Há
um livro circulando nas livrarias, organizado por Rinaldo de Fernandes, editado
por Geração Editorial, que envolve críticas ou análises de alguns contos de
Machado de Assis, no decurso de seu centenário de morte.
Desfilam
vários autores que assinam esses trabalhos, uns conhecidos, outros pouco
conhecidos e outros tantos, para mim pelo menos, absolutamente desconhecidos.
Não
vou, evidentemente, mencionar uns e outros. Além dos contos referidos são incluídos
também os romances Don Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas como objeto
desses estudos.
Mas
o fato que me chamou a atenção foi a escolha ou a seleção dos contos escolhidos
para esse trabalho de pesquisa ou de comentário. Cito-os: 1) Missa do galo; 2)
A cartomante; 3) O espelho; 4) Noite de almirante; 5) A causa secreta; 6) Pai
contra Mãe; 7) O alienista; 8) Uns braços; 9) O enfermeiro; e, finalmente, 10)
Teoria do medalhão.
Logo
me ocorre verificar que contos superiores a alguns dos mencionados nessa lista
ficaram incompreensivelmente de fora, o que deve, certamente, ter sido objeto
de estranheza de machadianos respeitáveis ou admiradores da obra do eminente
escritor. Reporto-me, por exemplo, a três excluídos e que, obviamente, por sua
qualidade excepcional, de modo algum se justifica que o tivessem sido: 1) A
igreja do diabo, 2) Idéias de Canário e 3) Eterno, que eu sem pestanejar poria
no lugar de alguns dos acima mencionados.
Sei
bem que as escolhas nem sempre podem seguir um critério de valor único ou de um
só padrão de gosto ou preferência. Isso varia, certamente, de pessoa para
pessoa. Mas dois desses contos que mencionei (A igreja do diabo e Idéias de
canário) são de teor tão especial (ou até especialíssimo), de uma grandeza tal,
que o fato causa, sem dúvida, estranheza, tratando-se de uma obra seleta, que
primou por convocar os críticos mais ilustres e mais credenciados para
prestarem essa homenagem justíssima a um dos maiores vultos de nossas letras.
Na
verdade, no caso de “Idéias de canário”, que li numa idade já de certa madureza
(aquisição: 26 de junho de 1959), que foi publicado com a antologia “Páginas
Recolhidas”, que reúne talvez seus melhores contos, não se explica o motivo
pelo qual esse conto não tenha merecido destaque dos estudiosos e conhecedores
da obra de Machado. Diria, sem vacilar, que
pode figurar ao lado de Missa do galo, Teoria do Medalhão e A igreja do diabo,
que são os meus preferidos, sendo que, como se pode ver, esse último não está
entre os que constam da dita antologia ora publicada em homenagem ao centenário
do (não, não vou dizer do bruxo de Cosme Velho) fundador da ABL.
Não
tem explicação sequer razoável tal exclusão.
Deixo
no ar esse registro com certo intuito provocativo.
Há
pouco, causou-me estranheza que um homem com o cabedal de leitura (sendo um dos
maiores bibliófilos do país) de João Mindlin, perguntado sobre qual o melhor
conto de Machado, numa entrevista há pouco concedida ao Estadão, disse ser “A cartomante”.
Dir-se-á
que a escolha é livre.
Acho
que não é tão livre assim. Há que se ter critério.
De
modo algum se pode aceitar que esse conto rivalize com os melhores produzidos
por Machado. Não se pode deixar de considerar Missa do galo, Teoria do
medalhão, A igreja do diabo e Idéias de canário, que têm lugar de honra
assegurado na galeria machadiana de contos.
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