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Monday, September 30, 2013

A ARTE DE ESCREVER CRÔNICA - Hamilton Alves

  
Vou eu agora, na pretensão de ditar regras sobre escrever crônica, enfileirar algumas palavras em torno dessa arte, que não é tão simples como se julga.
Na verdade, não vou dizer nada que pareça ser uma aula sobre o tema, mas recorrer a exemplos de grandes cronistas, cujas crônicas até hoje continuam sendo modelos de como compor uma.
A crônica tem um ritmo
Sem esse ritmo poderá ser tudo, menos crônica.
É o mesmo que dizer-se que tem um modelo próprio, uma forma de ser, uma certa leveza, uma espontaneidade de seus termos, de sua frase, de suas palavras, de seus achados.
É assim como uma espécie de rápido bilhete que se escreve ao sabor das primeiras impulsões que vêm à cabeça.
Nada calculado, tudo dito de uma vez só, sem muito refletir.
Quando, no meu estrito caso, levo tempo para compor uma crônica, sei que vai sair uma porcaria.
Mas quando engreno e tudo sai como um sopro de improviso, como uma espécie de jazz session – esses grandes inventores de uma música que empolga ainda agora o mundo e tantos aficionados da música - aí sei que tudo vai dar certo, que chegarei ao fim de forma que me reconheço no que escrevi.
A crônica, para dizer tudo numa palavra só, tem seu esquema.
Ou se adota ou se vai infalivelmente perder pelos caminhos.
Nunca se vai encontrar a fórmula de dizer as coisas.
Quem é que alcançou essa qualidade entre nós? Não vou citar nomes para não melindrar ninguém no caso de uma exclusão. Mas temos uma meia dúzia de craques locais que têm (ou descobriram) a arte de conduzir uma crônica ao seu bom destino.
Assim como qualquer outra coisa neste mundo, a crônica tem seus condimentos específicos.
Quem sabia escrever uma crônica bem ao jeito de como deve ser era José Mauro Mattos, meu diletíssimo amigo, poeta em tempo integral, que tive com um punhado de suas crônicas, escritas em negrito, em uma coluna, para o desaparecido jornal do meu amigo Jayro Callado, “A Gazeta”, (que tempos!) que me foram confiadas por sua mulher, querida amiga Lourdes. Andei de Herodes a Pilatos para publicá-las em livro, mas cadê apoio para empreitadas culturais nesta Ilha dos Ocasos Raros?
Perdemos para sempre a chance de reler as belas crônicas do Zé Mauro, que eram, sim, o modelo perfeito de como deve ser uma crônica.


(mar/10)

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