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Tuesday, October 8, 2013

DUCHAMP - Hamilton Alves


A obra de Marcel Duchamp vem sendo polemizada desde seu surgimento na cena artística. Ainda há dias li uma resenha de jornal em que se punha em xeque o ready-made que ele descobriu ou inventou. Ou, como os franceses o chamam, “object trouvé”.
Foi mais longe em sua iconoclastia: pintou um bigode no retrato da Monalisa, de Miguel Ângelo. Discute-se ou pergunta-se com que sentido teria feito isso. Ora, Duchamp dizia que a arte de cavalete estava encerrada e que o fator retiniano não poderia mais preponderar na arte. A obra se destina, mais que tudo, à reflexão e menos à contemplação ou ao gozo visual.
Descobriu o óbvio, ou seja, que todas as coisas têm formas. Daí ter descoberto que o penico, que foi recusado numa mostra feita, em Paris, no salão dos independentes, acabasse sendo consagrado como obra de arte, ocupando um lugar numa das salas do Museu do Louvre, com a assinatura de R. Mutt.
Um visitante do museu urinou no penico de Duchamp e pagou uma multa de 400 mil dólares por ter incorrido nesse atentado à sacralidade da obra. Em sua defesa, alegou que tinha seguido à risca a doutrina de Duchamp, mas isso não lhe valeu de nada.
Outro fato foi que a roda de bicicleta, que também transformou em obra de arte, que está exposta no MASP (Museu de Arte de São Paulo), foi jogada no lixo por sua filha, quando a viu jogada num canto e, pior, enferrujada. (a primitiva, essa ora exposta no MASP é uma cópia ou é outra; qualquer roda de bicicleta pode substituir a primitiva; não há nada de original entre a primeira e as seguintes que lhe ocuparam o lugar em outros museus).
Tem outros feitos mais arrojados ainda. Pôs numa cesta vários objetos de tudo quanto era espécie e apresentou-a como obra de arte numa exposição se não me engano em Nova York.
O fato é que Duchamp queira-se ou não, abriu um novo episódio na história da arte. Ou simplesmente acabou com o conceito de arte. O que é predominante, em nosso tempo, é a anti-arte. Seguiu-se, como conseqüência natural, o fenômeno das instalações, que são o reflexo das teorias duchampianas.
Duchamp deu alguma contribuição à arte?
De certo modo sim. Ele abriu nova perspectiva ao fenômeno arte, libertando a arte da rigidez dos conceitos fechados ou das escolas todas que o aprisionavam numa fórmula que só valia para seus adeptos, como o impressionismo, fauvismo, expressionismo, cubismo, dadaísmo, surrealismo, etc. Cada uma delas tinha e tem um suporte teórico, que a limita.
O “ready made”, tal como descoberto por Duchamp, revelou que a forma é arte ou arte é forma. Mas com isso criou-se um impasse: nada mais é arte e tudo é arte. Chega-se, assim, a uma contradição na própria definição do que seja arte.
Com isso, mais que uma contradição, confinou-se o conceito de arte a um beco sem saída. Se tudo é arte e nada é arte, conclui-se que a arte foi pro brejo.
Vivemos o clima ou o triunfo das teorias de Duchamp, com as instalações, que se apresentam umas diferentes de outras, mas dentro do mesmo espírito de concepção. A pergunta é: para onde caminhará a arte?

Quem o saberá.

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