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Thursday, October 17, 2013

ALDEMIR - Hamilton Alves


Em algum lugar suponho que já escrevi a história que segue. Nem é, a rigor, história, a bem dizer, é um fato desses corriqueiros que vive um jornalista ou um homem interessado em arte.
Acompanhei a uma viagem a São Paulo, faz uns poucos anos, um velho amigo. Não vou me referir ao ônibus que nos levou até lá, que cheirava mal por todos os cantos. Nem muito menos sobre a conversa molesta que me foi proporcionada por dois casais, meus vizinhos de banco, que, além disso, fumaram todo o estoque dos cigarros que traziam para o meu infortúnio de não fumante. Pouco se lhes dava que, bem à frente deles, houvesse uma recomendação impressa de que era proibido fumar.
Quando chegamos a São Paulo, olhei à rua e a primeira cena vista foi de um sujeito bêbedo, sob a bruma do amanhecer, que falava ao vento.
Além dos propósitos que levara meu amigo à Paulicéia, incumbia-lhe comprar um sapato especial, com certas características de forma e cor, recomendado pelo filho.
Percorremos algumas sapatarias do centro de São Paulo com esse fim. Já me dava por vencido de tanta andança feita em busca do tal sapato.
Até que entramos na Rua 15 de Março, muito conhecida (ou não será esse o nome da tal rua?), em que, na vitrine, me deparei com um mural de um desenho magnífico de um sapateiro, que batia o salto de um sapato numa forma.
Logo de cara identifiquei o pintor. Tratava-se de uma obra belíssima de Aldemir Martins, que se especializou em desenhar gatos, que andou ganhando prêmio até na bienal de Veneza.
Havia o detalhe, não explicado, que metade do mural era coberto com um pano. Por isso, chamei o gerente (ou uma pessoa que circulava no local) e lhe pedi informações por que tal acontecia.
Disse-me que me entendesse com outra pessoa, esta presumivelmente o gerente. Perguntei-lhe por que se encobria metade do mural.
Disse que não tinha a menor ideia. O proprietário da loja não estava presente, que podia me esclarecer sobre o caso.
Indaguei-lhe se saiba quem era o autor do mural. Também nada sabia sobre isso.
Foi quando lhe informei:
- Esse pintor é Aldemir Martins, um dos principais artistas visuais conhecidos e muito premiado.
Fez uma cara de espanto.
Dois meses depois, voltei a São Paulo com o mesmo amigo e para o mesmo fim que ali o levara da primeira vez. Passamos na dita sapataria onde estava exposto o mural de Aldemir. Só que agora todo o mural estava a descoberto. O que me levou a crer que valera minha referência de que a obra pertencia a um grande pintor.


(ago/10)

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