Vou
eu agora, na pretensão de ditar regras sobre escrever crônica, enfileirar
algumas palavras em torno dessa arte, que não é tão simples como se julga.
Na
verdade, não vou dizer nada que pareça ser uma aula sobre o tema, mas recorrer
a exemplos de grandes cronistas, cujas crônicas até hoje continuam sendo
modelos de como compor uma.
A
crônica tem um ritmo
Sem
esse ritmo poderá ser tudo, menos crônica.
É
o mesmo que dizer-se que tem um modelo próprio, uma forma de ser, uma certa
leveza, uma espontaneidade de seus termos, de sua frase, de suas palavras, de
seus achados.
É
assim como uma espécie de rápido bilhete que se escreve ao sabor das primeiras
impulsões que vêm à cabeça.
Nada
calculado, tudo dito de uma vez só, sem muito refletir.
Quando,
no meu estrito caso, levo tempo para compor uma crônica, sei que vai sair uma
porcaria.
Mas
quando engreno e tudo sai como um sopro de improviso, como uma espécie de jazz
session – esses grandes inventores de uma música que empolga ainda agora o mundo
e tantos aficionados da música - aí sei que tudo vai dar certo, que chegarei ao
fim de forma que me reconheço no que escrevi.
A
crônica, para dizer tudo numa palavra só, tem seu esquema.
Ou
se adota ou se vai infalivelmente perder pelos caminhos.
Nunca
se vai encontrar a fórmula de dizer as coisas.
Quem
é que alcançou essa qualidade entre nós? Não vou citar nomes para não melindrar
ninguém no caso de uma exclusão. Mas temos uma meia dúzia de craques locais que
têm (ou descobriram) a arte de conduzir uma crônica ao seu bom destino.
Assim
como qualquer outra coisa neste mundo, a crônica tem seus condimentos
específicos.
Quem
sabia escrever uma crônica bem ao jeito de como deve ser era José Mauro Mattos,
meu diletíssimo amigo, poeta em tempo integral, que tive com um punhado de suas
crônicas, escritas em negrito, em uma coluna, para o desaparecido jornal do meu
amigo Jayro Callado, “A Gazeta”, (que tempos!) que me foram confiadas por sua
mulher, querida amiga Lourdes. Andei de Herodes a Pilatos para publicá-las em
livro, mas cadê apoio para empreitadas culturais nesta Ilha dos Ocasos Raros?
Perdemos
para sempre a chance de reler as belas crônicas do Zé Mauro, que eram, sim, o
modelo perfeito de como deve ser uma crônica.
(mar/10)
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