Não
quero de modo algum desfeitear o merecimento de Vargas Llosa por ter recebido o
prêmio Nobel de literatura das mãos do rei da Suécia, empertigado, metido numa fatiota
preta, com gravata de borboleta branca e uma camisa luzidia igualmente branca,
parecendo uma ave emplumada.
Ali
estava ele feito um dom João de Salão para receber a honraria, representada por
1,4 milhões de dólares, o que é uma grana que, à primeira vista, pode assustar,
mas que, sem dúvida, enche de alegria uma conta corrente de qualquer cristão.
Saramago
foi recebê-lo, se não me falha a memória, em traje também de gala, de smoking.
Só lhe faltou ter comparecido de cartola, como era, antigamente, o complemento
desse traje.
Não
sei como Garcia Marques se apresentou para idêntica solenidade.
Lembro-me,
nessa altura, de um escritor que o recusou – Jean Paul Sartre, o nunca assaz
louvado Jean Paul Sartre.
Como
explicar-se a renúncia de Sartre à tanta grana?
Simone
de Beauvoir explicou que Sartre não gostava de dinheiro.
O
que faria ele com 1,4 milhões de dólares? Ao tempo em que o ganhou, a mufunfa
era menor, mas devia mais ou menos equivaler ao montante atual.
O
que é que um homem da altura intelectual de Sartre faria com tanto dinheiro?
Não sou capaz de imaginar.
Não sou capaz de imaginar.
Vivia
com a cabeça nas nuvens, elucubrando sobre teorias filosóficas, até dar com uma
que o celebrizou – a do existencialismo, que corresponde à ideia da
contingência e, por consequência, por ela, segundo ele, o homem está condenado
a ser livre.
Teoria
que foi mal interpretada em nosso país, por exemplo, quando um compositor de
carnaval lançou a marchinha, interpretada por Emilinha Borba, da “Chiquita Bacana,
que se veste com uma casca de banana nanica, existencialista, com toda a razão,
só faz o que manda o seu coração”.
A
teoria existencialista de Sartre envolvia um humanismo, do homem contingente e,
portanto, condenado a ser livre. Com isso, o destino estava em suas mãos.
Um
pouco falso isso, mas afinal era a teoria de um gênio.
Sartre
deixou o mundo em suspenso quando se anunciou que recusara o Nobel.
Tantos
o querem, tantos o disputam, Sartre foi diferente: deu uma banana para o rei da
Suécia e para uma considerável fortuna.
(dez/10).
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