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Monday, July 15, 2013

COMO VAI A PERFOMANCE CULTURAL ? (embora sem dados estatísticos - ou com estatísticas grosseiras – pode-se dizer que não é nada animador o quadro atual da cultura em âmbito mundial).- por Hamilton Alves



Outro dia, numa resenha para um jornal, Sérgio Augusto revelou que os jornalistas de cultura já não são tão requisitados ou sequer considerados com a importância que desfrutavam há uns tempos passados. E não faz tanto tempo assim. De ano para ano, tais profissionais (uma classe bastante numerosa) vêem paulatinamente decair seu prestígio. “A coisa está feia” – diz Sérgio a certa altura de seu artigo. Ele se referia a um encontro desses profissionais recentemente realizado nos Estados Unidos, em que o tema geral dos debates foi exatamente o de saber até que ponto se deteriorava ou perdia prestígio sua presença nos jornais. O certame trazia o nome de National Critics Conference. O encontro teve por local a cidade de Los Angeles, em maio do corrente ano.
O resultado colhido através do depoimento de participantes foi de certo modo acabrunhador, pois todos revelavam que vinham perdendo gradativamente terreno na mídia e o fenômeno é que decaia, a olhos vistos, a busca de informação cultural através da imprensa especializada (ou dos jornalistas que a representavam). Mas nem tudo foram lamentações. Houve pequeno grupo que via como passageiro o fenômeno, embora também reconhecesse que os tempos não são muito favoráveis, tanto é que o espaço de alguns jornais já não contempla matéria cultural.
Daria para sentir algo semelhante na imprensa brasileira? Quem são os jornalistas que ainda assinam artigos ou resenhas de cultura? São muitos, poucos ou uns gatos pingados? Não conheço mais que meia dúzia de nomes dos que formam no primeiro time. Pode ser até que haja outros pintando aqui e ali, mas os grandes nomes conhecidos não são muito numerosos. Formam um pequeno grupo. Nos Estados Unidos, que é incomparavelmente mais rico do ponto de vista de estrelas de primeira grandeza no jornalismo, perderam-se recentemente as figuras exponenciais de Pauline Kael, crítica de cinema, e Susan Sontag, que abrangia uma gama muito grande de áreas culturais, desde a literatura, passando pela pintura, pelo teatro, cinema, etc.
A baixa desses dois nomes foi muito sentida pelos jornais que acolhiam sua opinião com muita freqüência, sem falar em outro monstro sagrado, H.L. Mencken, podendo-se mencionar ainda Clement Greenberg, que foi por vários anos o papa da crítica de artes visuais, além de outros de menor porte, mas que vinham se mantendo inalteradamente no pódio dos nomes mais cotados do jornalismo cultural dos EUA.
Com o desaparecimento de tais figuras, a imprensa viu-se servida por uma casta muito heterogênea, sem alcançar o nível daqueles – o que pode ter sido responsável, em grande parte, pela queda de qualidade dos novos valores.
Podem-se fazer testes locais ou pesquisas pelo índice de venda de nossas livrarias. A bem dizer, temos cinco livrarias de porte considerável. Em contato com seus gerentes, que conhecem bastante bem o volume de vendas, a informação é de que a situação não é das melhores. Seria o caso, por exemplo, de um Kafka, Dostoievski, Tolstoi, Tchecov, Beckett, Hemingway, esses grandes nomes, que, em qualquer época – a mais adversa para livreiros – são bastante procurados.
Que dizer dos escritores regionais ou brasileiros? Quem é que vende mais entre eles? Um primeiro nome assume, desde logo, a liderança. Nem precisa dizer quem é. Ou precisa? Paulo Coelho no topo.
Quem mais dentre os mais conhecidos? Talvez se possam citar Cony, Rubem Fonseca, Lígia Fagundes Telles, Luiz Fernando Veríssimo, Moacir Scliar e alguns outros.
As editoras continuam rejeitando maciçamente nomes novos, com receio de que o mercado, na forma como vem reagindo até com os grandes nomes, não corresponda à menor expectativa.
Qual a solução para o problema?
Não há aqui a realização de uma National Critics Conference como em Los Angeles se fez em maio último, a fim de analisar miudamente a questão.
Há pouco, foi lançada uma coleção de grandes títulos e de autores de fama internacional, com suas obras primas, nem por isso a venda foi um sucesso. Até houve o caso de uma obra das mais festejadas pela crítica mundial, “Morte em Veneza”, de Thomas Mann, que numa banca ficou por três ou quatro meses boiando. Adquiri dois exemplares. Como um terceiro havia sobrado, acabei também o adquirindo para dar de presente a um amigo.
Trata-se de um clássico internacional e de um escritor premiado com o Nobel.
Imagine-se o que ocorre com quem não alcançou tal notoriedade!
Apesar disso tudo, o livro ainda vende. O quadro não é tão desalentador assim. Há apaixonados por literatura, que são capazes de atos de loucura para adquirir uma obra literária, que constitua uma raridade. É, claro, um pequeno grupo, que evidentemente não pode mudar muito o panorama.
O jornalismo cultural está intimamente relacionado ao comércio de arte. Quando um acabar ou sentir o abalo de indiferença de público, o outro também cairá pelas beiradas. Um suporta ou depende do outro.
Como o fenômeno da queda de prestígio desses profissionais foi constatado e proclamado no encontro da National Critics Conference, é possível admitir-se que isso tenha fortes reflexos no baixo interesse por arte do público, que prefere entretenimentos por via eletrônica, concentrando a atenção principalmente de jovens. Ou então o fato se explica pela baixa qualidade das pessoas para as quais a literatura ou as artes de um modo geral não têm mais nada a lhes dizer. Ou não constituem, para eles, um atrativo como há tempos passados.
O mundo se deteriora sob vários aspectos, seria o caso de dizer-se?
Sem exageros, o fato é que o mar não está pra peixe.
Mas ainda há quem tenha uma visão animadora diante das piores perspectivas.



                                                      
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