Em
algum lugar suponho que já escrevi a história que segue. Nem é, a rigor,
história, a bem dizer, é um fato desses corriqueiros que vive um jornalista ou um
homem interessado em arte.
Acompanhei
a uma viagem a São Paulo, faz uns poucos anos, um velho amigo. Não vou me
referir ao ônibus que nos levou até lá, que cheirava mal por todos os cantos.
Nem muito menos sobre a conversa molesta que me foi proporcionada por dois
casais, meus vizinhos de banco, que, além disso, fumaram todo o estoque dos
cigarros que traziam para o meu infortúnio de não fumante. Pouco se lhes dava
que, bem à frente deles, houvesse uma recomendação impressa de que era proibido
fumar.
Quando
chegamos a São Paulo, olhei à rua e a primeira cena vista foi de um sujeito
bêbedo, sob a bruma do amanhecer, que falava ao vento.
Além
dos propósitos que levara meu amigo à Paulicéia, incumbia-lhe comprar um sapato
especial, com certas características de forma e cor, recomendado pelo filho.
Percorremos
algumas sapatarias do centro de São Paulo com esse fim. Já me dava por vencido
de tanta andança feita em busca do tal sapato.
Até
que entramos na Rua 15 de Março, muito conhecida (ou não será esse o nome da
tal rua?), em que, na vitrine, me deparei com um mural de um desenho magnífico
de um sapateiro, que batia o salto de um sapato numa forma.
Logo
de cara identifiquei o pintor. Tratava-se de uma obra belíssima de Aldemir
Martins, que se especializou em desenhar gatos, que andou ganhando prêmio até
na bienal de Veneza.
Havia
o detalhe, não explicado, que metade do mural era coberto com um pano. Por
isso, chamei o gerente (ou uma pessoa que circulava no local) e lhe pedi
informações por que tal acontecia.
Disse-me
que me entendesse com outra pessoa, esta presumivelmente o gerente.
Perguntei-lhe por que se encobria metade do mural.
Disse
que não tinha a menor ideia. O proprietário da loja não estava presente, que
podia me esclarecer sobre o caso.
Indaguei-lhe
se saiba quem era o autor do mural. Também nada sabia sobre isso.
Foi
quando lhe informei:
-
Esse pintor é Aldemir Martins, um dos principais artistas visuais conhecidos e
muito premiado.
Fez
uma cara de espanto.
Dois
meses depois, voltei a São Paulo com o mesmo amigo e para o mesmo fim que ali o
levara da primeira vez. Passamos na dita sapataria onde estava exposto o mural
de Aldemir. Só que agora todo o mural estava a descoberto. O que me levou a
crer que valera minha referência de que a obra pertencia a um grande pintor.
(ago/10)
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