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Saturday, October 26, 2013

MANEZINHOS - Hamilton Alves

  
Manezinhos, sempre existimos. Mas quem inventou oficialmente essa categoria foi Aldírio Simões, que nos deixou de uma maneira triste e inesperada, quando estava no auge de sua performance como animador de eventos e jornalista.
Entrei para o time dos “Manés” eleitos pelo Aldírio, indicado pelo Chico Pereira, recebendo a gaiola simbólica, já faz algum tempo.
Meu padrinho foi Roberto Carvalho, filho do Ilmar. Não poderia ter tido melhor padrinho para tal ocasião. Uma foto marcou o fato histórico.
Certa feita, ouvi de um de nossos “Manés” mais típicos o comentário de que o apelido de “Manezinho” que se põe a nossa gente tem um teor pejorativo.
Não entendeu nada do que seja um “Manezinho” autêntico. Claro, tem os falsos e verdadeiros “Manés”. Os falsos são gente como eu; os verdadeiros estão sumindo no ralo do tempo. Mas ainda há bastante sobrando por aí. É só dar uma volta pelo interior da Ilha. O “Mané” típico tem fala própria, açoriana, custa-se a entender, tão rápido emite suas frases curtíssimas, como um código verbal muito próprio. O “Mané ” verdadeiro tem um tipo que o distingue de qualquer outra criatura. A culinária do “Mané” é outra revelação de sua índole, em que predomina o peixe frito com pirão de jacuba e outras iguarias semelhantes.
Os falsos “Manés” têm tiques semelhantes ao do autêntico. Por exemplo, sotaque parecido. Falamos, como se diz, cantado. Têm uma cara reveladora de nossa “manezice”. Um estilo de vida. Nossa preguiça ou indolência ou nosso jeitinho para tornar ainda mais simples a vida. Nosso gosto pelo mar e todos os seus seres.
Dizer-se (ou como disse esse amigo, que é “Mané” falso também) que a palavra guarda um sentido pejorativo é puro engano.
O que se quer, no fundo, segundo essa opinião, é tornar nosso ilhéu um caipira, um bocó ou coisa parecida.
“Manezinho” é, sobretudo, um estilo ou uma postura ou uma forma de conceber a vida. Ou hábitos arraigados de longa data que marcam o ilhéu.
No meio de mil pessoas é possível destacar o “manezinho”, pertença ele a qualquer das duas categorias.
Tais são sua distinção, sua fala, seu tipo, sua maneira pessoal de ser e existir.
O último remanescente dos “Manés” puro sangue, aqui pelas redondezas de Santo Antonio, o Agostinho, era, antes de tudo, um santo homem, de uma pureza sem igual.
Agostinho era o “manezinho” cinco estrelas.
Encantava-me quando o recebia em minha casa.
Essas pessoas lindas estão sumindo para dar lugar aos “manezinhos” que menos o são ou que não têm o direito de ostentar esse título com a mesma qualificação.
A concepção de vida do verdadeiro “manezinho” é outra história, digna de figurar num tratado de sociologia.
Mas quem se habilitará a empreender esse resgate da figura do “manezinho”?
Cada vez que, pelas esquinas da vida, cai um desses grandes e legítimos “manezinhos”, a Ilha vai se descaracterizando de um dos seus grandes valores culturais.

(julho/08).

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