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Saturday, September 21, 2013

A ASTRÓLOGA - Hamilton Alves

  
Num jornal em que trabalhei há muitos anos, o “Diário da Manhã,” dirigido pelo meu querido e saudoso amigo escritor Zedar Perfeito da Silva, havia uma seção de astrologia. Conheci a astróloga, que era uma pessoa amável, que só fazia aquela coluninha prevendo o destino zodiacal das pessoas e nada mais.
Num de nossos papos diários, pois frequentava a redação a horas regulares para entregar sua matéria, púnhamo-nos a conversar sobre os mais diferentes assuntos.
Foi exatamente numa dessas ocasiões que sugeriu que grafasse meu nome “Hamilton” sem o “H”.
Claro que não adotei a sugestão, embora também me parecesse que grafar meu nome sem “H” o tornaria mais simples ou menos sofisticado ou menos parecido com nome de americano ou com a pronúncia em inglês que a grafia sugere.
De vez em quando, tenho a tentação de aderir à mudança por ela proposta faz tantos anos. Não acho simpático grafar meu nome com “H”. Parece meio pedante. Mas não tenho, obviamente, nenhuma culpa por isso.
Minha mãe, certa vez, falando sobre a escolha de meu nome, me contou a história, que, por ser muito íntima e pertencer ao acervo de dados secretos da família, não revelarei. Pode ser coisa banal (de fato o é), mas há coisas sobre as quais se devem guardar o devido sigilo e não se expor assim publicamente.
Venho aguentando esse nome (aguentando é modo de dizer). Não tenho nada contra meu nome. Há até quem o considere bonito. Conheço vários xarás que o grafam como eu o faço. E nem por isso vivem às turras com seu nome. Até pelo contrário. Honram-se muito de usá-lo. Embora concordem que a eliminação do “H” poderia trazê-lo para mais próximo de nosso espírito de brasilidade. E menos americanidade.
Nada disse à astróloga quando me recomendou a supressão do “H”. De mim para comigo disse que levaria por diante meu “H” ainda que, como ela previsse, isso poderia me levar a não ter boa sorte na vida.
- Com “Amilton”, sem o “H”, você irá de vento em popa na vida.
Não levei tal prognóstico, claro, minimamente a sério.
Estava disposto a arrostar todas as dificuldades e adversidades com o meu “H” de batismo.
Não é o nome que faz a pessoa (pensei sempre), mas o contrário.
Veja-se, por exemplo, um nome como “Juscelino”. Quem poderia crer que o detentor de um nome desses se tornaria o maior Presidente que nosso país já teve?
Vou abrir levemente a cortina em torno de minha privacidade: quando vejo meu nome nos jornais ou impresso (confesso-o) desagrada-me o “H”.
Por que então conservá-lo?
Por que não acolher o conselho da astróloga?
Não o faço por uma única razão: não posso alterá-lo juridicamente. Não há fundamento legal para fazê-lo. Caso contrário, poderia até tentá-lo.
Mas a essa altura da vida tenho que conviver com o “H”, para o bem ou para o mal.
                                  

(agosto/08)



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