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Thursday, June 27, 2013

O SEGREDO PROFUNDO DO COSMOS - Hamilton Alves


Caminhava lentamente madrugada
adentro, poucas as pessoas

Que àquela hora percorriam
as ruas da cidade e só

De quando em quando
ouvia-se pequeno ruído

Produzido por algo que não
se sabia precisar o que fosse,

Com o céu toldado e nenhuma
estrela nele apontando,

Um vento cortante e frio
produzindo um frêmito

Na alma, que, de si, ia
perdida em tantas conjecturas,

Com os guardas noturnos
envolvidos em suas fardas

E de longe em longe
trilando no ar o intermitente

Apito, no convívio com fantasmas
díspares e igualmente estranhos,
  
Quando, súbito, a questão
cristalina se colocou:

"O mistério das coisas é claro,
tudo se abre à esperança"

A madrugada, a essa altura,
ia já se desvanecendo ao longe,

As primícias de um radioso dia
se entremostravam na linha

Do horizonte e uma tênue
luz se definia nas cercanias

Onde o mundo parece acabar
e onde a negra noite se esconde.

O ritmo de meus passos
vagarosos percutia no chão,

E só esse toc-toc harmonioso
e único se destacava

Na solidão imensa que me
engolfava e aturdia.

Aprofundei em mim toda
a vã razão e coloquei
  
A questão completa e
radiosa em meu espírito

A examiná-la por todos
os ângulos possíveis

De verdade inabalável
que pudesse afinal conter

E, naquela hora, me
permitisse um desafogo,

O encontro com o absoluto
pelo qual tanto anseiam

Os homens que, como eu,
em tantos outros lugares,

Se encontravam perdidos,
perplexos, e, pobres coitados,

Desesperados e esmagados
perante todas as incertezas.

"Não há mais lugar
à dúvida: teu espírito

Ainda não se abriu
generoso à fé"

Uma janela num prédio
se abriu iluminada

E alguém debruçou-se
nela, como se naquele

Momento acabasse de
acordar ou por alguma razão

Fiscalizasse a rua
silenciosa e erma.

Teria visto daquela altura
esse homem perdido

Em si mesmo no trânsito
ensimesmado pela cidade,

Julgando-o um ébrio,
um vagabundo ou boêmio?

Diante de mim apenas
era visível o negrume

Dos objetos e das coisas
que pouco a pouco fugiam

À indistinção provocada
pela progressão da luz.
  
Um carro passou célere,
um cachorro latiu,

Um rato saiu de dentro
do toco de uma árvore,

Enquanto se acentuava
mais e mais a dor crucial

Das incertezas que empolgavam
a alma que, àquela

Altura, chegava ao fim
de sua jornada noturna

Foi aos primeiros tons
definidos do que era dia

Nascido que vislumbrei
então claramente

A grandeza imensurável
de todas as coisas e

A verdade que se irradiava
de todos os seres vivos

Como se cada um proclamasse
o segredo profundo do cosmos.




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