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Thursday, June 20, 2013

A PRIMEIRA VEZ – Hamilton Alves


Chovia a cântaros. As valetas transbordantes inundavam as ruas. Era já um pouco tarde da noite. O jovem resolveu dirigir-se a um rendez-vous nas proximidades por onde, àquela hora, circulava. Ficava no fim de uma avenida, numa casa baixa, amarela, descaiada, com um portão de madeira à entrada.
Foi a medo que ali entrou.
Deparou-se com um recinto pequeno, sob a luz tênue de um abajur de teto e, em torno de uma sala redonda, com cadeiras e sofás, sentavam-se à espera de clientes algumas mulheres.
A proprietária era uma velhota magra, que procurava arrumar uns copos e garrafas numa prateleira.
- Margarida, - dirigia-se a uma jovem que devia ter menos de vinte anos, - venha cá me ajudar.
A garota ergueu-se de sua poltrona, segurou copos e pequenas garrafas à mão, enquanto a mulher abria o guarda louça para ali enfiá-los.
Dois senhores bebiam e esperavam noutro canto.
No mais, reinava o silêncio.
O jovem dirigiu-se a um balcão e pediu uma bebida, na tentativa de adaptar-se ao local ou de mostrar que estava à vontade.
Observava Margarida, magrinha, baixa, cabelos pretos compridos (ou assim lhe pareciam naquela luminosidade que pouco fazia distinguir as coisas). Tinha um rosto simpático, um corpo bem modelado. Ela o olhou em certo momento. O olhar de ambos se encontrou.
Dirigiu-se a uma poltrona.
Uma música lenta, vinda de uma eletrola roufenha, inundava o espaço.
A moça aproximou-se dele.
- Vamos dançar?
Saíram os dois para a pequena sala.
- Não o conheço; é a primeira vez que vem aqui?
- Sim, é a primeira vez.
- Você está de visita à cidade?
- Não, sou natural daqui mesmo.
Houve um silêncio.
- Aquela senhora que pediu tua ajuda, quem é ela?
- É minha mãe.
- Bem que desconfiei, quando te chamou para ajudá-la. São parecidas.
Depois, os dois recolheram-se cada qual a seu lugar. O moço voltou à poltrona. E a jovem foi novamente solicitada pela mãe e, dessa vez, chamou-a à parte em outra peça.
Ele ficou ruminando no que estariam conversando. Ou se a conversa poderia de algum modo envolvê-lo.
A moça voltou a alojar-se numa cadeira perto dele.
A mãe aproximou-se de ambos e disse à filha:
- Vai com o moço, filha. Ele é tão simpático.
A moça agarrou-o pelo braço, levou-o por um corredor sombrio até a uma peça bem no fundo. Entraram num quarto pequeno, com uma cama de casal, forrado de cortinas azuis. Tudo era muito modesto, mas a cama parecia o docel de uma princesa.
- Este é seu dormitório?
- Sim. Gosta?
- Muito aconchegante.
Ela discretamente desnudou-se, ele fez o mesmo. Beijaram-se, após o que se uniram à cama.
O corpo dela era delgado, de uma brancura acetinada.
- Não pensei que você fosse tão bonita.
Não tinha vencido seu nervosismo. Ajudou-o nisso o fato de ela o ter como que iniciado nos jogos do amor. Entrou nesse jogo com toda a naturalidade, como se fosse já bastante experiente.
- Você tem namorada?
- Não.
- Você nunca esteve antes com uma mulher?
- Não.
- Verdade?
- É sério.
Ela riu-se. Voltou a beijá-lo com muita ternura.
- Vou entrar para a sua vida como sendo sua primeira amante.
- Nunca vou esquecê-la. A primeira vez deixa sempre uma marca.
Voltou à rua.
A chuva agora era mais forte e implacável. Foi a pé até sua casa, que ficava a uma boa distância.
A alma o empolgava durante essa travessia; não teria encontrado melhor parceira para a sua estreia como amante.
A chuva não o perturbava e muito menos o fato de se encontrar inteiramente encharcado.
Sabia que essa noite estava destinada a se eternizar em sua memória.


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