O
leitor alguma vez foi apresentado a essa criatura fenomenal que é o caranguejo
de praia? Não? Então não pode imaginar de que coisa extraordinária se trata.
Pois
o caranguejo de praia é formado (ou constituído) apenas de osso (ou espinha ou
cartilagem). Com dois olhos levantados em cima da cabeça, ergue-os em todas as
direções. Se alguém se aproxima dele, volta aqueles pequenos holofotes sobre a
pessoa que, eventualmente, - segundo ele – pode ameaçá-lo.
Se
o susto for muito grande, corre rapidamente para uma cova próxima, na qual se
sente protegido, hábil e penosamente construída. Instala-se bem lá no fundo. Não
se imagina a profundidade da cova, que pode ser rasa. A ideia que se tem é que
é funda. Ali é seu reduto. Ou a forma de escapar de qualquer perigo. Dali sai
para espairecer em volta. Ou
para certamente um reconhecimento do terreno. Ou na coleta de alimentos. É
impossível imaginar que se alimente apenas dos detritos da própria cova.
Em
geral, quando surge à praia de alguma forma me acerco dele para examiná-lo nos
detalhes. Convivemos pacificamente numa área de um metro quadrado.
Mas
fica sempre à espreita, temeroso de uma maldade qualquer.
Anda
de lado, como todo o caranguejo. Mostra uma velocidade incrível para suas
proporções físicas, a ponto de não se conseguir pegá-lo. A não ser que, sobre
ele, se jogue uma armadilha, aprisionando-o. Mas quem terá coragem de
molestá-lo em sua liberdade de ir e vir?
A
forma como vive (ou de como foi estruturado) é um desafio à lógica (ou à
biologia).
Se
se desloca no espaço, obviamente, deverá ter uma complexa formação nervosa. Mas
feita de que? – eis o irrespondível.
Por
que se assusta? Por que teme a aproximação de uma pessoa ou outro bicho? Como
pode ser sensível ao mínimo ruído que se faça?
Faz
algum tempo que não nos encontramos.
É
mais comum vê-lo no curso do verão ou da primavera; não é tão fácil em outras
estações. Nem mesmo verificar-se o
trabalho de suas pequenas covas.
Já
o vi trabalhando a cova à superfície.
Fica
escavando com as perninhas a areia, de certo dando o trabalho por concluído. Ou não chegará nunca a concluí-lo. Haverá
mais coisas a fazer no fundo.
O
caranguejo, feito de osso (ou cartilagem) ou sei lá de que material, é mais um
mistério da natureza.
Para
que, meu Deus, existe um ser estranho desses?
Outro dia, descobrindo-o à praia,
lancei-lhe a pergunta:
- Para que existes?
- Sou mais um enigma do universo. Os
homens pensam que sabem tudo, mas não sabem nada.
Com tal resposta, afastou-se para
próximo da cova, onde ficou com as antenas ligadas, de prontidão para qualquer
emergência.
(março/09)
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