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Wednesday, August 14, 2013

A CABRA - Hamilton Alves


 


Há alguns anos (vinte ou trinta, não sei exatamente) conheci num restaurante, a céu aberto, no centro de Sampa, um mineiro simpático, com o qual travei conversação pelo fato de ocuparmos a mesma mesa com outro amigo de nós ambos.
Conversa vai, conversa vem, o mineiro me revelou que tinha naquele dia a última chance de prolongar sua permanência na pauliceia (desvairada). Perguntei qual era essa chance, respondeu:
- Joguei na cabra, centena e grupo. Se der cabra, ficarei por mais algum tempo aqui; caso contrário, terei que voltar a minha cidadezinha em Minas. Não disse qual era.
Essa revelação, não sei por que, soou-me simpática. E se simpatizara de saída com o mineiro, ela me levou a aprofundá-la.
Havia alguém neste mundo que apostara numa centena da cabra, no jogo do bicho, para tentar a sorte, no caso, de ficar por mais uma ou duas semanas numa cidade ou teria que regressar aos seus pagos sem apelação.
Abordamos outros temas no curso da conversa, mas o da cabra, que esperava ganhar para poder ficar ali por mais algum tempo, foi que me restou na lembrança desse encontro de tantos anos passados.
De alguma forma, por mais algum tempo de estada em Sampa, esperaria obter algum outro objetivo. Se desse naquele dia a cabra, como esperava, isso lhe abriria novos horizontes em sua meta. Parecia-me que via o retorno compulsório a sua terral mineira como uma frustração ou como uma decisão que poria fim a um sonho.
O mineiro alongou-se em comentários sobre outro assunto com meu amigo. Mas o caso da cabra é que sobrelevou aos demais. Ou ganharia na cabra ou estaria mal arranjado. Tudo que lhe restaria seria pegar sua mala, em algum hotelzinho ou espelunca, e tomar o ônibus de volta
Separamo-nos desse breve encontro.
A despedida foi calorosa.
- Espero que a sorte lhe bafeje.Tudo está indicando que vai dar cabra hoje. - disse-lhe o amigo.
Outro tanto lhe desejei.
Fomos embora para onde nos empurrava um compromisso a ser cumprido dentro de poucas horas.  
Andamos de um lado para outro feito moscas. Até que entramos num edifício onde, finalmente, se concluiria, naquela tarde, uma missão qualquer.
Voltei para o apartamento do amigo.
Repousamos de uma longa andança pelas ruas de São Paulo, que exaurem qualquer cristão.
Saí à rua para comprar um jornal.
Entrei num bar.
Perguntei a um dos garçons se sabia que bicho tinha dado naquele dia. Indicou-me o jornaleiro, que sabia sempre dos resultados.
- Que bicho deu? – lhe perguntei.                
- Até agora não veio o resultado. – disse ele.
Ficava ainda em suspenso a hipótese de o mineiro poder passar mais uma curta temporada em Sampa.                                  
                                  
                                 

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