Total Pageviews

Sunday, July 14, 2013

O ANDARILHO - Hamilton Alves


Pelas ruas caminha o andarilho
preferindo os becos solitários
na busca vã de costurar
seus pensamentos soltos.

Cruza a cidade em todos os
sentidos num itinerário
irregular como se trafegasse
no mistério de sua alma.

"As sombras (ouve-se dizer) -
as sombras me empolgam, em
toda parte as encontro e
as amo como nada neste mundo".

Na esquina próxima surpreende-o
uma barata cascuda, feia como
a própria fantasmagoria da rua -
que passa incólume sob seus pés.

A barata, ainda que não se suponha,
traça-lhe na imaginação um perfil
poético, que descarta no entanto
por preguiça, cansaço ou tédio.

Do mar da baía norte vêm eflúvios
mansos e gasosos e aspira a
longos sorvos esta seiva que
precisa para sobreviver.

Vai longe a esta hora vaga
o herói noturno, que em vão
no trânsito banal pela cidade
busca ordenar seu poço sem fundo.


No comments:

Post a Comment