Numa
manhã fria e chuvosa um homem caminha pela praia. Caminhar dá a impressão de
movimento. Melhor seria dizer que anda a esmo ou em círculo numa área pequena,
que não terá mais que alguns poucos metros de raio.
Traz
um chapéu de pano à cabeça, com traje tradicional, paletó, calça, um tamanco,
nada mais.
A
certa hora, adiantou-se até à beira do mar. Fitou-o, como se nele buscasse um
apoio qualquer, uma resposta a uma dúvida ou qualquer coisa desse tipo. Depois,
voltou-se para onde tinha vindo. Ficou alguns instantes parado. Subiu a uma
pedra.
Houve
um tempo em que fora um homem do mar, um pescador, que fazia boa pescaria, com
balaios cheios de peixes. Agora não vai mais à pesca. Era uma forma de equilibrar
o orçamento doméstico. Hoje, aposentado, não precisa mais valer-se disso.
Fico
observando-o em seus movimentos.
Volta-se
para próximo de uma casa que já foi sua morada. Examina-a, como se examinasse o
próprio passado. Atenta aos detalhes.
Contempla
o jardim com flores e pequenas árvores.
Em
um certo momento, perco-o de vista. Entre nós se interpõe uma árvore, que foi
há pouco podada.
-
Que fará ali solitário?
-
Ou que espécie de preocupação o perturba?
Ainda
anda de um lado e outro, sem fixar-se a nada.
Olha
numa direção, a seguir em
outra. Nada parece interessá-lo.
Volta-se
mais uma vez ao mar.
O
mar não tem nenhum segredo para ele, velho homem do mar que foi.
O
mar, agora, significa provavelmente não mais que uma fuga ou uma forma de
evadir-se de si mesmo. Ou um refúgio qualquer. Quem é que pode saber?
Parece
dar-se por satisfeito de tudo que viu e observou. Nada parece atraí-lo ou lhe
despertar maior atenção.
O
mar não lhe diz nada.
Olha-o
com um sentimento que nem ele próprio talvez saiba exprimir.
(set/10)
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