O poeta é um cara
que come, bebe,
dorme, fornica,
e, ao contemplar-se nu,
durante o banho,
não se concebe como tal.
Até porque, segundo
ainda essa linha de pensamento,
é inconcebível ter-se como
poeta se tem duas pernas,
dois braços,
uma boca,
dentes,
uma cabeça,
duas orelhas,
toda sua precariedade física.
O poeta anda na rua,
fala com pessoas,
lê jornais,
entra e sai de prédios,
corta o cabelo,
faz as unhas,
fala horas ao telefone,
ri e angustia-se,
à noite recolhe-se ao leito -
antes, à máquina de escrever,
sempre lhe ocorre produzir
uma ou outra coisa.
Mas a só idéia de ser tido
como poeta é algo
que colide com sua pobre
contingência de ser.
No comments:
Post a Comment