Num
dia desses, quando chovia e trovejava, liguei para o meu amigo poeta, C.
Ronald, que o chamo na intimidade de Carlinhos, para travar um papo como sempre
o fazemos, sem assunto escolhido ou que nasça no curso da conversa. Foi quando
lhe sugeri que compusesse um poema tendo como fundo a trovoada ou os trovões, que
me arrisquei a fazer, poeta menor que sou; não fui muito feliz. Mas ele que é
verdadeiramente poeta compôs o que segue:
“Céu
agora escuro que carrega,
não confere o dia que nós queremos,
mas só nuvens envenenadas;
o
bisneto inútil da brisa embravece
sobre
os telhados de longe.
Estavas
ali a comemorar a linda tarde.
O
sol se entranha em si mesmo,
há
um silêncio em seu peito, o sol
se
deita na inveja instalada da hora mais quente.
Então
começa a chuva forte,
o
poema avança sem horizonte ou rima.
Apenas
estrondos da revolta de baixo acima.
Risca
rápido o raio que cai em nosso mundo
deixando
a trovoada como semente”.
A
linguagem desse poema prescinde de qualquer comentário para bem se poder
expressar sua qualidade. A poesia difere da prosa exatamente porque os elementos
que a compõem são necessariamente diferentes ou livres. E essa liberdade é absoluta,
não encontra os escolhos da prosa, em que tudo deve estar mais ou menos arrumado
sob regras predeterminadas.
O
que o poema de Carlinhos objetiva é exatamente a forma mais adequada ao seu intento
de produzi-lo. E, a meu ver, atingiu-o em plenitude.
Na
poesia pouco importam os caminhos eleitos para expressar o poema. Todos são válidos,
dependendo somente de que levem ao poema. Ou expressem a beleza. Ou aquilo a
que se propõe um verdadeiro poema.
O
tratamento do tema em poesia (a trovoada) é extremamente difícil e complicado.
Dei-lhe, de propósito, o mote e me parece que alcançou o alvo melhor do que era
possível prever ou desejar.
O
poema, com muita honra para mim, (é dito pelo autor no cabeçalho) me é dedicado,
especialmente, razão maior de cultivá-lo e guardá-lo com muito carinho.
(jan/11)
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