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Wednesday, October 23, 2013

CENTENÁRIO DE MACHADO - Hamilton Alves


Há um livro circulando nas livrarias, organizado por Rinaldo de Fernandes, editado por Geração Editorial, que envolve críticas ou análises de alguns contos de Machado de Assis, no decurso de seu centenário de morte.
Desfilam vários autores que assinam esses trabalhos, uns conhecidos, outros pouco conhecidos e outros tantos, para mim pelo menos, absolutamente desconhecidos.
Não vou, evidentemente, mencionar uns e outros. Além dos contos referidos são incluídos também os romances Don Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas como objeto desses estudos.
Mas o fato que me chamou a atenção foi a escolha ou a seleção dos contos escolhidos para esse trabalho de pesquisa ou de comentário. Cito-os: 1) Missa do galo; 2) A cartomante; 3) O espelho; 4) Noite de almirante; 5) A causa secreta; 6) Pai contra Mãe; 7) O alienista; 8) Uns braços; 9) O enfermeiro; e, finalmente, 10) Teoria do medalhão.
Logo me ocorre verificar que contos superiores a alguns dos mencionados nessa lista ficaram incompreensivelmente de fora, o que deve, certamente, ter sido objeto de estranheza de machadianos respeitáveis ou admiradores da obra do eminente escritor. Reporto-me, por exemplo, a três excluídos e que, obviamente, por sua qualidade excepcional, de modo algum se justifica que o tivessem sido: 1) A igreja do diabo, 2) Idéias de Canário e 3) Eterno, que eu sem pestanejar poria no lugar de alguns dos acima mencionados.
Sei bem que as escolhas nem sempre podem seguir um critério de valor único ou de um só padrão de gosto ou preferência. Isso varia, certamente, de pessoa para pessoa. Mas dois desses contos que mencionei (A igreja do diabo e Idéias de canário) são de teor tão especial (ou até especialíssimo), de uma grandeza tal, que o fato causa, sem dúvida, estranheza, tratando-se de uma obra seleta, que primou por convocar os críticos mais ilustres e mais credenciados para prestarem essa homenagem justíssima a um dos maiores vultos de nossas letras.
Na verdade, no caso de “Idéias de canário”, que li numa idade já de certa madureza (aquisição: 26 de junho de 1959), que foi publicado com a antologia “Páginas Recolhidas”, que reúne talvez seus melhores contos, não se explica o motivo pelo qual esse conto não tenha merecido destaque dos estudiosos e conhecedores da  obra de Machado. Diria, sem vacilar, que pode figurar ao lado de Missa do galo, Teoria do Medalhão e A igreja do diabo, que são os meus preferidos, sendo que, como se pode ver, esse último não está entre os que constam da dita antologia ora publicada em homenagem ao centenário do (não, não vou dizer do bruxo de Cosme Velho) fundador da ABL.
Não tem explicação sequer razoável tal exclusão.
Deixo no ar esse registro com certo intuito provocativo.
Há pouco, causou-me estranheza que um homem com o cabedal de leitura (sendo um dos maiores bibliófilos do país) de João Mindlin, perguntado sobre qual o melhor conto de Machado, numa entrevista há pouco concedida ao Estadão,  disse ser “A cartomante”.
Dir-se-á que a escolha é livre.
Acho que não é tão livre assim. Há que se ter critério.
De modo algum se pode aceitar que esse conto rivalize com os melhores produzidos por Machado. Não se pode deixar de considerar Missa do galo, Teoria do medalhão, A igreja do diabo e Idéias de canário, que têm lugar de honra assegurado na galeria machadiana de contos.        

                                    

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