Num dia desses minha casa pôs-se em
pânico por motivo de um probleminha à toa. Coisa de não provocar maiores
preocupações nem ansiedades- ocorre que, na área de serviço, foi descoberto,
percorrendo um trecho pequeno, um camundonguinho. Foi um corre-corre.
Fustigou-se-lhe com a vassoura na presunção de que se escondera atrás da
máquina de lavar roupa e, ali, aplicou-se uma dose maciça de veneno, mas
baldadamente, porque no dia seguinte dera, de novo, o ar de sua graça.
Novamente, foi-se em sua perseguição, com aplicação de mais raticida.
-
Dessa vez ele não escapa. – Comentou uma pessoa da família, zelosa da boa ordem
doméstica.
Dois
dias se passaram e nada do rato, pelo que se concluiu que devia aparecer morto
em algum lugar. Mas houve nova aparição dele. Dessa vez, não saíra da área de
serviço, mas debaixo do fogão. Como fora parar ali? Todos queriam saber.
Trancafiara-se a porta de acesso da área de serviço para o espaço que dá para a
copa (onde está o fogão), evitando-se justamente que a invadisse e fizesse suas
estripulias a família começou a estudar uma nova estratégia para dar cabo do
ratinho. Foi feita uma mistura de sobra de comida com veneno. Ele, de madrugada
(pois é a hora que se sente mais livre para atacar) comeria aquela gororoba e
esticaria de vez, não dando mais incômodo.
Estávamos
todos confiantes no sucesso desse plano. No dia seguinte, fomos olhar a sobra
de comida envenenada colocada numa caixinha de papelão, e notou-se que, de
certo, ele não embarcara na canoa, pois não havia o menor sinal de que lhe
apetecera o “presunto”. Devia, portanto, estar ainda vivo e bem vivo. Quê
fazer? Nenhuma providência foi tomada, pois passara os dias seguintes sumido. E
já o dávamos por caso encerrado. Provavelmente, a quantidade de tóxico que se
colocara atrás dos locais em que costumava ficar fora dessa vez fatal. Houve
uma busca para ver se se descobria seu corpo por fim hirto. Mas nada. Como não
dava mais “bandeira”, a preocupação deixou de existir. Até que, numa noite
dessas, voltando de uma festa com amigos, procurava um remédio para curar o
mal-estar decorrente da ingestão de bebida alcóolica para evitar uma ressaca
matinal, quando dou de cara com o safado. Estava visivelmente cambaleante, mal
se sustentava nas perninhas. Levei um tempo refletindo o que fazer, pois
qualquer reação mais violenta poria a casa em desordem. Todos estavam dormindo
e não era momento propício à algazarra. O estado lastimável do coitado me deu
dó.
Éramos
àquela hora da madrugada dois ébrios no mínimo carentes de compreensão. Ele, o
ratinho, certamente, mais do que eu. Por isso, abri-lhe a porta. Mal e mal
conseguiu escapar por ela.
-
Talvez o ar da madrugada consiga refazê-lo. – pensei.
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