Cony vem de publicar
recentemente uma crônica em que sugere que, para uma perfeita avaliação dos
quatro candidatos que disputam a Presidência da República, fossem todos
submetidos a uma espécie de gincana no estilo mais ou menos do "Big
Brother", em que fossem confinados num determinado local durante uma
semana, em que lhes coubesse fazer de tudo para sobreviver, como fazer a
própria comida, lavar louça, roupa, varrer a casa, pregar botão na roupa,
arrumar a cama e outras tarefas semelhantes.
Ao fim, dependendo do
desempenho de cada um, entregues a todo tipo de afazeres domésticos, era
possível uma justa avaliação de sua capacidade para presidir o país.
Fiquei imaginando se
este vosso escriba tivesse que passar por idêntica experiência de suas aptidões
pessoais. Creio que seria um desastre total e absoluto. Não sou um homem
prático, a começar por esse perfil. Se queimar o fusível, como já me aconteceu
tantas vezes de ser chamado para corrigir esse pequeno defeito elétrico na
casa, vejo-me atarantado, sem saber por onde começar. Noutra crônica contei o
episódio de que, num fim de semana, em que cheguei à casa de praia, com um lote
considerável de comida, inclusive frios, a geladeira, súbito, para meu
desespero, deu um estouro e pifou. Minha mulher me olhou aterrada.
-
Que
fazer ? - perguntou-me, sabedora de antemão que de modo algum poderia
contar comigo para resolver o terrível
impasse.
-
Vamos
chamar o Raul. - ponderei-lhe.
- A essa hora da noite o Raul deve estar no segundo sono. -
respondeu-me ela, ainda mais em pânico.
Corria-se o risco de
tudo o que se guardava na geladeira, no outro dia, estivesse sem condições de
ser utilizado.
Vencidas as primeiras
hesitações, ela acabou cedendo em que, por bem ou por mal, se convocasse o Raul.
Estremunhando, de
olhos ainda sonolentos, o Raul, meu vizinho, atendeu-me à porta da casa.
-
Que
é que há, cara ?
-
A
geladeira... - disse.
-
O
que é que tem a geladeira ?
-
Deu
um estouro e parou de funcionar.
O Raul, sempre
solícito, passou por uma cerca divisória entre as nossas casas, caindo de sono,
dirigiu-se ao local em que estava a dita geladeira.
Abriu-a, olhou-a aqui
e ali, apertou um troço que não sei dizer de que se trata atrás e, de repente ,
não mais que de repente, a geladeira começou a funcionar a pleno vapor, para
meu espanto.
O Raul foi embora e
caí em profunda humilhação.
Agora, imagina-se,
como sugerido pelo Cony, tivesse que ser levado a um programa espécie de
"Big Brother", para avaliação de minhas possibilidades!
Estaria
irremediavelmente perdido.
Setembro/2002.
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