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Sunday, August 11, 2013

UM HOMEM DO MAR - Hamilton Alves





Numa manhã fria e chuvosa um homem caminha pela praia. Caminhar dá a impressão de movimento. Melhor seria dizer que anda a esmo ou em círculo numa área pequena, que não terá mais que alguns poucos metros de raio.
Traz um chapéu de pano à cabeça, com traje tradicional, paletó, calça, um tamanco, nada mais.
A certa hora, adiantou-se até à beira do mar. Fitou-o, como se nele buscasse um apoio qualquer, uma resposta a uma dúvida ou qualquer coisa desse tipo. Depois, voltou-se para onde tinha vindo. Ficou alguns instantes parado. Subiu a uma pedra.
Houve um tempo em que fora um homem do mar, um pescador, que fazia boa pescaria, com balaios cheios de peixes. Agora não vai mais à pesca. Era uma forma de equilibrar o orçamento doméstico. Hoje, aposentado, não precisa mais valer-se disso.
Fico observando-o em seus movimentos.
Volta-se para próximo de uma casa que já foi sua morada. Examina-a, como se examinasse o próprio passado. Atenta aos detalhes.
Contempla o jardim com flores e pequenas árvores.
Em um certo momento, perco-o de vista. Entre nós se interpõe uma árvore, que foi há pouco podada.
- Que fará ali solitário?
- Ou que espécie de preocupação o perturba?
Ainda anda de um lado e outro, sem fixar-se a nada.
Olha numa direção, a seguir em outra. Nada parece interessá-lo.
Volta-se mais uma vez ao mar.
O mar não tem nenhum segredo para ele, velho homem do mar que foi.
O mar, agora, significa provavelmente não mais que uma fuga ou uma forma de evadir-se de si mesmo. Ou um refúgio qualquer. Quem é que pode saber?
Parece dar-se por satisfeito de tudo que viu e observou. Nada parece atraí-lo ou lhe despertar maior atenção.
O mar não lhe diz nada.
Olha-o com um sentimento que nem ele próprio talvez saiba exprimir.

(set/10)
                                                          
                                                          
                                                                                                                       

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