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Saturday, October 5, 2013

CARANGUEJO DE PRAIA - Hamilton Alves

                                   
O leitor alguma vez foi apresentado a essa criatura fenomenal que é o caranguejo de praia? Não? Então não pode imaginar de que coisa extraordinária se trata.
Pois o caranguejo de praia é formado (ou constituído) apenas de osso (ou espinha ou cartilagem). Com dois olhos levantados em cima da cabeça, ergue-os em todas as direções. Se alguém se aproxima dele, volta aqueles pequenos holofotes sobre a pessoa que, eventualmente, - segundo ele – pode ameaçá-lo.
Se o susto for muito grande, corre rapidamente para uma cova próxima, na qual se sente protegido, hábil e penosamente construída. Instala-se bem lá no fundo. Não se imagina a profundidade da cova, que pode ser rasa. A ideia que se tem é que é funda. Ali é seu reduto. Ou a forma de escapar de qualquer perigo. Dali sai para espairecer em volta. Ou para certamente um reconhecimento do terreno. Ou na coleta de alimentos. É impossível imaginar que se alimente apenas dos detritos da própria cova.
Em geral, quando surge à praia de alguma forma me acerco dele para examiná-lo nos detalhes. Convivemos pacificamente numa área de um metro quadrado.
Mas fica sempre à espreita, temeroso de uma maldade qualquer.
Anda de lado, como todo o caranguejo. Mostra uma velocidade incrível para suas proporções físicas, a ponto de não se conseguir pegá-lo. A não ser que, sobre ele, se jogue uma armadilha, aprisionando-o. Mas quem terá coragem de molestá-lo em sua liberdade de ir e vir?
A forma como vive (ou de como foi estruturado) é um desafio à lógica (ou à biologia).
Se se desloca no espaço, obviamente, deverá ter uma complexa formação nervosa. Mas feita de que? – eis o irrespondível.
Por que se assusta? Por que teme a aproximação de uma pessoa ou outro bicho? Como pode ser sensível ao mínimo ruído que se faça?
Faz algum tempo que não nos encontramos.
É mais comum vê-lo no curso do verão ou da primavera; não é tão fácil em outras estações.  Nem mesmo verificar-se o trabalho de suas pequenas covas.
Já o vi trabalhando a cova à superfície.
Fica escavando com as perninhas a areia, de certo dando o trabalho por concluído.  Ou não chegará nunca a concluí-lo. Haverá mais coisas a fazer no fundo.
O caranguejo, feito de osso (ou cartilagem) ou sei lá de que material, é mais um mistério da natureza.
Para que, meu Deus, existe um ser estranho desses?
            Outro dia, descobrindo-o à praia, lancei-lhe a pergunta:
            - Para que existes?
            - Sou mais um enigma do universo. Os homens pensam que sabem tudo, mas não sabem nada.
            Com tal resposta, afastou-se para próximo da cova, onde ficou com as antenas ligadas, de prontidão para qualquer emergência.
                                                                      
(março/09)                                                               


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