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Saturday, August 3, 2013

DEFINITIVAMENTE FALSOS


Falsas as flores
sobre um armário velho
batido de sol à tarde
cuja luz entra pela janela
da sala, transpassando
a cortina opaca, de um tecido
muito leve e diáfano;

Falso também é o gato de feltro
deitado no sofá onde uma mulher
velha costuma passar as tardes
tricotando uma colcha de cama;

Falsa ainda é uma cópia
muito ruim de um quadro
de Miró, que leva uma bonita
moldura e que, igual às flores,
recebe com intensidade
os coruscantes raios solares;

Falsos, convém dizer, são meus
passos dentro dessa casa
a medo de fazer barulho à senhoria
que agora faz a sesta
após o lauto almoço de sábado;

Falsos os poemas
que um esforçado poeta
me dá pra ler; não obstante
seu empenho a poesia neles
contida é de má qualidade;

O homem que vejo a esta
hora na rua, na dobra
de uma esquina, com um casaco
branco e uma calça preta,
cabisbaixo, triste, a passos
lentos, compõe ele também
um quadro definitivamente falso.


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