Na
galeria Fretta, de minha prezada amiga dona Helena Fretta, descobri três
quadros de Mayer Filho, homem de percepção rara da beleza e sem dúvida alguma
um dos nossos melhores pintores. Em vida, Mayer nunca foi um artista muito
considerado, como ocorre em
geral. Quando viva, a pessoa priva conosco no dia a dia e,
por maior gênio que tenha, nunca lhe damos a devida dimensão ou a importância
que tem.
Mayer
Filho era um cabotino assumido. Comprazia-se em auto-elogiar-se. É indiscutível
o fato de que Aldemir foi também um grande artista. Tive chance há pouco (não
consumada) de comprar um gato pintado por ele por preço módico que era uma beleza.
Mas Mayer não lhe deve nada. Os dois se equivalem ou têm a mesma grandeza. Pode
ser que, em matéria de “galo”, no que Mayer se especializou, ninguém lhe leva a
palma. É o maior “galista” brasileiro, se é que posso idenficá-lo assim.
Certa
vez, numa sapataria de São Paulo, vi um painel de Aldemir retratando um
sapateiro batendo a sola de um sapato num formão. Uma parte do painel estava
coberta por um pano branco. Adivinhei logo que o autor do painel era Aldemir.
Sua marca registrada estava muito visível.
Curioso
de saber o motivo porque se cobria uma boa parte do quadro, chamei o gerente.
-
Por que cobriram parcialmente a tela?
-
Não sei explicar, senhor. Talvez meu colega saiba.
Chamou
o colega, que também não me deu maiores explicações.
-
Sabem quem é o autor desse quadro?
-
Não. – responderam um e outro.
-
É de Aldemir Martins, um dos pintores mais conceituados do país.
Calculo
que o preço da tela, pelo nome que Aldemir já tinha feito, com prêmios em
bienais na Europa, devia ser considerável.
Notei
que ambos ficaram pasmos quando me referi ao prestígio de Aldemir. Ocorreu-me
de ir a São Paulo, pelo mesmo motivo, pouco tempo depois. Passei na tal
sapataria de novo. E agora vi a tela de Aldemir exposta por inteiro. De alguma
forma a minha crítica ou minha referência à importância de Aldemir valera de
alguma coisa.
Mas
estou me referindo especificamente a Mayer Filho. Aldemir só entrou secundariamente
nesta conversa.
Lembro-me
que Mayer, por volta da década de 50, lançou uma exposição no saguão de um prédio
central. Escandalizou todo o mundo porque seguia uma linha rigorosamente
surrealista. Ninguém, à época, sabia nada de surrealismo.
Agora,
vejo três obras suas, a preço ainda barato, na galeria Fretta.
Em
outra praça, esses quadros teriam já sido adquiridos.
Não
vou revelar qual deles me atrai mais.
Prometi
à Dona Helena que assim que minhas finanças melhorarem um pouquinho vou lá
pegar o quadro de Mayer que reservou para mim. Trata-se de uma das melhores
coisas que produziu. Registro, ainda, que na galeria do d’Acampora, morto há
pouco, deixei de adquirir uma tela dele de 1 m por 80 cm que talvez tivesse sido o melhor quadro
que já pintou: dois galos brigando, de pé, com o sol de fundo. Andei à cata desse
quadro. Mas tudo que soube, pelo filho de Mayer, meu amigo também, é que a
família o recolheu (em boa hora) ao acervo do artista.
Mayer,
como disse, era cabotino, mas desses cabotinos que se aceitam com simpatia.
abril/08
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