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Monday, October 28, 2013

CARNELUTTI, ASDRÚBAL, MEIRELLES - Hamilton Alves


Hoje, foi o dia em que choveu a troca de meu nome ou a confusão de minha pessoa com outras. Ou fez-se isso de brincadeira ou a sério. De nenhum deles sou conhecido de agora ou de outra época qualquer, a não ser um único que me pareceu de fisionomia familiar. Foi o que, com mais efusão, quando me encontrou ao sair de uma livraria, com um livro de Cesare Pavese debaixo do braço, me saudou:
- Olá, Carnelutti, você por aqui?!...
Deixei correr a confusão (se confusão), como se não tivesse me dado por achado. Ou se aceitasse a identidade que acabara de me pespegar.
Mas depois que apressadamente desceu rua abaixo – a Jerônimo Coelho – numa tarde de sol escaldante, fiquei ruminando com os meus botões:
- Quem será esse Carnelutti?
Ocorreu-me que Carnelutti foi um grande jurista italiano. Mas isso evidentemente não mudava nada o fato de ter me sentido contrafeito de ser assim chamado.
Também confundo pessoas. Isso é freqüente me ocorrer.
Quando me aproximava da garagem onde deixara estacionado o carro, um sujeito alto, que vinha sobraçando uma pasta, me perguntou sobre a localização de um hotel.
Expliquei-lhe que devia descer a Álvaro de Carvalho, entrar à direita na Felipe Schmidt, o hotel procurado ficava duas ou três quadras adiante.
- Obrigado, seu Asdrúbal!
- Asdrúbal? – me perguntei. Quase estive na iminência de lhe dizer que Asdrúbal era ... mas me contive.           
Lembrava-me que tinha que fazer umas compras, que me foram recomendadas. Para isso recebi um telefonema me refrescando a memória.
Entro no supermercado. Há um reboliço de gente. As filas se encompridam nos caixas.
Um sujeito calvo me olha fixo, me conta sua desdita, que tivera uns problemas nas duas pernas, mas agora se sente melhor, andou uns tempos de bengala, ainda a trazia numa das mãos, mas que estava enfrentando tudo com muita galhardia e ânimo forte.
- Pra que fraquejar, né, Meirelles?
- Só me faltava mais essa!...
O cara sorriu-me, abraçou-me, disse que, se até o natal não nos encontrássemos, me desejava boas festas e um feliz ano novo.
Fiquei esperando que acabassem os abraços para lhe dizer que estava havendo um pequeno engano: eu não era o Meirelles de modo algum.
Mas para remate ainda disse:
- Bons tempos aqueles, hein, Meirelles?!...
Asdrúbal, Carnelutti, Meirelles, durma-se com um barulho desses!

(dez/09).                                            


                                               

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