Manezinhos,
sempre existimos. Mas quem inventou oficialmente essa categoria foi Aldírio Simões,
que nos deixou de uma maneira triste e inesperada, quando estava no auge de sua
performance como animador de eventos e jornalista.
Entrei
para o time dos “Manés” eleitos pelo Aldírio, indicado pelo Chico Pereira,
recebendo a gaiola simbólica, já faz algum tempo.
Meu
padrinho foi Roberto Carvalho, filho do Ilmar. Não poderia ter tido melhor
padrinho para tal ocasião. Uma foto marcou o fato histórico.
Certa
feita, ouvi de um de nossos “Manés” mais típicos o comentário de que o apelido
de “Manezinho” que se põe a nossa gente tem um teor pejorativo.
Não
entendeu nada do que seja um “Manezinho” autêntico. Claro, tem os falsos e
verdadeiros “Manés”. Os falsos são gente como eu; os verdadeiros estão sumindo
no ralo do tempo. Mas ainda há bastante sobrando por aí. É só dar uma volta pelo
interior da Ilha. O “Mané” típico tem fala própria, açoriana, custa-se a entender,
tão rápido emite suas frases curtíssimas, como um código verbal muito próprio.
O “Mané ” verdadeiro tem um tipo que o distingue de qualquer outra criatura. A
culinária do “Mané” é outra revelação de sua índole, em que predomina o peixe
frito com pirão de jacuba e outras iguarias semelhantes.
Os
falsos “Manés” têm tiques semelhantes ao do autêntico. Por exemplo, sotaque
parecido. Falamos, como se diz, cantado. Têm uma cara reveladora de nossa “manezice”.
Um estilo de vida. Nossa preguiça ou indolência ou nosso jeitinho para tornar
ainda mais simples a vida. Nosso gosto pelo mar e todos os seus seres.
Dizer-se
(ou como disse esse amigo, que é “Mané” falso também) que a palavra guarda um
sentido pejorativo é puro engano.
O
que se quer, no fundo, segundo essa opinião, é tornar nosso ilhéu um caipira,
um bocó ou coisa parecida.
“Manezinho”
é, sobretudo, um estilo ou uma postura ou uma forma de conceber a vida. Ou hábitos
arraigados de longa data que marcam o ilhéu.
No
meio de mil pessoas é possível destacar o “manezinho”, pertença ele a qualquer
das duas categorias.
Tais
são sua distinção, sua fala, seu tipo, sua maneira pessoal de ser e existir.
O
último remanescente dos “Manés” puro sangue, aqui pelas redondezas de Santo
Antonio, o Agostinho, era, antes de tudo, um santo homem, de uma pureza sem
igual.
Agostinho
era o “manezinho” cinco estrelas.
Encantava-me
quando o recebia em minha casa.
Essas
pessoas lindas estão sumindo para dar lugar aos “manezinhos” que menos o são ou
que não têm o direito de ostentar esse título com a mesma qualificação.
A
concepção de vida do verdadeiro “manezinho” é outra história, digna de figurar
num tratado de sociologia.
Mas
quem se habilitará a empreender esse resgate da figura do “manezinho”?
Cada
vez que, pelas esquinas da vida, cai um desses grandes e legítimos “manezinhos”,
a Ilha vai se descaracterizando de um dos seus grandes valores culturais.
(julho/08).
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