Há
alguns anos (vinte ou trinta, não sei exatamente) conheci num restaurante, a
céu aberto, no centro de Sampa, um mineiro simpático, com o qual travei conversação
pelo fato de ocuparmos a mesma mesa com outro amigo de nós ambos.
Conversa
vai, conversa vem, o mineiro me revelou que tinha naquele dia a última chance
de prolongar sua permanência na pauliceia (desvairada). Perguntei qual era essa
chance, respondeu:
-
Joguei na cabra, centena e grupo. Se der cabra, ficarei por mais algum tempo
aqui; caso contrário, terei que voltar a minha cidadezinha em Minas. Não disse qual
era.
Essa
revelação, não sei por que, soou-me simpática. E se simpatizara de saída com o
mineiro, ela me levou a aprofundá-la.
Havia
alguém neste mundo que apostara numa centena da cabra, no jogo do bicho, para
tentar a sorte, no caso, de ficar por mais uma ou duas semanas numa cidade ou
teria que regressar aos seus pagos sem apelação.
Abordamos
outros temas no curso da conversa, mas o da cabra, que esperava ganhar para
poder ficar ali por mais algum tempo, foi que me restou na lembrança desse
encontro de tantos anos passados.
De
alguma forma, por mais algum tempo de estada em Sampa, esperaria obter algum
outro objetivo. Se desse naquele dia a cabra, como esperava, isso lhe abriria
novos horizontes em sua meta. Parecia-me que via o retorno compulsório a sua terral
mineira como uma frustração ou como uma decisão que poria fim a um sonho.
O
mineiro alongou-se em comentários sobre outro assunto com meu amigo. Mas o caso
da cabra é que sobrelevou aos demais. Ou ganharia na cabra ou estaria mal
arranjado. Tudo que lhe restaria seria pegar sua mala, em algum hotelzinho ou
espelunca, e tomar o ônibus de volta
Separamo-nos
desse breve encontro.
A
despedida foi calorosa.
-
Espero que a sorte lhe bafeje.Tudo está indicando que vai dar cabra hoje. -
disse-lhe o amigo.
Outro
tanto lhe desejei.
Fomos
embora para onde nos empurrava um compromisso a ser cumprido dentro de poucas
horas.
Andamos
de um lado para outro feito moscas. Até que entramos num edifício onde,
finalmente, se concluiria, naquela tarde, uma missão qualquer.
Voltei
para o apartamento do amigo.
Repousamos
de uma longa andança pelas ruas de São Paulo, que exaurem qualquer cristão.
Saí
à rua para comprar um jornal.
Entrei
num bar.
Perguntei
a um dos garçons se sabia que bicho tinha dado naquele dia. Indicou-me o
jornaleiro, que sabia sempre dos resultados.
-
Que bicho deu? – lhe perguntei.
-
Até agora não veio o resultado. – disse ele.
Ficava
ainda em suspenso a hipótese de o mineiro poder passar mais uma curta temporada
em Sampa.
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