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Monday, August 19, 2013

A TROVOADA - Hamilton Alves



 
Num dia desses, quando chovia e trovejava, liguei para o meu amigo poeta, C. Ronald, que o chamo na intimidade de Carlinhos, para travar um papo como sempre o fazemos, sem assunto escolhido ou que nasça no curso da conversa. Foi quando lhe sugeri que compusesse um poema tendo como fundo a trovoada ou os trovões, que me arrisquei a fazer, poeta menor que sou; não fui muito feliz. Mas ele que é verdadeiramente poeta compôs o que segue:

“Céu agora escuro que carrega,
 não confere o dia que nós queremos,
 mas só nuvens envenenadas;
o bisneto inútil da brisa embravece
sobre os telhados de longe.
Estavas ali a comemorar a linda tarde.
O sol se entranha em si mesmo,
há um silêncio em seu  peito, o sol
se deita na inveja instalada da hora mais quente.
Então começa a chuva forte,
o poema avança sem horizonte ou rima.
Apenas estrondos da revolta de baixo acima.
Risca rápido o raio que cai em nosso mundo
deixando a trovoada como semente”.

A linguagem desse poema prescinde de qualquer comentário para bem se poder expressar sua qualidade. A poesia difere da prosa exatamente porque os elementos que a compõem são necessariamente diferentes ou livres. E essa liberdade é absoluta, não encontra os escolhos da prosa, em que tudo deve estar mais ou menos arrumado sob regras predeterminadas.
O que o poema de Carlinhos objetiva é exatamente a forma mais adequada ao seu intento de produzi-lo. E, a meu ver, atingiu-o em plenitude.
Na poesia pouco importam os caminhos eleitos para expressar o poema. Todos são válidos, dependendo somente de que levem ao poema. Ou expressem a beleza. Ou aquilo a que se propõe um verdadeiro poema.
O tratamento do tema em poesia (a trovoada) é extremamente difícil e complicado. Dei-lhe, de propósito, o mote e me parece que alcançou o alvo melhor do que era possível prever ou desejar.
O poema, com muita honra para mim, (é dito pelo autor no cabeçalho) me é dedicado, especialmente, razão maior de cultivá-lo e guardá-lo com muito carinho.
(jan/11)

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