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Wednesday, October 30, 2013

DETETIVES - Hamilton Alves


Não fui nem sou adepto da literatura policial, mas tenho uma boa quilometragem de leitura de algumas obras, consideradas até primas, de grandes autores do gênero, como Agatha Christie, com seu Hercule Poirot (um homem pequenino, agasalhado até as orelhas, e do qual tudo que se podia ver era a ponta avermelhada do nariz e as pontas de um bigode curvo, voltados para cima), Simenon com seu Maigret, de Dashiell Hammett com seu Samuel Spade, que tinha o maxilar longo e ossudo, seu queixo em V proeminente sob o V mais flexível da boca. Os olhos amarelos pardos eram horizontais. O motivo V era retomado por espessas sobrancelhas saindo de duas rugas gêmeas sobre o nariz adunco e o cabelo castanho claro descia das têmporas altas e achatadas, em ponta sobre a testa.
Essa descrição de Sam é feita logo no início do clássico “Falcão Maltês”, que deu origem a outro clássico, esse do cinema, “Relíquia Macabra”, com Humprhrey Bogart à frente, no papel de Sam Spade. Obviamente que um sujeito com esses traços está longe de ser bonito. Mas isso, para o fim desta crônica, não vem ao caso. Um detetive não é, a rigor, um homem bonito. Como não o é Poirot, tal como o descreve Agatha Christie também no início do clássico “Assassinato no Expresso Oriente”. Conan Doyle, ao que sei, não descreveu fisicamente o personagem Sherlock Holmes, a não ser quanto à forma de se trajar e ao uso do cachimbo. Assim como não se sabe (ao menos não sei) de que Edgar Allan Poe tivesse dado nome a um personagem único de suas novelas policiais, gênero que criou. Chesterton criou Padre Brown, um detetive literariamente muito conhecido, embora tivesse particularmente pouca ou nenhuma convivência com ele. Borges e Byoi Casares também escreveram novelas policiais, mas segundo sei não criaram um personagem definido e característico como os citados.
Refiro-me a alguns detetives notórios que me vêm à lembrança; há outros, como se sabe.
Mas por que, afinal, essa referência a alguns dos personagens clássicos da literatura policial?

Leonardo DiCaprio banca o detetive num filme que está em cartaz no momento nos cinemas de todo o país, “Ilha do Medo” (Shutter Island), dirigido por Martin Scorcese, um grande cineasta, que já produziu tantos clássicos em seu “tour” pelo cinema.
Num jornal recente, o ator fala de sua participação nesse filme, de como o encarou, do que trata e outras questões, que o levam ao mistério do desaparecimento de uma mulher e de seu próprio mistério. Passa de investigá-la à investigação de si mesmo.
Sam Spade tem a cara que Deus lhe deu, como vimos pela descrição de seu criador, que Humprhey Bogart está longe de representar. Tem traços bem diferentes do personagem da novela.
Poderia imaginar DiCaprio fazendo qualquer papel, menos o de detetive.
Não tem o que os franceses chamam de “physique du role” (físico do papel).
Ou será um detetive bem fora da linha tradicional (se é que há tradição nessa linhagem).
Ou em outras palavras: não convence como tal. Ou estarei muito enganado.
Em todo o caso, porei, até ver o filme, as barbas de molho.

(março/10).               
                                                

                                                                                                

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