Total Pageviews

Friday, September 20, 2013

EU E BEBU -Hamilton Alves



Há muitos anos, num livro muito bem impresso, não me lembro de que editora, li pela primeira vez uma crônica de Rubem Braga, por quem sempre nutri admiração, que, como a outros ledores, certamente, me marcou para sempre, com o título de “Eu e Bebu na hora neutra da madrugada”. Só o título dispensa maiores comentários quanto a sua beleza.
A história de Bebu (que é o apelido que Rubem Braga dá ao diabo) resume-se num encontro que teve com o quimbinga numa certa madrugada num bar do Rio. Começam entre si um diálogo. Braga passa a lhe chamar de Bebu quando a conversa esquenta e não há mais lugar a tratamento cerimonioso.
Em duas páginas e meia ou três a crônica segue em alto diapasão até o fim.
Foi uma das melhores crônicas que li (eu que sempre fui apreciador do gênero, a tal ponto que, a partir de certo momento, comecei também a cultivá-lo).
Outros cronistas, que muito aprecio, têm tido trabalhos igualmente grandiosos. Poderia citar crônicas de Drummond, Bandeira, José Carlos Oliveira, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Silveira de Souza, Barreiros Filho (estes dois últimos nossos escritores conterrâneos), que igualmente deixaram marcas definitivas de sua qualidade literária. Nem vou dizer que “Eu e Bebu na hora neutra da madrugada” teria sido superior às demais. É muito difícil estabelecer padrões de qualidade na literatura, notadamente nesse gênero tão polêmico. Mas não tenho a menor dúvida em dizer que essa do Braga é um dos momentos grandiosos da crônica.
Trata-se de um verdadeiro achado literário o fato de um cronista ter como tema um diálogo com o diabo num momento realmente neutro (entre o dia e a noite) num lugar qualquer. Nada pode ser mais interessante, divertido ou curioso do que um encontro (embora, claro, fictício) desses.
O diabo sempre foi um personagem que nos aguçou (ou tem aguçado) a imaginação.
É uma página de Rubem Braga que aparece em várias antologias de crônicas e em algumas que ele mesmo editou.
A forma como Braga conduz a história revela uma arte única na formulação de perguntas e respostas, que é uma verdadeira aula para quem se inicia no aprendizado das letras ou pretende seguir carreira idêntica.
Curioso é que o texto que pela primeira vez li, na sua fórmula impressa, não o vi mais repetido em outras edições (como numa recente que adquiri), que, a meu ver, o empobreceu um pouco. Revelou-me que o tratamento gráfico de um trabalho literário tem tudo a ver com sua qualidade.
Evidentemente que tem muito pouco a perder com isso a crônica famosa do Braga.

(agosto/09)

                                               

No comments:

Post a Comment