ele é tão simpático.
A
moça agarrou-o pelo braço, levou-o por um corredor sombrio até a uma peça bem
no fundo. Entraram num quarto pequeno, com uma cama de casal, forrado de
cortinas azuis. Tudo era muito modesto, mas a cama parecia o docel de uma
princesa.
-
Este é seu dormitório?
-
Sim. Gosta?
-
Muito aconchegante.
Ela
discretamente desnudou-se, ele fez o mesmo. Beijaram-se, após o que se uniram à
cama.
O
corpo dela era delgado, de uma brancura acetinada.
-
Não pensei que você fosse tão bonita.
Não
tinha vencido seu nervosismo. Ajudou-o nisso o fato de ela o ter como que
iniciado nos jogos do amor. Entrou nesse jogo com toda a naturalidade, como se
fosse já bastante experiente.
-
Você tem namorada?
-
Não.
-
Você nunca esteve antes com uma mulher?
-
Não.
-
Verdade?
-
É sério.
Ela
riu-se. Voltou a beijá-lo com muita ternura.
-
Vou entrar para a sua vida como sendo sua primeira amante.
-
Nunca vou esquecê-la. A primeira vez deixa sempre uma marca.
Voltou
à rua.
A
chuva agora era mais forte e implacável. Foi a pé até sua casa, que ficava a
uma boa distância.
A
alma o empolgava durante essa travessia; não teria encontrado melhor parceira
para a sua estreia como amante.
A
chuva não o perturbava e muito menos o fato de se encontrar inteiramente
encharcado.
Sabia
que essa noite estava destinada a se eternizar em sua memória.
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