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Friday, July 26, 2013

O HOMEM ARANHA II: Trazido das páginas do Gibi, a história em quadrinhos famosa passa a ser um clássico do cinema. – por Hamilton Alves


            Fui, como todo o garoto de minha geração, um fanático por HQ (Histórias em Quadrinho). Há, hoje, como sabido, no mundo todo, jovens e velhos (estes passando a barreira notável dos oitenta anos) que ainda se dedicam com interesse quase psicótico por qualquer coisa que diga respeito à HQ e são capazes de empregar uma nota preta na aquisição de um álbum do Fantasma Voador, do Mandrake ou do Príncipe Namor (também conhecido por Príncipe Submarino), tal o fascínio que esses personagens exercem sobre tais pessoas.
            Colecionei até certa idade, se me lembro bem, gibis de todos os tipos e tamanhos. Hoje, se os tivesse comigo ou conservado, teria um acervo avaliado em alguns milhares de reais, porque ainda tem doido de sobra, como disse, que é capaz de pagar boa grana por um simples gibi, que, em meu tempo, na banca do Beck, na Praça Quinze, custava 0,50 centavos. Minha querida avó tirava esse dinheirinho ganho com tanto sacrifício de suas economias para satisfazer o desejo incontido de seu neto à compra de um exemplar de Gibi semanal com as histórias inesquecíveis de Bronco Piler e Castor, Polícia Montada, Doutor Kildare, Zorro e seu amigo Tonto e tantas outras que enriqueceram a minha infância de fantasia. Afora, “O Globo Juvenil Mensal”, “O Guri” e outras edições do gênero, que eram também igualmente objeto de meu fascínio.
            Até um certo tempo, lembro-me que meus gibis formavam pilhas. Havia então o troca-troca, que, em certos casos, provocou muita briga entre os aficionados. Furtos eram incontáveis. Cada qual procurando se apropriar dos gibis alheios. E eu não era exceção à regra.
            “O Homem Aranha” estava inscrito na galeria dos heróis do “Gibi” já àquela época. Figuravam, entre os mais apreciados, Super-Homem, Fantasma Voador, Tocha Humana, etc. Mas não chegou a ser um personagem que figurasse na minha preferência. Há coisas assim inexplicáveis. Por que não me interessei pelo “Homem Aranha”? Não exercia atração sobre mim. Via aquele sujeito, com uma farda já de si pouco simpática, a subir pregado às paredes, os arranha-céus. Voava como Marvel e o Super-Homem. Também não cheguei a me apaixonar pelo Capitão Marvel, que, a meu ver, não tinha uma cara que o recomendasse. Não chegava perto do “Super-Homem”, que imitou em quase tudo. Não dava para comparar um e outro. O “Super-Homem” era melhor em tudo e convencia mais, mesmo voando, que era uma de suas especialidades.
            Bem, o fato é que “O Homem Aranha” me passou à margem, sem maior interesse. Acho até que, para a minha geração, já apaixonada e enfeitiçada por outros heróis de maior calibre, “O Homem Aranha” (a não ser que haja aí na platéia quem queira resgatá-lo em sua fama) não chegou a empolgar. Passou-nos como um personagem secundário. Que me perdoe quem discorde.
            Mas agora, sem um plano preconcebido, fui a uma videolocadora e ali, em destaque, anunciava-se o filme “O Homem Aranha II”, dirigido por um cineasta com uma folha corrida já bem recheada de bons filmes, Sam Raimi, e com atores (Tobey Maguire no papel de Homem Aranha) não tão conhecidos, mas que, apesar disso, conseguem ter um excelente desempenho, como, de um modo geral, o elenco todo impressiona bem.
            Antes de levar o filme tive o cuidado de perguntar à locadora sobre a opinião dos que já o haviam assistido. Obtive a informação de que, de um modo geral, o filme vinha agradando a gregos e avaianos, pelo que resolvi, numa noite que convidava ao recolhimento, pois chovia a cântaros, levá-lo para ver o bicho que ia dar.
            “O Homem Aranha” – só agora o descubro (antes tarde do que nunca) – expele de seus punhos uma gosma elástica, que deve ser a mesma (ou semelhante), parodicamente, com que as aranhas comuns armam suas teias tão resistentes até a vendavais. Com tal gosma gruda-se às paredes, sobe nos prédios, faz uma rede resistente até para reduzir a velocidade de locomotivas ou para grudar qualquer coisa, entre as quais, nesse filme, o seu grande inimigo, que se arma de potentes braços mecânicos, capazes de destruir tudo. Lembra muito esse personagem o inimigo nº. 1 de Batman (O Homem Morcego), o maquiavélico Pingüim, que é perito em armar tantas ciladas para seu terrível combatente.
            E, vendo o filme, comparável aos melhores que já assisti, deu-me uma nostalgia e ao mesmo tempo um atroz arrependimento de não ter incluído, em meu tempo de ledor de Gibi, “O Homem Aranha” entre meus heróis preferidos. Nesse filme ele está soberbo. Mas sua história pessoal é triste. Não tem o direito de amar, como todo o ser humano. Sua namorada se decepciona com ele, quando, na pele de um homem comum, por ser sempre, em virtude das funções por ele exercidas, desconhecidas da namorada de ser um outro personagem ou de habitar-lhe a persona heróica de um ente com poderes especiais, um retardatário, que nem mesmo a sua estréia numa peça, em vezes seguidas, comparece, com a cadeira que lhe era destinada regulamente vazia, demonstrando sua inexplicável ausência ou seu desinteresse (assim visto por ela) de apreciar seu espetáculo.
            Mas enquanto ela se exibia na peça de teatro, já atriz famosa, “O Homem Aranha” andava grudado nos prédios e voando pela cidade na perseguição de bandidos ou de seu truculento inimigo, “Dr. Octopus”.
            Em matéria de filme de aventura vou dizer uma heresia: supera “Flash Gordon no Planeta Mongo”, pois “O Homem Aranha” me pareceu mais convincente em sua arte de andar pelos ares e de ser capaz de suportar a queda de um conjunto de metais pesadíssimos na defesa de sua namorada.
            Mas no fim, quando deve comparecer a uma Igreja para casar-se com outro, o noivo a espera em vão, porque em desabalada carreira vai em busca de seu namorado retardatário, “O Homem Aranha”, agora em carne e osso, para lhe revelar que “sem ele não pode viver”.
            A luta travada entre “O Homem Aranha” e o “Dr. Octopus”, no fim, é um grande momento, tal a ferocidade dessa luta, diria que muito mais impressionante da que Starret trava com Shane em “Os brutos também amam”.
            E eu, no fim das contas, que julgava levar para casa um filme para vencer uma noite ilhado (ou recolhido) por um aguaceiro, descobri que havia assistido a um clássico do cinema de aventuras, que se incorporará a meu acervo particular dos filmes que conseguiram produzir em mim uma lágrima. Uma lágrima reverencial a esse herói, “O Homem Aranha”, na luta sem quartel do bem contra o mal.


                
                       

            

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