Entre as ramagens é audível
o hino turbulento da noite,
a refrega opressa do mar;
Delirantes as estrelas trafegam
no cosmos vazio e os cavaleiros
andantes da noite se exaurem;
Nenhuma expectativa para além
da rua inerte e deserta, embalada
pelo ciciar dos grilos aqui e ali;
Sonoro e augusto o silêncio perpassa
a noite, e situar-se é o problema,
viver é uma experiência torturante;
"Amanhã!" - diz uma mulher à
janela,
um riso se esboça em seu rosto morto,
um riso que assinala a rua silente;
Que mortalha há de revestir o cadáver
desse riso ou que palavras hão de lhe
fazer coro no âmago da pressaga noite?
"Nada há que fazer!" - diz o
cavalheiro
soturno em sua costumeira andança
no labirinto sem fim da cidade;
Tétrico e cômico segue ao sabor
do vento opressivo que vem do mar,
que lhe fala uma linguagem morta;
"Nada há por fazer!" - sussurra-lhe
o vento em sua expressão cotidiana
na noite confinada e lastimosa;
Entre as ramagens, porém, sobe o hino
salvífico da vida, triunfando dos
rumores funestos que vêm da noite.
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